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Glifosato: o sectarismo faz mal à saúde

A surpresa veio do PCP, que mudou o seu voto para se juntar à direita. Assim chumbou a proibição do uso deste herbicida cancerígeno no espaço público.

O parlamento votou hoje a proposta, mas os votos favoráveis do PS, Bloco, PEV e PAN não foram suficientes. Da direita já se sabia com o que contar, apesar de a resolução aprovada por PSD e CDS no Parlamento Europeu incluir precisamente esta restrição. A direita sempre esteve ao lado das multinacionais do agronegócio. No entanto, o voto do PCP é uma mudança da sua posição em apenas um mês. A 15 de abril foi votada a proposta do Bloco de proibir totalmente a utilização de glifosato, em espaço público e na agricultura. O PCP absteve-se. Agora, perante uma proposta mais limitada (apenas a proibição no espaço público), o PCP votou contra.

O que mudou? É que agora o seu voto fazia a diferença. Há um mês, na proposta mais ampla, o voto do PCP não era decisivo. Hoje, teria bastado o PCP repetir a abstenção para viabilizar o projeto-lei, uma vez que o PS anunciou o seu voto favorável. Quando o seu voto poderia mudar a vida das pessoas, o PCP optou por deixar à União Europeia a decisão que podia ser tomada em Portugal. A UE decide esta quinta-feira sobre a renovação da licença de glifosato que terminará a 30 de junho e a expectativa é baixa sobre a proteção da saúde pública.

Ora, nas Assembleias Legislativas Regionais dos Açores e da Madeira, o PCP apresentou propostas para a proibição total do glifosato. Em várias Assembleias Municipais, incluindo Lisboa e Almada, o PCP tem votado pela proibição do glifosato em espaço público. A Câmara Municipal de Évora, presidida pelo PCP, anunciou que já deixou de usar glifosato. Ou seja, o PCP não chumbou o projeto-lei porque a ideia era má. A proposta era má porque vinha do Bloco. É caso para dizer que o sectarismo faz mal à saúde.

Este pesticida rende 5 mil milhões de dólares por ano só à Monsanto. Sabemos bem os interesses poderosos que se afrontam com esta proposta. O Bloco continuará a lutar para que o glifosato seja proibido no espaço público e, assim que possível, também na agricultura. Quando o nosso voto faz a diferença, só responde pelo interesse da população e do meio ambiente. 

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Sobre o/a autor(a)

Biólogo. Dirigente do Bloco de Esquerda
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