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Mulheres de Abril: Testemunho de Aurora Rodrigues

No Reduto Sul, onde estavam os pides e não os guardas prisionais, fizeram-me uma coisa que seria incompreensível, se não fosse o objectivo de humilhar, particularmente por eu ser mulher. Despiram-me completamente. Por Aurora Rodrigues.
Foto do arquivo da PIDE - DGS.

Este testemunho foi recolhido no âmbito do projeto Mulheres de Abril, iniciado em 2018, e que compila relatos, na primeira pessoa, de mulheres antifascistas sobre a sua história de resistência e de luta contra a ditadura. Coordenação de Mariana Carneiro.


Antes de Abril

Fui presa no dia 3 de Maio de 1973, da parte da manhã, pela PSP, na Cidade Universitária em Lisboa. Tinha 21 anos e era estudante de Direito. Logo após a detenção, no Comando da PSP, quando fui identificada o agente que me vai identificar pede-me o nome e mostro-lhe o Bilhete de Identidade, “Está aí”. “Idade? Data de nascimento?” “Está aí”. “Nome do pai?” e eu ia dizendo a tudo “Está aí” e apontava o Bilhete de Identidade. Sabia que ia chegar a pergunta sobre algo que não estava lá, que era a morada e que eu não podia dizer. Quando ele me pergunta: “Morada?”, respondi “Não está aí?”. E ele disse “Não, não sabes que não?”, “Então, se não está aí é porque não é preciso” respondi eu. O homem chamou o comissário “Ela não quer dar a morada” e o comissário respondeu: “Ela lá sabe porquê”. de facto, eu sabia porquê. Não ia dar morada nenhuma, porque sabia que a Pide ia lá. Sabia a ligação entre o que a PSP me estava a perguntar e o que a Pide ia fazer a seguir. Não tinha dúvidas nenhumas que me iam levar para o Forte de Caxias, que era a prisão nos arredores de Lisboa para onde levavam naquela altura os presos políticos - as mulheres durante todo o tempo e os homens numa primeira fase, antes do “julgamento” . É que a PSP já antes me tinha detido por um dia. Não me disseram, então, “da próxima vai ser diferente”, mas ficou subentendido, dessa vez já me tinham levado para me intimidar. Não tinha dúvidas nenhumas que a PSP e as outras polícias ditas civis, ou não políticas, embora pelo menos a PSP fosse uma força militarizada e a outra (GNR) fosse uma força militar- “trabalhavam” em colaboração com a Pide, o que se confirmou. Desta vez não me levavam só para me intimidar e sabia o que ia acontecer. Sabia que eles iriam a minha casa se lhes dissesse a morada. Este raciocínio teve que ser feito praticamente desde o início. Não podia mentir, dar uma morada falsa, porque eles descobririam e obrigavam-me a dizer a verdadeira mais facilmente e não podia dizê-la porque comprometeria outras pessoas. Acabaram por ir a casa da minha tia, que era a morada que constava do processo de matrícula na Faculdade, mas eu já não morava lá e por isso apenas encontraram papéis meus, livros, coisas que lá tinha ido deixando, ao longo do tempo. Por sinal, apreenderam e figura à cabeça do auto de apreensão que lavraram, um livro de poesia de José Gomes Ferreira.

Quando chego a Caxias, fico sozinha, e esse é que deve ter sido o momento de maior perturbação. Não é um hiato, não é bem uma branca. Mas não sei exactamente quanto tempo passou desde que saí da carrinha até ter entrado na cela. Lembro-me de, antes de entrar na cela do Reduto Norte, os guardas prisionais me terem tirado os atacadores das botas, o relógio e o dinheiro. Consigo descrever perfeitamente essa primeira cela do Reduto Norte de Caxias. Depois do que tinha acontecido, foi a primeira vez que tive de me confrontar só comigo, sem pides, sem guardas, sem ninguém.

Nessa noite, ninguém me disse nada, nem me fez nada. Já era tarde. Nem houve jantar porque já tinha passado a hora. Deitei-me e dormi profundamente, por um lado porque precisava certamente, devido ao choque do que me estava a acontecer, mas também porque, com a actividade política que desenvolvia, mal dormia. Só acordei com as luzes a meio da noite.

No dia seguinte tomei duche e limpei-me com o lençol de uma das camas, que estavam feitas e limpas.

No Reduto Sul, onde estavam os pides (agentes da Pide) e não os guardas prisionais, fizeram-me uma coisa que seria incompreensível, se não fosse o objectivo de humilhar, particularmente por eu ser mulher. Despiram-me completamente. Quem me despiu foram as mulheres, mas fizeram-no numa espécie de secretaria, com indivíduos sentados a escrever à máquina, um espaço aberto.

