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Governo corta nos transportes públicos em Lisboa

O estudo encomendado pelo governo prevê o fim de 23 carreiras da Carris, das ligações da Transtejo para a Trafaria e Seixal e acaba com a do Montijo ao fim de semana. As outras, à semelhança do Metro, vão fechar mais cedo. Os utentes falam em "recolher obrigatório" para a Margem Sul e o Bloco diz que é "um ataque sem precedentes" ao direito à mobilidade da população.
O grupo de trabalho nomeado pelo governo defende que o Metro deve andar mais devagar. Foto Paulete Matos

Segundo o Diário de Notícias, o documento já foi entregue às câmaras da Área Metropolitana de Lisboa (AML). Pedro Gonçalves, o ex-presidente da Soares da Costa que foi nomeado para coordenar o grupo de trabalho sobre reestruturação dos transportes públicos de Lisboa e Porto, diz que são "propostas de trabalho sobre as quais as autarquias darão os seus contributos" e que "o grupo de trabalho não tem nenhuma decisão tomada quanto àquilo que vai ser a proposta final a apresentar ao Governo a 30 de Novembro".

Mas o que já é conhecido do documento permite antever um corte brutal na oferta de transportes públicos na AML. Na Carris, está previsto o fim de 22 carreiras de autocarros (ver lista no fim) e da carreira do eléctrico 18, bem como o encurtamento de outras 13, para além da redução da frequência de autocarros a circular nalgumas carreiras.

No Metro de Lisboa, o horário de encerramento passa da 1h da madrugada para as 23h, com as estações dos troços Campo Grande - Odivelas e Pontinha - Amadora Este a encerrarem às 21h30. A linha Verde passa a ter apenas comboios com três carruagens, tal como toda a rede a partir das 21h30. Esta proposta também defende que o Metro ande mais devagar, passando a velocidade máxima de 60 kms/h para 45 kms/h fora dos períodos de ponta.

No transporte fluvial, a situação repete-se, com os dois cenários propostos pelo grupo de trabalho a acabarem com a ligação da capital à Trafaria/Porto Brandão. Num dos cenários, a ligação ao Seixal também é suprimida. No outro, mantém-se nos dias úteis, tal como acontece com a do Montijo, mas com tarifas mais caras. Para os utentes das ligações a Cacilhas e ao Barreiro, a proposta é de encerrarem mais cedo e reduzir a frequência ao fim de semana. A estação fluvial do Terreiro do Paço pode encerrar, concentrando-se todas as ligações no Cais do Sodré.

“Este plano representa um retrocesso de muitos e muitos anos na possibilidade de uma mobilidade das populações de forma sustentada, organizada e com opções de escolha”, defendeu Luísa Ramos, da Comissão de Utentes de Transportes da Margem Sul.   “É quase como um decretar de recolher obrigatório para quem vive na margem sul do Tejo e não pode ou não quer ter transporte individual”, acrescentou a porta-voz da Comissão de Utentes.

O documento também propõe a simplificação tarifária, com a criação dum passe Cidade e um bilhete Cidade e da tarifa plana, que permita usar a Carris e Metro pagando o mesmo. Nos serviços da CP, é proposta a criação de "tarifas por zona, independentemente da linha ou percurso", mas deve manter-se o passe CP. Ao todo, o grupo de trabalho prevê a eliminação de 114 passes combinados da CP, Carris, Metro, Rodoviária de Lisboa, Transtejo, TST e Vimeca.

Pedro Gonçalves explicou ao DN que ainda não existe uma proposta para a reestruturação dos transportes no Grande Porto devido ao maior número de operadores privados, mas ressalvou que também as autarquias aquela Área Metropolitana serão ouvidas. O presidente da Câmara de Lisboa já veio dizer que acha um "absoluto disparate" a ideia de encerrar o metro à noite e um grupo de cidadãos reagiu à notícia do encerramento da rede da madrugada e das estações de Metro com uma petição online dirigida aos órgãos do município. "Uma Capital de um país, não morre nem de dia nem de noite", dizem os mais de 2500 signatários da petição.

Na sequência das notícias sobre este estudo, o Bloco de Esquerda entregou um requerimento dirigido ao Ministro da Economia na Assembleia da República. "A ser verdade, a proposta do grupo de trabalho representa um ataque sem precedentes ao direito à mobilidade da população portuguesa e que penaliza mais as populações que mais necessitam de transporte colectivo", diz a deputada Catarina Martins, que defende que "o transporte colectivo é uma peça fundamental do desenvolvimento e da cidadania; é um garante de mobilidade, aumenta a produtividade social, diminui importações e é uma exigência da responsabilidade ambiental".
 


Lista de carreiras a suprimir, divulgada pelo Público:

10: ISEL-Pç. Chile
21: Saldanha-Moscavide Centro
22: M. Pombal-Portela
25: Est. Oriente-Prior Velho
201: Cais do Sodré-Linda-a-Velha
202: Cais do Sodré-Linda-a-Velha
203: ISEL-Boa Hora
205: Cais do Sodré-Bairro Padre Cruz
206: Cais do Sodré-Sr. Roubado (Metro)
207: Cais do Sodré-Fetais
208: Cais do Sodré-Estação Oriente
210: Cais do Sodré-Prior Velho
49: ISEL-Est. Entrecampos
76: Algés-Cruz Quebrada-Fac. Motricidade Humana
79: Olivais (circ.)
753: Pr. José Fontana-Centro Sul
797: Sapadores-Arco do Cego
799: Colégio Militar (Metro)-Alfragide Norte
745: Terreiro do Paço-Prior Velho
764: Cidade Universitária-Damaia de Cima
777: Campo Grande (Metro)-Ameixoeira
790: Gomes Freire-Príncipe Real
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18 (Eléctrico) R. Alfândega-Cemitério da Ajuda

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