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Chamem-lhe perversidade ou incoerência

Porque diabo hão-de os pensionistas e aposentados pagar o déficit da CGD?

Com o governo Passos Portas, durante dois e meio longos anos, os pensionistas e aposentados foram verdadeiramente o bobo da corte. As medidas de austeridade consubstanciadas em cortes variados sobre as reformas estiveram permanentemente na ordem do dia. Para aposentados e pensionistas, ouvir um noticiário ou ler um jornal, passou a constituir um terror. E esse terror tinha dois momentos: primeiro, era a comunicação em si mesma sempre a matraquear sobre os mesmos, mais frágeis, isolados, com maior dificuldade de organização e mobilização  e, segundo, era a confusão que se instalava. As noticias por vezes contradiziam-se, não era bem aquilo, talvez fosse, e acabava por ser sempre pior do que se podia acreditar ao primeiro embate. Um misto de sadismo e manipulação que me lembra os piores momentos da história contemporânea, portuguesa e europeia. Este regime perverso terminou em Novembro de 2015 com a formação da nova maioria parlamentar. Pensionistas e aposentados deixaram de receber uma dose diária de opressão, e se a situação não foi de imediato, e totalmente revertida, pelo menos estancou. Aos poucos, iniciou-se um novo ciclo que revelava outra consideração. A intranquilidade foi substituída por alguma calma e expectativa. Um ciclo que deveria fechar-se, conforme os casos, ou agora em Agosto ou mais para o fim do ano. Uma vez o ciclo encerrado e voltávamos ao período pré Troika.  Poderíamos, então, reequacionar os nossos problemas, repensar o nosso futuro. Muitos não acreditam, mas os seniores também têm futuro e têm todo o direito de o querer melhor.

Subitamente neste Verão, tudo se complica e nos volta a alertar. De facto, os adeptos dos princípios da Troika estão aí, resistem e voltam a atacar. No caso da CGD, um adepto encapotado da Troika e da confiança do governo. Não podia ser pior. Se não é ataque, que nome se deve dar às taxas anunciadas que vão cair impiedosamente sobre as contas dos pensionistas e aposentados existentes na CGD? Se não são de novo as medidas de terror como as impostas entre Janeiro 2013 e Setembro 2015, então o que são? Se a filosofia em definir como alvo preferencial os aposentados e pensionistas não está a ser repetida, então, como é que tudo parece um replay? A encenação é em tudo igual. A imprensa dá a notícia, confusa e mal escrita, instala o alarme. O conteúdo é péssimo, o veículo também. É a intranquilidade de volta, em todo o seu esplendor. Antes mesmo de conseguirem o aumento negociado de 10 euros, pensionistas e aposentados já estão a fazer contas à vida por causa das taxas bancárias. Até os portadores de deficiência física não escapam! Porque diabo hão-de os pensionistas e aposentados pagar o déficit da CGD? Dizia hoje um alto dirigente do sector da banca que em Portugal as taxas são muito menores que na Europa... acrescentava ele à laia de consolação! Esqueceu-se foi de puxar para o rol das suas citações os valores quer dos salários quer das reformas por essa Europa fora. Replay, replay, corta!

Estamos contra estas taxas; estamos contra estes processos troikistas; recusamos ser, de novo, o bode expiatório. Faremos esta luta contra as taxas com um ensinamento sempre presente: é que não se podem baixar as guardas, qualquer desatenção sai muito cara. A CGD terá de arranjar forma de conseguir os milhões de que precisa sem recorrer à magra bolsa de pensionistas e aposentados. Os dirigentes nomeados pelo governo, à pala duma confiança dada de bandeja, não podem destruir em duas penadas o que o mesmo governo e a maioria parlamentar têm procurado sanar. Tanta incoerência não é aceitável.

Sobre o/a autor(a)

Bibliotecária aposentada. Activista do Bloco de Esquerda. Escreve com a grafia anterior ao acordo ortográfico de 1990
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