Tenho uma ideia perfeitamente vívida de me despirem, de quando entrei na cela, mas não me lembro de me tirarem a fotografia. Mas ela existe. E nela tenho um ar sereno, mas essa serenidade com certeza foi conseguida no meio de uma perturbação muito grande, pois não tenho a mais pálida ideia das circunstâncias em que foi tirada.

No 1º interrogatório, levaram-me ao escrivão do meu processo, que, aliás, foi assim que ele se apresentou. Esse foi o único auto efectivamente lavrado por um indivíduo com uma máquina de escrever à frente, a fazer-me as perguntas, a dactilografá-las bem como aquilo que eu não lhe dizia, porque nada lhe disse.

Dessa vez, devolveram-me ao Reduto Norte, onde fiquei uma grande parte do mês sem ninguém me dizer nada. Eles, os pides, não iam lá. Levaram-me ao médico. Sempre achei que esta parte do médico tinha uma grande importância, até por aquilo que aconteceu na tortura a que mais tarde fui sujeita. Destinava-se a avaliar até que ponto e até quando é que podiam torturar sem chegar a matar.

Fiquei no Reduto Norte, numa cela que ainda lá está, é uma cela no 1º andar, que dá para o lado da frente e que fica ao fim do corredor, do lado direito de quem entra. Deixaram-me estar ali. Ninguém me dizia nada. Não apareciam pides, só os guardas prisionais, que pertenciam aos Serviços Prisionais, que ainda existem. Entravam na cela às quatro da manhã, ou hora parecida porque não tinha relógio, para fazer o “conto”, entravam e punham-me a luz duma lanterna em cima dos olhos. Ao fim do dia, faziam, “o toque das grades”, batiam nas grades, um ruído arrepiante para quem está preso. No Reduto Norte não tinha nada para fazer, pois pedi jornais mas não me deram. Ficava ali pensando no que que me tinha acontecido e no que me iria acontecer, mas não sabia o que me esperava. muito bem. Como não tinha papel, nem caneta para escrever, pedi às guardas para, com o dinheiro que me tinham tirado, comprar com que escrever. Mas era preciso uma autorização, que levou muito tempo. Foi assim que arranjei os blocos “Castelo” que depois consegui trazer para fora.

Nas cartas da minha irmã vinham os selos para eu mandar as cartas que escrevia.

Para quebrar o isolamento fiz um calendário e um relógio, mas o relógio era impraticável, porque tinha que ir movendo os ponteiros com as mãos.

Fumava e quando tive acesso ao dinheiro, para além dos blocos e da esferográfica, comprei tabaco.

Foi com as pratas que fiz os ponteiros do relógio e com o cartão dos maços fiz o mostrador.

Tentei fazer um espelho com as pratas, mas não dava. Nunca me vi a um espelho lá dentro e sentia falta de me ver. Vi-me algumas vezes, mais tarde, em reflexo num plástico transparente duma espécie de janela da porta divisória da cela, quando estava em contra-luz.

Ouvia também gritos, vindos de um bairro próximo, das mães a chamarem as crianças, tal como na minha terra. Havia uma mãe que chamava muito por um “Manel” e ouvia porque aquilo era mesmo perto.

Também ouvia às vezes música ao longe, vinda de outras celas no andar de baixo, porque nem todos os presos estavam em isolamento e alguns teriam a possibilidade de ter música.

Deixaram-me na cela para ganhar medo. Prolongavam a espera porque sabiam que a sua grande arma era o medo.

No dia 16 de Maio vieram buscar-me. Foi a primeira vez que entrei na cela de tortura. Apenas para me avisarem que me iriam buscar dali a oito dias e devolveram-me ao reduto norte.

Deixaram-me outra vez aí no reduto norte, sem ninguém me dizer nada, à espera.

Passados os oito vieram-me buscar, numa carrinha fechada, como sempre e levaram-me de novo para o Reduto Sul. Foi no dia 23 de Maio, numa quarta-feira de tarde, 20 dias depois de ter sido presa.

Meteram-me numa cela, onde fui encontrar o inspector, um indivíduo alto e forte, Américo da Silva Carvalho.

Apontando as grades imponentes duma janela, disse-me: “Estás a ver aquelas grades? Por ali não passas, a não ser em puré. Por esta porta não passas, que nós não deixamos. Portanto, é contigo. Tens duas vias, a via da colaboração e a via do sacrifício. Se escolheres a via do sacrifício, levas mais tempo mas o resultado é o mesmo”. Antes de se ir embora ainda perguntou: “Então, que via é que escolhes?”. Respondi: “Não presto declarações”. Saiu porta fora. Eu fiquei.


Aurora Rodrigues é, atualmente, Procuradora da República em Évora.
 

Eles vinham, entravam, saíam e fizeram, logo no início, uma coisa horrível. Aliás, acho que naquela polícia eles tinham formação para a tortura, tinham que ter, e para a humilhação. O que eles me fizeram foi encostar-me a uma parede – mas eram muitos, e começaram a fazer escarro ao alvo. Punham-se a escarrar a ver quem é que acertava.

