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Eurodeputados pedem fim da venda de armas da UE à Turquia, governos recusam

Os ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia não aprovaram a proibição europeia de venda de armamento à Turquia, uma medida proposta por Marisa Matias e outros eurodeputados à Alta Representante para a Política Externa e de Segurança da UE.
Reunião dos chefes de dipomacia dos governos da UE
Reunião dos chefes de dipomacia dos governos da UE esta quarta-feira no Luxemburgo. Foto União Europeia

A reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros dos Estados-membros da União Europeia teve lugar esta segunda-feira, com o ataque da Turquia às regiões fronteiriças do nordeste da Síria na agenda. A declaração com as conclusões do encontro reitera a condenação da ação militar turca, que os governos europeus veem como um retrocesso ao processo de paz na Síria, um ataque aos esforços para derrotar o Estado Islâmico e mais uma catástrofe humanitária marcada pelo sofrimento da população civil atingida pelos combates ou forçada a fugir de onde vive.

Por entre apelos ao governo turco para regressar aos canais diplomáticos como forma de responder aos receios sobre a sua segurança, ou à comunidade internacional e ao Conselho de Segurança da ONU para pararem esta ação militar unilateral, os ministros assinalam também a posição de vários governos que proibiram a venda de material militar à Turquia após o início da incursão militar nas regiões curdas da Síria.

No entanto, os governos da UE não se comprometeram a adotar esse embargo da venda de armas ao nível europeu, como pediram vários eurodeputados, entre os quais Marisa Matias, nos dias que antecederam esta reunião. Nesse apelo dirigido a Federica Mogherini, a Alta Representante para Assuntos Externos e de Segurança da UE, os eurodeputados de várias bancadas apelavam a uma proibição europeia da exportação de armas para Turquia, bem como sanções e retirada de vistos para os responsáveis por estes abusos aos direitos humanos.

Manifestação contra agressão da Turquia aos curdos na Síria.

Manifestação junto ao Parlamento Europeu em Bruxelas esta segunda-feira. Foto Sérgio Aires.  

Noutra declaração política subscrita por dezenas de eurodeputados de vários grupos parlamentares em resposta ao ataque militar contra os curdos — e que assinala a criação de um Grupo de Amizade Curdo no Parlamento Europeu —, é reafirmada a condenação da agressão turca e apontado o dedo ao presidente Erdogan como o seu grande responsável. Por entre muitas críticas à atitude da Casa Branca ao abandonar os seus aliados, exigem a Bruxelas a imposição de “sanções económicas e diplomáticas pesadas contra a Turquia”. Entre os eurodeputados subscritores da declaração estão os bloquistas Marisa Matias e José Gusmão.

Curdos fazem acordo com Assad e Putin

Abandonados pelas tropas norte-americanas, os responsáveis pelas regiões auto-geridas do Norte e do Leste da Síria viraram-se para outras partes beligerantes no conflito sírio para poderem sobreviver ao poder militar da aviação turca e das milícias rebeldes sírias apoiadas por Erdogan.

O acordo entre os curdos e os governos sírio e russo foi alcançado no domingo e prevê a entrada das tropas leais a Bashar al-Assad nas cidades ameaçadas junto à fronteira com a Turquia. Para além do apoio nos combates que se avizinham, os curdos têm esperança que esse apoio militar lhes permita tomar de volta várias localidades, como Afrin, alvo de outra incursão turca em março do ano passado.

Num artigo em que justifica a negociação com os antigos inimigos de muitas batalhas, o comandante das Forças Democráticas Sírias (SDF) lembra o sacrifício de 11 mil milicianos na luta contra o Estado Islâmico e a al Qaeda e o sistema político de localidades auto-geridas e plurais que são espaços de convivência entre curdos, árabes e cristãos sírios. Mazloum Abdi explica que a saída dos EUA obriga a “reconsiderar as nossas alianças” e que as propostas russas e sírias “podem salvar as vidas de milhões de pessoas que vivem sob a nossa proteção”. “Para ser honesto, é difícil saber em quem confiar”, confessa o chefe militar.

“Sabemos que teremos de fazer compromissos dolorosos com Moscovo e Bashar al-Assad se escolhermos o caminho de trabalhar em conjunto. Mas se a escolha for entre esses compromissos e o genocídio do nosso povo, vamos escolher de certeza a vida para o nosso povo”, prossegue o chefe militar. O artigo foi publicado este domingo na Foreign Policy, com o intuito de sensibilizar a opinião pública norte-americana para as consequências da retirada das suas tropas sem que haja uma solução política para o conflito na Síria.

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