Está aqui
Comandos Africanos: “Os portugueses traíram-nos, fomos abandonados sem piedade”
Quando nos encontramos pela primeira vez, Mário está sentado no alpendre da casa onde nasceu, em Mansoa, na Guiné-Bissau. O seu corpo magro e periclitante é uma miragem do homem fardado, forte e de olhar vivo, que nos mira da fotografia pendurada na parede da sala. Uma juventude congelada que lhe embarga a voz: “Como é possível que eu já tenha sido assim?”
Depois de ter sido preso e torturado, depois de ter escapado ao “inferno”, Mário Úmaro Sani iniciou uma fuga que contou mais de 40 anos e o levou a percorrer quase toda a África Ocidental. Voltou em 2017 para esperar a morte e, assim, poder fechar o círculo de uma vida-calvário.
O “crime” que Mário cometeu foi ter integrado, em 1971, a primeira Companhia de Comandos Africanos das Forças Armadas portuguesas na Guiné. Num contexto em que a tropa era obrigatória para todos os jovens com mais de 18 anos, os Comandos Africanos foram um grupo de elite, de recrutamento local, criado pelo então Governador da província, António de Spínola, para fazer face à intensificação da guerra. Homens fisicamente robustos, capazes de enfrentar as dificuldades do terreno, passaram a ser os escolhidos para tomar a dianteira das operações mais arriscadas. Spínola dizia-lhes que, quando a guerra terminasse, seriam eles quem ficariam à frente dos desígnios da Guiné.
Com as independências e a retirada das tropas metropolitanas de África, os africanos que incorporaram o exército português foram deixados para trás pelo país ao qual juraram fidelidade; e considerados traidores de raça e de classe pelas novas ordens políticas. Enquanto em Angola a maioria acabou assimilada pelas tropas locais, em Moçambique se constituíram Comissões de Verdade e Justiça e foram feitos pedidos de desculpa públicos, na Guiné-Bissau estes homens foram perseguidos, torturados e fuzilados.
Mário Sani é um dos mais de 6001 Comandos Africanos das Forças Armadas portuguesas na Guiné a quem Portugal abandonou à sua sorte, depois da colónia que explorava ter conquistado a independência. Um dos mais de 600 Comandos Africanos que o Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo-Verde (PAIGC) perseguiu e matou, por considerá-los uma ameaça à nova ordem. Um dos mais de 600 Comandos Africanos a quem, no Acordo de Argel, documento que reconhece a independência da Guiné-Bissau, o Estado português se compromete a pagar “pensões de sangue, de invalidez e de reforma a que tenham direito quaisquer cidadãos da República da Guiné-Bissau por motivo de serviços prestados às Forças Armadas portuguesas”.
Durante muito tempo, Mário acreditou que o país que julgava ser o seu, que o país em nome do qual quase perdeu a vida, não o abandonaria. Hoje, já sem esperança, conta a sua história:
“É a primeira vez que vou contar esta história. Nunca falei com ninguém sobre isto, sempre recusei. É uma história que me faz desmoralizar completamente. Todos os dias tento esquecê-la porque, se ficar na cabeça, é um peso para mim, um peso doloroso.
Nasci em Mansoa e aqui passei toda a infância. O meu pai era chefe de cantão, chamava-se Sambu Sani, era régulo. Sabes o que é um régulo? Um régulo é o intermediário entre a autoridade portuguesa e a população. Estudei na escola católica, fiz a quarta classe em 1967. Por essa altura, não sabia nada do problema da guerra. Nós nascemos debaixo dos portugueses, não conhecíamos outros, não sabíamos qual era a finalidade da guerra do PAIGC. Se soubéssemos, talvez tivéssemos outra ideia. Mas não sabíamos. Fui à escola portuguesa, tenho educação portuguesa. Já tinha ouvido falar do PAIGC, que estava no mato, mas desconhecia os seus objetivos. Sabia simplesmente que existia e que nos atacavam, atacavam com armas pesadas, morteiros e bazucas. Atacavam e morria muita gente, matavam muita gente. Achava só que o PAIGC era agressor, só depois da independência é que soubemos qual era a sua finalidade.