A outra coisa que fizeram então foi colocarem-se dois pides, um na frente do outro, a uma certa distância, agarrarem-me pela cintura e atirarem-me, dum para o outro, no ar, como se fosse uma bola.

Naquela cela de tortura, nua, com uma mesa, cadeiras para os pides e um banco sem costas para mim, eu fiquei impedida de dormir, em privação total do sono desde aquele dia 23 de Maio até 17 dias mais tarde, em que me devolveram pela manhã ao reduto norte.

Há uma coisa que me fizeram e foi das que mais me afligiram. Nunca ouvi que tivessem feito isto a outra pessoa naquela altura em Portugal. Fizeram-no já numa fase adiantada da tortura do sono. Enchiam de água o lavatório, que estava na casa de banho e metiam-me a cabeça lá dentro. O lavatório não dava para meter a cabeça completamente, metiam-me a cara e empurravam para baixo e eu ficava a sufocar.

Eram as mulheres pides que faziam isso porque só elas é que entravam na casa de banho comigo.

Ao fim de uma noite ou duas sem dormir comecei, de certo modo, a perder o equilíbrio. A tortura ia continuando, eram dias e noites e eu estava ali. Os pides faziam turnos de umas três ou quatro horas e durante a noite eram mais longos.

Quando fui presa, tinha uma música, uma canção na cabeça, que ainda tenho de vez em quando, do José Mário Branco, que começa assim: Um e dois e três, era uma vez um soldadinho. Acho que se chama “Ronda do Soldadinho”. No meio da tortura, do interrogatório, com os pides presentes, cantava para mim: Um e dois e três, era uma vez um soldadinho. Um menino lindo que nasceu no roseiral. Os meninos lindos não nascem para fazer mal. Os senhores da guerra não matam, mandam matar. Os senhores da guerra não morrem, mandam morrer. Cantava e eles espumavam de raiva, mas eu não cantava para eles, cantava apesar deles.

Com isto assumi uma posição. Embora fosse impossível fazer de conta que eles não estavam lá, porque estavam ali a impedir-me de dormir e de fazer aquilo a que tinha direito, procurava proceder e procedia como se lá não estivessem. A eles chamava assassinos e torcionários.

O ritmo dos meus dias era imposto por eles, porque estava dentro de uma cela com eles, incomunicável, só tinha contacto com eles, mas o que dizia e o que pensava, não me podiam impor, não controlavam. Era o meu próprio ritmo. Ali não tinha papel, não tinha uma caneta, não tinha nada. As únicas coisas que tinha era o pão com que fazia as flores, se calhar porque nunca perceberam a importância disso, o pensamento e a voz, mesmo que me amordaçassem, cantaria e continuaria a pensar.

Há esta importância das coisas pequeninas, sem importância, que percebi bem pela primeira vez. Hoje, quando conto até sinto, às vezes uma espécie de pudor. Está aqui uma coisa que fiz, que me aconteceu, que fui forçada a viver, mas nunca mais ninguém me tira a noção de que nós somos capazes.

Tenho consciência de que nós somos capazes, e somos efectivamente. Podemos resistir. E é, no fundo, este sentimento que foi amplificado e se materializou nas pequenas coisas.

Era essa convicção que eu tinha e me deu força. Mas não resisti em nome de nenhum partido. Era mais do que isso. Era uma força de querer mudar e também não querer que ninguém fosse preso por minha causa. Eu sabia que se dissesse o nome de alguém, essa pessoa era presa e começando, não acabava e tinha de aguentar.

Nervosos estavam eles e a prova foi terem-me dito: “O que mais nos exaspera é a tua calma”.

Desta primeira vez, foram 16 dias, ou seja 16 períodos de 24 sobre 24 horas, de tortura do sono, e é muito tempo. Há um momento em que já não conseguia saber se algumas coisas que eles diziam eram ou não verdade, porque a partir de certa altura perde-se o discernimento e o sentido crítico. Por exemplo, eles levaram-me lá dois rapazes, que disseram que eram colegas meus da faculdade e que me conheciam, mas não os conhecia. Os tais rapazes disseram-me que devia colaborar, que devia denunciar o que sabia, que eram meus colegas. Acho que foi tudo encenação, que não eram colegas nenhuns que se prestassem a uma indignidade daquelas, mas a verdade é que apareceram dois indivíduos, dois jovens que me disseram isso. Quando falo na falta de discernimento era isto, por exemplo, não saber ver naquele momento se eram mesmo colegas ou não.

Tinha alucinações, via bichos por baixo de mim e curiosamente via e ouvia elevadores, que não existiam, a abrirem-se. Os pés e as pernas incharam e o couro cabeludo foi-se insensibilizando a partir do alto da cabeça.

