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Khadafi, Assad e a esquerda
Uma importante parcela da esquerda mundial continua a sustentar as virtudes anti-imperialistas do coronel Khadafi, o líder da revolução líbia (como ele oficialmente se intitula), e a só ver nos acontecimentos naquele país a mão da agressão da Nato. O povo está com Khadafi, asseguram, e a oposição é toda comprada pela CIA.
A argumentação não é nova. Foi usada, sem procurar ser exaustivo, na Checoslováquia em 1968, e em geral em todas as revoluções que derrubaram os regimes do chamado “socialismo real” a partir da queda do Muro de Berlim.
Khadafi é diferente? Vejamos:
– O regime de Khadafi era uma ditadura. Isto é incontestável. Não havia a mais mínima liberdade de expressão, de organização, de manifestação, de formar sindicatos. Nada. Na “Jamayria” não havia partidos. Ao simular um sistema político que seria uma espécie de “assembleia permanente”, o que o coronel impunha de facto, com mão de ferro, era uma ditadura policial onde quem mandava era ele e os filhos. Um bom teste que proponho aos defensores de Khadafi: seria ou não possível formar na Líbia um partido que defendesse as vossas ideias? Já sabem a resposta: em poucas horas estariam todos presos se o tentassem, por mais que se desfizessem em elogios ao “Grande Líder”.
– Há muito que Khadafi tinha deixado de ser independente do imperialismo. A revolução de Khadafi fez parte das revoluções nacionalistas árabes dos anos 50 e 60, que se inspiraram na de Gamal Abdel Nasser do Egipto. Durante alguns anos, apesar das suas excentricidades e megalomania, o “líder da revolução” aplicou uma política que em nada agradava aos Estados Unidos. Mas depois mudou.
Nos últimos dez anos, Khadafi abriu a exploração de petróleo às grandes empresas petrolíferas estrangeiras como Repsol, Total, Eni, Occidental, PetroCanada. Depois disso, os governantes europeus pareciam fazer fila para visitar o “grande líder”: Schröder, Berlusconi, Blair, mais recentemente Sarkozy, Sócrates... Colaborou activamente com a política “anti-terrorista” de Bush depois do 11 de Setembro. Em 2008, a Líbia assinou com os EUA um acordo de cooperação que abriu o mercado líbio às grandes empresas norte-americanas, para além das companhias de petróleo. Então, o mito de um Khadafi anti-imperialista não passa disso mesmo: um mito.
– Aliás, na argumentação desta esquerda que apoia Khadafi parece que há uma espécie de buraco, negro que isola os regimes de Khadafi e de Bashar al-Assad da Primavera árabe. Não se ouviu esta esquerda dizer que os manifestantes anti-Ben Ali ou anti-Mubarak eram pagos pela CIA. Na Tunísia e no Egipto, viva a oposição, vivam as revoluções, bem como no Iémene ou no Bahrein. Na Líbia e na Síria, não.
Mas, então, por que a Nato decidiu intervir militarmente? Porque não pode dar-se ao luxo de deixar uma revolução seguir o seu curso sem influenciar os seus líderes e garantir o controlo do futuro governo. Ainda assim, são conhecidas as reservas de Obama e a resistência a que as tropas americanas encabeçassem a força. E as tentativas de negociação que foram promovidas e, ao que tudo indica, só fracassaram porque Khadafi não aceitava qualquer solução que passasse pela sua saída do poder.
Não tenho dúvidas é preciso condenar a intervenção da Nato e que deve haver líderes de forças do CNT pagos pela CIA. Mas isso invalida o carácter da mobilização anti-Khadafi? Claro que não. Também o facto de o CNT ter sido felicitado e reconhecido pela Autoridade Palestiniana e pelo Hamas não o transforma em progressista e defensor da causa palestiniana. O que será o próximo regime da Líbia ainda está para se ver e depende sobretudo do curso da revolução.
Mas Khadafi, ao que tudo indica, já é passado. O pior ainda vem pela frente: Bashar al-Assad, o homem que usa tanques e navios de guerra para massacrar a sua própria população. A oposição da Síria continua a usar as mobilizações de massa, e não a luta armada, para o denunciar. E não desiste, apesar dos massacres - pelo menos 2.200 mortos.