Depois da escola, trabalhei na brigada de construção de estradas. De lá, fui para a tropa. No ano de 1971, 24 de janeiro de 1971, fui para a tropa. Vinha o médico militar e fazia a inspeção: se eras inválido tiravam-te, se eras apto levavam-te. Nessa altura, a vida militar era obrigatória. Aos 19 anos recensearam-me, quando fizeram o recenseamento geral na Administração do Concelho de Mansoa. Foram os portugueses que me deram o nome de Mário, antes era só Úmaro Sani. De lá, escolheram-me para ir para a tropa. És obrigado a ir, é obrigatório. Não fui por minha vontade, mas obrigado como um cidadão português. Fomos fazer a instrução em Bolama. Lá, viam quem eram os mais competentes, quem tinha mais aptidão física, e escolhiam-nos para ir para Fá Mandinga, onde se fazia a instrução dos Comandos Africanos. Perguntavam-te se gostavas dos comandos, se querias fazer a instrução e levavam-te. Tinham uma boa formação, sempre muito bem equipados, belamente fardados... Foi por isso que senti vontade de ir.
Os comandos eram os homens mais poderosos, a qualquer parte perigosa, éramos nós que íamos. Estávamos em Bissau, no Quartel de Brá. Se houvesse uma operação, íamos de helicóptero, fazíamos o assalto e voltávamos no mesmo dia a Bissau. Outras vezes, estávamos sete dias, oito dias, e regressávamos. A formação que recebemos foi muito dura, não tinha piedade. Naquele tempo, a guerra estava forte, em qualquer zona onde houvesse perigo, embaraços, eram os Comandos que iam.
Lembro-me muito bem da operação de Morés, onde fiquei ferido. Fomos lá nas vésperas do Natal. Foi na noite do dia 22 para 23 de Dezembro, atravessámos uma bolanha e fomos atacados. Perdemos um homem. Eu caí e, quando fui para me levantar, um estrondo rebentou em cima de uma árvore e um estilhaço feriu-me aqui nas costas. Foi o meu primeiro ferimento. No segundo ferimento, já usava armas, era homem de arma pesada, roquete de 37 milímetros. Estava a disparar e uma granada rebentou e apanhou-me a perna. Fiquei ferido aqui na perna, aqui. Quando encontrávamos o inimigo no mato, trazíamo-lo. Houve muitos que prendemos e trouxemos. Perguntávamos a que sector pertencia e era levado à Administração do Concelho, depois o administrador entregava-o à família.
O Spínola dizia-nos que seríamos os futuros homens da Guiné. Ele foi um grande homem, um político, tinha uma grande cabeça. Quando apanhei o estilhaço aqui nas costas, ele foi visitar-nos ao hospital e cumprimentou-nos. Até lhe dei a mão, vi-o mesmo de perto. Ele dizia-nos para ter coragem, que defendêssemos a nossa terra, que defendêssemos a nossa bandeira. Nós não sabíamos que estávamos a ser enganados.... era mobilização. Quer dizer, eu pensava que era verdade. Porque tu cresces debaixo de alguém, a Guiné é pequena, tu nasces nas mãos de alguém até seres homem, tudo o que te disserem, pensas que é verdade. Ou não? A mim, se me viesses dizer que Portugal estava contra a Guiné-Bissau, ia dizer-te que não. O Spínola falava sempre muito bem, dava-nos coragem. Até nos foi visitar em Fá Mandinga, na instrução militar. Enganou-nos.
Como disse, não sabia o porquê da guerra, depois da independência é que vi que o PAIGC lutava pela liberdade da Guiné. Agora sei que tinha toda a razão. Nós errámos porque não sabíamos. Deviam ter-nos sensibilizado, apesar de não ter sido por nossa vontade, como cidadão português era obrigado a ir para a tropa. Mas não, em vez disso, só prenderam e mataram as pessoas. Só as feras matam assim. Mataram muita gente, mataram muitos colegas dos comandos, é triste. Muitos dos meus colegas de infância perderam a vida. É triste. Triste.
Quando a guerra acabou fiquei contente, estava livre. Os portugueses não nos disseram nada, absolutamente nada. E deixaram aqui todos os papéis, todos os documentos com a nossa identificação, com os nossos nomes. O PAIGC viu aquilo e saiu à nossa procura. Se nos apanhassem, levavam-nos. Os portugueses traíram-nos, nós que os servimos fomos abandonados sem piedade. Fiquei em Bissau até 1976, tirei a carta de condução e comecei a trabalhar num táxi. Depois, vieram prender as pessoas pouco a pouco. O PAIGC pensava que os Comandos iam fazer uma revolta contra eles, mas isso nunca me passou pela cabeça nem um dia. Como é que alguém se revolta se não tem armas? Não tem nada, está indefeso? Mas não há nada a fazer, já passou, a vida é assim.