Como eles abriam e liam as cartas, sabiam que o meu pai estava doente. Então começaram a dizer-me que o meu pai estava a morrer. Que, se queria ainda ver o meu pai com vida, tinha que colaborar. Fiquei muito aflita, embora procurasse não o demonstrar nem lhes respondesse.

Há quem teime em ver ou em querer que os outros vejam os torcionários como uns coitadinhos, que tinham aquele emprego. O que eu vi é que os torcionários faziam, por iniciativa própria e não apenas para cumprimento do plano de tortura, um esforço premeditado para aumentar o mal-estar dos presos e faziam-no com gosto.

A partir de certa altura, aí no décimo dia de tortura do sono, ou pouco antes, começaram a anunciar que vinham os índios, que vinha a brigada dos “índios”. Diziam que eles, os que já lá estavam, não batiam. De facto, até aí, tinham-me batido do género de dar uma bofetada e murros no estômago. Faziam isso muitas vezes, levantavam-me e davam-me um murro no estômago, mas espancamentos não tinham feito. Nessa altura começaram a dizer, com antecedência, que vinha a brigada dos índios, que eles me vinham bater, que tinha que falar, que ia falar. Era uma pergunta que eles me faziam muito, entravam por ali dentro e diziam-me: “Então, continuas fiel à palavra de ordem do Partido? Não prestas declarações?”. Também me perguntavam muitas vezes essa coisa de “não falas porque não sabes ou não falas porque não queres?” Durante muito tempo não respondia a esta pergunta. A partir de certa altura passei a dizer “Não tenho nada para dizer à Pide”. Nunca neguei qualquer filiação partidária, qualquer posição política ou ideológica, nem confirmei. Não tinha nada para lhes dizer e eles não podiam obrigar-me.

No entanto, daquela vez, não se limitaram a bater-me. Não foi uma coisa de terem chegado lá e começado a espancar-me. Começaram a anunciar que o iam fazer, com dois ou três dias de antecedência, que vinham os “índios”, a brigada dos “índios” e depois aquilo ia-se aproximando. Lembro-me que isso já era na fase em que tinha alucinações. Falavam entre si daquela brigado e do que fazia. A pide Lurdes, que fazia o papel de pide boa, explicava-me que eles eram muito maus. Que até agora, ninguém me tinha batido, mas aqueles eram diferentes, pertenciam a outra brigada, que tivera de ser chamados, “Porque tu não colaboras, portanto tiveram que os chamar, e eles vêm, e eles fazem, e já fizeram…” Eu tinha tanto medo que tinha vómitos. Sentia-me agoniada e com vómitos…Queria desmaiar, que aquilo acabasse. Mas nunca desejei morrer.

Quando começou, aquele pide da brigada que eles chamavam dos índios tinha os olhos vermelhos, esquisitos. E começou a bater. Foi uma coisa tão horrível, tão horrível, porque foi um espancamento sistemático, contínuo. Não sei quanto tempo é que ele bateu. Batia com um cassetete e com os joelhos que com certeza tinham uma protecção, no músculo, do lado de ambas as pernas, por cima da articulação dos joelhos e, na cara, batia com as mãos. Nos braços não doía tanto, talvez pela posição em que estava, porque pus as mãos nos bolsos. Não fiz nada, sentia-me balouçar com as pancadas, não caí e ia dizendo para dentro, nem sei se cheguei a dizer alto: “Isto vai acabar. Isto vai acabar”. E houve uma altura em que acabou. Quando entraram outros pides na cela, o agarraram e levaram para fora.

Quase logo a seguir perdi os sentidos.

Depois de recuperar, a tortura continuou nos mesmos moldes e no mesmo local, até perder completamente o equilíbrio e só conseguir permanecer ali, sem dormir, porque me agarravam.

Só então me devolveram ao Reduto Norte do Forte de Caxias para dormir, recuperar e voltar oito dias depois para a tortura, como voltei.

 


- Excertos do livro da autora Gente Comum – Uma História na Pide, editado por 100 Luz Castro Verde, com notas, contextualização e prefácio de Paula Godinho e António Monteiro Cardoso, adaptados para Projecto Nós-Otros, E.O.I. Vallodolid, que autoriza republicação.

*Aurora Rodrigues - nasceu na Mina de S. Domingos, concelho de Mértola, cresceu em Castro Verde; 65 anos de idade; presa em 1973 e torturada pela Pide na prisão de Caxias em 1973 por ser militante do MRPP; presa e levada de novo para a prisão de Caxias pelo COPCON em 28 de Maio de 1975, com 430 militantes e simpatizantes do MRPP; foi militante daquele partido até Março de 1977; sem quaisquer ligações ou actividades partidárias desde então; é hoje Procuradora da República em Évora.

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