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Catarina, Iglesias e Mélenchon apelam a uma “revolução cidadã na Europa”

Reunidos em Lisboa, os líderes do Bloco de Esquerda, Podemos e França Insubmissa lançaram as bases de um novo movimento político para enfrentar a austeridade e os tratados promovidos pelas “elites de Bruxelas”.
Pablo Iglesias, Catarina Martins e Jean-Luc Mélenchon.
Pablo Iglesias, Catarina Martins e Jean-Luc Mélenchon. Foto esquerda.net

“Hoje em Lisboa damos um passo em frente. Apelamos aos povos da Europa para que se unam na tarefa de construir um movimento político internacional, popular e democrático de forma a organizarmos a defesa dos nossos direitos e a soberania dos nossos povos face a uma velha ordem, injusta e que nos conduzirá ao desastre”, diz a declaração “Agora, o povo”, subscrita e apresentada esta quinta-feira por Catarina Martins, Pablo Iglesias e Jean-Luc Mélenchon.

“Estamos a trabalhar arduamente para construir um novo projeto de organização para a Europa. Uma organização democrática, justa e equitativa que respeita a soberania dos povos” e que mobilize o “espírito de insubmissão ao atual estado de coisas, de revolta cidadã, de confiança na capacidade democrática dos nossos povos perante o extinto projeto das elites de Bruxelas”.

“Trata-se da criação de um novo movimento político europeu que ofereça uma alternativa aos nossos povos em relação aos tratados que hoje estão a impor tantas dificuldades aos países europeus”, resumiu Catarina Martins na conferência de imprensa que se seguiu à assinatura da declaração. “Podemos fazer diferente e aqui estamos: três forças políticas do sul da Europa, empenhadas em criar uma nova cooperação europeia que em vez de retirar soberania, ponha a resposta aos povos no centro da política”, afirmou a coordenadora do Bloco.

Por seu lado, Pablo Iglesias afirmou que este movimento quer dar “um passo em frente na Europa, para defender uma Europa que se fundamente nos direitos sociais, nos direitos humanos e nos direitos civis”. Para o líder do Podemos, “ante o fracasso das políticas neoliberais de austeridade na Europa”, “este movimento político que hoje nasce estende a mão a todos os setores sociais e políticos que estejam dispostos a construir uma Europa com base naqueles valores”.

Jean-Luc Mélenchon sublinhou tratar-se de um “dia de alegria” para a construção de uma alternativa política na Europa e deixou uma palavra de alerta a “uma Europa que caminha a passos largos para a guerra”. O líder da França Insumbissa voltou a estender o convite a outras organizações europeias que partilhem da análise e das propostas desta declaração para que participem neste espaço comum.


Leia aqui a declaração apresentada em Lisboa:

Agora, o povo

Declaração de Lisboa por uma revolução cidadã na Europa

A Europa nunca foi tão rica como hoje. Ao mesmo tempo, nunca foi tão desigual. Dez anos depois da explosão de uma crise financeira que os nossos povos nunca deveriam pagar, vemos que os governantes europeus nos condenaram a uma década perdida.

A aplicação dogmática, irracional e ineficaz das políticas de austeridade não conseguiu resolver nenhum dos problemas estruturais causados por esta crise. Pelo contrário, gerou muito sofrimento desnecessário aos nossos povos. Com o pretexto da crise e dos seus programas de ajustamento, os governantes tentaram desmantelar os direitos e os sistemas de bem-estar social que precisaram de décadas de lutas até serem garantidos. Condenaram gerações de jovens à imigração, ao desemprego, à precariedade e à pobreza. Atacaram com particular crueldade os mais vulneráveis, que são quem mais precisa da política e do Estado. Tentaram que nos habituássemos à ideia de que as eleições são uma escolha entre o status quo liberal e a ameaça da extrema-direita.

Chegou a hora de romper com os grilhões dos tratados europeus que impõem austeridade e promovem o dumping fiscal e social. Chegou a hora de quem acredita na democracia dar mais um passo para romper com esta espiral inaceitável. Devemos pôr um sistema económico injusto, ineficaz e insustentável ao serviço da vida e sob controlo democrático dos cidadãos. Precisamos de instituições ao serviço das liberdades civis e dos direitos sociais, que são a base da democracia. Precisamos de um movimento popular, soberano e democrático, que defenda as melhores conquistas dos nossos antepassados e chegue uma ordem social justa, viável e sustentável às gerações futuras.

Neste espírito de insubmissão ao atual estado de coisas, de revolta cidadã, de confiança na capacidade democrática dos nossos povos perante o extinto projeto das elites de Bruxelas, hoje em Lisboa damos um passo em frente. Apelamos aos povos da Europa para que se unam na tarefa de construir um movimento político internacional, popular e democrático de forma a organizarmos a defesa dos nossos direitos e a soberania dos nossos povos face a uma velha ordem, injusta e que nos conduzirá ao desastre.

Aqueles que querem a defesa da democracia económica, contra os grandes infratores e o 1% que detém mais riqueza do que todo o resto do planeta; da democracia política, contra aqueles que reavivam as bandeiras do ódio e da xenofobia; da democracia feminista, contra um sistema que discrimina diariamente e em todas as áreas da vida metade da população; da democracia ecológica, contra um sistema económico insustentável que ameaça a própria continuidade da vida no planeta; da democracia internacional e da paz, contra aqueles que querem construir mais uma vez a Europa da guerra; aqueles que defendem os direitos humanos e os princípios básicos da vida digna encontrarão um lugar neste movimento.

Estamos cansados de esperar. Estamos cansados de acreditar naqueles que nos governam de Berlim e de Bruxelas. Estamos a trabalhar arduamente para construir um novo projeto de organização para a Europa. Uma organização democrática, justa e equitativa que respeita a soberania dos povos. Uma organização que responde às nossas aspirações e necessidades. Uma nova organização ao serviço das pessoas.

      Catarina Martins                    Jean-Luc Mélenchon         Pablo Iglesias

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