Quando vi que as coisas estavam mais complicadas, fugi para Bafatá, planeava uma forma de atravessar para a Guiné-Conacri ou para o Senegal, mas não consegui. Prenderam-me em Bafatá e levaram-me de volta para Bissau. Perguntaram porque é que eu estava nos comandos, eu disse: ‘Não sei...’; Disseram: ‘Não sabes? Então vamos-te mostrar para saberes’. Pegaram-me pela camisa, tiraram-me as calças, deixaram-me nu como um recém-nascido. Amarraram-me as mãos atrás e deitaram-me dentro do abrigo. Fiquei lá até ao dia seguinte. Desamarraram-me, estava paralisado, não podia estender os braços, não podia caminhar. Em Bissau, fui para a Segunda Esquadra e depois para a Primeira Esquadra. Lá fiquei até me levarem para Caraxe.
Passei os anos de 1976, 77, 78 na ilha de Caraxe e, no final de 79, saí. Lá, tínhamos de trabalhar obrigatoriamente, lavrávamos, fazíamos agricultura e plantávamos o que comíamos: arroz, amendoim, batata... Era um centro de martírio. A mim, escangalharam-me todo. Recebi tanta pancada que perdi todos os dentes da boca, amarravam-me com uma corda e penduravam-me como um animal... Havia muitos prisioneiros dos comandos, muitos deles morreram lá. No dia que diziam ‘julgamento popular’ já sabias que ia haver fuzilamentos. Obrigavam-te a cavar uma cova - tu é que cavavas o teu próprio buraco - onde os outros te iam enterrar quando fosses fuzilado. Depois de acabares, davam-te um tiro.
Passei mal na vida, passei por muito... Não te posso contar tudo por que passei. Sofri, até agora ainda sofro, os maus-tratos que me deram custam-me até hoje. Ando com dificuldade, a minha pele está toda mole. Quando o PAIGC te apanhava, pegavam-te e marcavam-te com uma faca: vinham à prisão, metiam a faca no fogo até ficar quente e marcavam-te. Estás a ver? Este é o sinal da faca, estás a ver?
Só consegui escapar de Caraxe porque, como aprendi a dar injeções, trabalhava como enfermeiro a tratar das feridas, ao lado de um médico cubano. Foi ele quem me ajudou. Um dia fiquei doente, ele sentiu pena e mandou-me para Bissau. Quando cheguei a Bissau vi que estava livre e fugi. Nunca mais consegui parar em lado nenhum, a cabeça nunca mais ficou bem: fui para o Senegal, depois para a Guiné-Conacri, depois para a Costa do Marfim... No fim da guerra, tinha mulher e um filho, mas nunca mais vi a minha família, eles tinham medo que se soubesse que eram meus parentes. O meu filho faleceu em 2015, com 40 anos. Teve um acidente de mota e morreu.
Não tenho ninguém que me venha ajudar. Ninguém. Não tenho possibilidades, estou doente. Sei que alguns Comandos Africanos conseguiram ir para Portugal e têm direito à reforma. Eu não tive essa sorte, como faço para chegar lá? Fui à embaixada de Portugal perguntar quais eram as possibilidades e deram-me este papel [comprovativo em como integrou o Batalhão de Comandos Africanos das Forças Armadas Portuguesas]. Perguntaram-me se tinha ido a Portugal, disse-lhes que não tinha conseguido; perguntaram-me porquê, disse-lhes que não tinha meios para isso. O que é que posso fazer? Só os portugueses me podem ajudar, mas não aceitam isso, abandonaram-nos. Abandonaram-nos a todos completamente.
Agora estou aqui com esperança de que um dia, de Portugal, venha alguém ajudar-me. Mas sei que não é possível, já tirei isso da cabeça, vou morrer com esta dor. Está a ver essa foto? Todos os dias olho para ela quando me levanto de manhã e lembro-me da minha vida. Estou cansado, desde 74, é só sofrimento, só sofrimento.”
Este artigo é parte da tese de doutoramento que a autora está a desenvolver com o apoio de uma Bolsa de Investigação (PD/BD/113924/2015) financiada pela Fundação para a Ciência e Tecnologia.
* Sofia da Palma Rodrigues é doutoranda em Pós-Colonialismos e Cidadania Global no Centro de Estudos Sociais da Universidade da Coimbra e jornalista da Divergente.pt
1 O número baseia-se numa lista com a composição do Batalhão de Comandos Africanos da Guiné, documento carimbado pela Associação de Comandos do Exército a que a autora teve acesso num arquivo privado.
