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Floresta: Eucaliptos têm cinco vezes mais apoio

Os programas das celuloses para plantar eucaliptos em zonas ardidas têm mais apoios de fundos governamentais e europeus do que os projetos de sementeira de floresta autóctone.
O programa da Celpa (associação da indústria papeleira) “Melhor Eucalipto” teve um apoio do ministério da Agricultura de 233.956,67 euros
O programa da Celpa (associação da indústria papeleira) “Melhor Eucalipto” teve um apoio do ministério da Agricultura de 233.956,67 euros

Segundo o DN deste domingo, a Celpa – a associação da indústria papeleira – candidatou o seu programa “Melhor Eucalipto” ao Programa de Desenvolvimento Rural (PDR) e teve um apoio do ministério da Agricultura de 233.956,67 euros (metade dos quais já recebeu por apoio direto) para um programa que custa 518.400,35 euros. O programa de defesa do eucalipto foi, pois, apoiado pelo governo em mais de 45%. Segundo o jornal, a área de atuação corresponde à área ardida, em grande medida. As celuloses dizem, nas suas ações, que cada hectare reconvertido em eucaliptal pode receber até 40% de apoio público.

O projeto Floresta Comum, para produzir árvores que são resistentes ao fogo, será apoiado pelo Estado em 43.596 euros, cinco vezes menos que o apoio ao programa Melhor Eucalipto da Celpa. O projeto Floresta Comum trabalha a partir de quatro viveiros do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), com o apoio de três entidades: a Quercus, a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) e a Associação Nacional de Municípios.

Em declarações ao DN, João Branco, presidente da Quercus, acusa o ministério da Agricultura de nada fazer de concreto para promover as plantas autóctones.

"O ministério da Agricultura usa as autóctones no discurso politicamente correto, mas nada fez ainda de concreto para as promover", afirmou João Branco, referindo ao jornal que é sempre argumentado que estas árvores têm poucas perspetivas de rentabilidade económica. "Essa ideia é totalmente falsa”, afirmaJoão Branco, esclarecendo que “não só estas árvores permitem a obtenção de lucros por si mesmas como podem criar valores económicos integrados na pastorícia e na silvicultura. Um bosque de carvalhal pode ter gado, pode produzir cogumelos e pode produzir mel, por exemplo. Um eucaliptal dá eucalipto e mais nada".

"Desde que criámos o projeto Floresta Comum, em 2012, distribuímos 858.862 árvores nativas", refere ainda João Branco, acrescentando: "só conseguimos distribuir as nativas por terrenos públicos e comunitários, nomeadamente os baldios. Os privados, que estão cada vez mais interessados em plantar autóctones, não têm onde se abastecer".

O coordenador do programa Floresta Comum, Pedro Sousa, declarou ao jornal que "só as câmaras, as juntas e as comissões de baldios apresentam candidaturas a pedir o dobro das árvores que podemos oferecer", lembrando que o Estado só possui 2% da floresta portuguesa. Pedro Sousa diz ainda: "temos sempre muitos telefonemas de proprietários que querem mudar a sua produção florestal, mas não temos como responder-lhes. Depois dos incêndios do ano passado criou-se esta consciência de que este era o tempo de mudar a floresta. As pessoas querem, mas não há árvores”.

Segundo o DN, das 30 maiores propostas portuguesas apresentadas ao PDR apenas quatro são de privados e as duas de montante mais elevado são das celuloses: um projeto da Navigator, cofinanciado em 67%, para a sua nova fábrica de Cacia; um projeto da Celtejo, que foi apoiado em 21 milhões de euros de apoio europeu, para remodelar a sua fábrica de Vila Velha de Ródão.

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