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“Obrigado” também em galego

No recente debate de investidura de governo em Madrid, o deputado do BNG (Bloco Nacionalista Galego) terminou a sua intervenção, na qual usou algumas frases em galego, com um “obrigado”. De seguida, o primeiro-ministro Pedro Sanchez, agradeceu-lhe também com um “obrigado”.

Tanto bastou para que o nacionalismo extremista castelhano-espanhol da direita e dos franquistas do Vox, nas redes e comunicação social, iniciassem mais uma campanha contra Sanchez acusando-o de usar uma palavra portuguesa… mais uma traição à pátria…

Nestor Rego, o deputado do BNG, professor de língua e literatura galega, não usou a palavra “obrigado” por acaso. Embora “oficialmente” a palavra utilizada na Galiza seja “grazas”, muitos galegos consideram que galego e o português, tendo a mesma origem histórica na idade média, são a mesma língua (é o movimento reintegracionista). Só a separação política, com a integração da Galiza numa Espanha onde o castelhano impera, fez com que o galego e o português seguissem caminhos separados.

Durante a ditadura de Franco, o ensino e a divulgação do galego foi proibida. Mesmo na democracia, os governos regionais do PP na Galiza sempre tiveram a tentação de castelhanizar o galego e afastá-lo do português.

Um exemplo dessa diferença entre o PP e nacionalistas galegos é a própria designação do país. Oficialmente designa-se Galicia, tal como em castelhano. Mas historicamente os galegos sempre designaram a sua terra como Galiza, tal como se escreve em português, e é esta a ortografia utilizada pelos nacionalistas galegos.

O deputado galego usou a palavra “obrigado” para marcar essa integração da língua e da cultura galega no espaço linguístico da lusofonia, aspeto fundamental para a identidade da Galiza.

Esperemos que o “obrigado” de Pedro Sanchez signifique um respeito pela diversidade dos povos do estado espanhol, princípio indispensável ao novo governo de esquerdas que abre grandes esperanças de construção de uma sociedade progressista e de novos direitos sociais, única via para travar o fantasma do franquismo que ameaça a democracia.

Sobre o/a autor(a)

Professor e historiador.
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