Anexo | Tamanho |
---|---|
acordo_de_argel_30ag1974.pdf | 2.57 MB |
img_2088.jpg | 1.51 MB |
Comentários
Quando as colonias
Quando as colonias portuguesas na Africa, se tornaram objeto de cobiça dos soviéticos, estes com o uso em larga escala dos cubanos que fizeram o trabalho sujo de "libertar as colonias", expulsaram os descendentes de portugueses que lá viviam por séculos, condenados a se refugiarem em Portugal, felizes por estarem vivos e apenas com as roupas do corpo, assim em relação a esta gente que devemos pedir desculpas.
Parabéns por este trabalho
Parabéns por este trabalho que exigiu uma pesquisa sobre um tema difícil e já um pouco longinquo. Lamemto porém que a pesquisa nao tenha sido mais aprofundada e pertinente, fixando-se essencialnente sobre o lado e o aspeto totalmente inaceitavel da situacao em destaque. Todavia, parece-me importante e indespensavel por uma simples questão de justiça de aprofundar a pesquisa junto dos órgaos administrativos das Forças armadas Portuguesas! Nao venho de modo algum defender seja o que fôr pois é incontestável que estavamos todos enganados, nao sómente os soldados africanos que se batiam ao nosso lado, mas todos, sendo nós os primeiros. Tendo eu estado na Guiné Bissau em 1974 integrando a Companhia de Comandos 40/41 que depois de ter intervido no movimento 25 de Abril atuando no Porto, partiu para a Guiné-Bissau em 8 de Maio para render a Cia de Comandos 38 que já tinha ultrapassado o tempo de comissao. A nossa missao foi essencialnente a de garantir a manutençao da situação de paz e tranquiludade que se registava já desde o dia 26 de Abril dando assim todas as chances ás negociaçoes e acordos que já estavam em curso em Londres com O PAIGC para uma transiçao pacifica para a Independencia da Guiné-Bissau e de Cabo Verde. A minha Cie de Comandos deixou Bissau a 31 de Julho de 1974 e confirmo que a situaçao dos Comandos Africanos foi discutida com o PAIGC. A meu conhecimento foi-lhes proposto (aos comandos africanos e ao PAIGC) que para evitar prováveis futuros ressentimentos das tropas do PAICG contra os ex-militares portugueses-africanos, de virem para Portugal e serem integrados no exército português, no Regimento de Comandos da Amadora. O PAIGC defendeu que eles nao tinham nada a temer pous seriam integrados nas futuras forças armadas da Guiné-Bissau como tropas especiais, tornando-se assim as preciosas tropas de elite da Guiné-Bissau, mas se quizessem ir para Portugal, podiam, tinham a escolha! Confirmo que, a meu conhecimento, apenas cerca uma meia dúzia preferiram vir para Portugal com os Comandos portugueses (entre eles o muito conhecido Alferes Marcelino da Mata) que cruzei ainda várias vezes no Regimento de Comandos da Amadora onde eu terminei o meu serviço em Outubro de 1975. Sem dúvida alguma que o PAIGC nao respeitou os compromissos e promessas assumidas. Sabemos também que a situaçao politica na Guiné-Bissau nao ficou resolvida com a Independencia, longe disso.
Francisco Tomé,
Ex Furriel Miliciano da Companhia de Comandos 40/41.
O ferido em campanha no dia
O ferido em campanha no dia 06/07/70. Mata do Canacassala, Angola. Dois pelotões da C.caç. 2723, instalada na Fazenda Madureira. Eram mais ou menos 10,30h da manhã. Uma coluna de viaturas transporta dois pelotões para irem para uma área de teatro de guerra, local mais perigoso de Angola. Chegados ao trilho os militares saíram das viaturas, os que iam para operação. Alguns militares acompanharam os condutores no regresso ao acampamento na Madureira. Começou a progressão no terreno. Os mesmos pelotões já tinham visitado o lugar, naquele dia a tensão era maior logo o inicio, foi avançando a coluna até que chagada a uma clareira ouviu-se um disparo, um militar confessou que ouviu o zumbido do projétil do lado da orelha esquerda. um único disparo do lado dos guerrilheiros naturais de Angola, MPLA, UNITA, FNLA, não se sabe ao certo, mais tarde soubesse que era uma área controlada pelo MPLA. A coluna fez retrocesso para fora do trilho almoçou e depois seguiu a operação. A coluna passou pelo lugar onde tinha havido disparos e prosseguiu mais adiante. Um municiador do morteiro, perdeu uma granada e ao verificar a perda quis ir sozinho procurar, voltados ao sitio da emboscada curta, foi achada a granada e a coluna prosseguiu, chegados a um descampado, o que não se deseja em área de guerra, havia capim pisado, sinal de passagem de alguém por ali. O Comandante da coluna militar com a carta da região indicou o caminho a seguir, pois havia dois sentidos, chegados a mais uma clareira em rocha, para continuar seria pela vertente de um morro, o 1º. homem da coluna identificou a área como armadilhada, no entanto o Comandante insistiu que o sentido era aquele para onde a carta indicava, o militar que seguia á frente, deu outra solução, contornar o local armadilhado, mas não foi possível, o Comandante ganhou e o militar avançou, avisou que se escondessem para não serem atingidos por algum estilhaço e assim foi, a rastejar o militar prosseguiu ao acabar de rastejar chegou a uma clareira e ao colocar-se em pé acionou uma mina anti-pessoal, (engenho explosivo militar), sofreu amputação do membro inferior dtº. e fratura exposta do membro inferior esqº. São 50 anos de vida vividos assim na condição de deficiente das Forças Armadas. Bem haja pela atenção.
Acabei de ler este artigo e
Acabei de ler este artigo e fiquei profundamente comovido. Foi uma realidade incontornável: o abandono dos que serviram a nação portuguesa, ao que se dizia. Vim de Angola para Portugal no fim de outubro de 1974. Estive colocado na Escola do Sardoal como professor. Aí conheci um professor que estivera na Guiné numa companhia de Comandos. Segundo em contou, após os contactos para a Independência, a companhia recebeu ordens para entregar cerca de 42 prisioneiros da FLING, ao PAIGC. Eles informaram o Comando Militar, ainda português, que não podiam entregar os prisioneiros pois seriam liquidados. A resposta foi que tudo estava tratado, tinha havido um acordo e o PAIGC ia respeitar. O professor, na época furriel, terminou dizendo: quando os entregámos, no quartel onde estavam os militares do PAIGC, eles nem esperaram que nós saíssemos à porta de armas. Só ouvidos as rajadas de metralhadoras.
Já se passaram muitos anos, mas ainda hoje tenho esta informação em memória.
Um bom artigo, sem dúvida. O
Um bom artigo, sem dúvida. O que me espanta não é a história. É o facto do Bloco de Esquerda querer vestir a pele de carneiro para ver se ganha alguns votos mais com um argumento falacioso que “reconhece” o abandono a que chegaram os ex-combatentes da guerra do Ultramar. Todos sabemos que está na génese do BE condenar todos aqueles que participaram na guerra colonial porque consideram os ex-combatentes como inimigos do povo e acusam-nos de terem andado a matar os verdadeiros revolucionários. Como o BE quer o poder de qualquer maneira, nem que se pinte de negro tem que enganar o mais incautos. Basta ficar atento à Catarina Martins que agora já não fala com voz grossa e até já tem uma voz mais maternal para ver se hipnotiza o povo com o objetivo de arrecadar mais alguns milhares de votos já nas próximas eleições.
Sofia Palma Rodrigues:
Sofia Palma Rodrigues:
Agradecia o seu contacto pois parece desconhecer a existência do meu livro "Guerra, Paz e ...Fuzilamentos dos Guerreiros. Guiné 1970-1980/2007" Vide wikipedia, entrando com o meu nome completo- Manuel Amaro Bernardo. Email: [email protected]
a maior vergonha nacional de
a maior vergonha nacional de todos os tempos, ter abandonado os antigos comandos da guiné à sua sorte.
todos sabíamos que iriam haver vinganças e que elas acabariam por recair sobre as tropas que mais castigavam o paigc, neste caso os comandos.
devo dizer e que tendo em consideração a foto do david fardado, não me parece que ele merecesse actos de revanchismo, nem ele nem ninguem através do paigc.
pela foto exibida não me parece que ele tivesse sido um operacional "Comando". vejo-lhe o emblema na boina, mas o seu camuflado, dólman, não tem o distico, nem o tão famoso crachá, peças que faziam parte do fardamento dos comandos portugueses e que era exibido tão orgulhosamente da parte destes.
por tal, sou mesmo capaz de dizer que o pobre david foi torturado sem fazer mal a ninguém, e fazendo parte da companhia de comandos foi confundido com um operacional.
estando na 1ª companhia de comandos mesmo para dar apoio aos comandos operacionais como motorista, maqueiro, padeiro ou outra especialidade qualquer, nunca deixou de ser um português atraiçoado, e nunca merecia que o abandonassem à sua sorte, com a agravante , pelo que me é dado avaliar, ter pago pelo que outros fizeram. o nome do rapaz estava lá e vá daí colocaram-no num campo de concentração. já os comandos operacionais e famílias foram abatidos, pior que cão.
é assim este país, de mal atrangalhados condutores de fazer politica sem reino nem roque.
Adicionar novo comentário