Assad já foi denunciado por crimes contra a Humanidade por um dos principais líderes da OLP. Será que a esquerda que o defende não vai abrir os olhos?
Comentários
Não sei qual parte relevante
Não sei qual parte relevante da esquerda mundial defende o Assad e o Khadafi como anti-im0perialistas. O que eu vejo é a maioria da esquerda querendo salvar o direito internacional, a soberania das nações e o fim da hipocrisia, afinal os dois regimes eram subsidiados pelo ocidente, por conta da estabilidade regional que traziam. Por que a NATO não atacou Madrid, Atenas, ou Londres?
Recomendo a este articulista
Recomendo a este articulista os textos de Michel Chossudovsky no globalresearch.ca sobre a real situação na Síria. E resta-me esperar que o BE deixe de, uma vez por todas, defender EXACTAMENTE o mesmo que o imperialismo, acrescentando-lhe uma retórica de esquerda. Foi assim na Jugoslávia, na Líbia e agora na Síria. Parabéns. Não é fácil, mas fazem-no bem.
Caro Vasco, Já esperava esse
Caro Vasco,
Já esperava esse tipo de insultos. Nem o colunista nem o Bloco defenderam NUNCA o mesmo que o imperialismo. Mas cabe ao difamador apresentar provas do que diz e, quem sabe, discutir argumentos. Só que isso dá muito trabalho...
Não publicar as réplicas não
Não publicar as réplicas não vale. Assim faz caminho essa sua ideia do «difamador» que não argumenta porque «dá trabalho». Fazer uma análise rigorosa da realidade sem ser pela CNN ou pela Al Jazeera também dá. Será por isso que não o faz?
Insultos? É ou não verdade
Insultos? É ou não verdade que o BE aprovou, no Parlamento Europeu, uma resolução apoiando a agressão militar à Líbia? Venham falar do tal parágrafo votado em separado, mas o que é facto é que os deputados do BE aprovaram essa resolução do Parlamento europeu. Em segundo lugar, a Síria. É óbvio desde há anos que esse país está na mira do imperialismo. Não pela falta de liberdade ou democracia (discutível, leia Chossudovsky) mas pelo papel que desempenha no médio oriente de combate a Israel e apoio às forças que se lhe opõem, designadamente o Hamas ou o Hezbollah, mas também a FPLP, por exemplo. É isso que está em causa e não qualquer «revolução» mais ou menos colorida. Os levantamentos «populares» na Síria, armados, são equipados e financiados por Israel e pela Turquia e estão a decorrer conforme um plano esboçado em 2003 pelos EUA para desestabilizar aquele país que, deverá concordar, é dos poucos na região que é essencialmente laico e cuja elite não se verga aos ditames dos EUA.
Caro Vasco, Ora que bom,
Caro Vasco,
Ora que bom, argumentos em vez de insultos! Vamos lá: a falta de democracia na Síria é, para mim, que estive lá em viagem profissional há uns anos, indiscutível. Recordo até hoje o efeito que me produziu a visão de uma turma crianças de escola, todas uniformizadas, com um emblema bordado na lapela da tríade governante (Assad pai e Assad-filho primogénito, o sucessor que morreu num acidente, e o Bashar) a cantar "hinos patrióticos". Na altura pensei: igual à Mocidade Portuguesa, só que o S do cinto pelo menos diziam que significava "servir"... Se não sabe, digo-lhe: não há qualquer liberdade de organização, de opinião, até censura na Internet havia nos cibercafés. O que é sim discutível é o carácter laico da minoria alauíta que governa. Quanto à posição do Bloco no Parlamento Europeu, só o Rui Tavares, que por acaso já rompeu com o Bloco, votou a favor da resolução. Isso já foi mais que discutido aqui e não vou voltar ao assunto.
Quanto aos insultos, não me
Quanto aos insultos, não me parece menos insultuosa as acusações que faz à tal «esquerda que apoia Assad ou Kahdafi». Se não ouviu essa esquerda dizer que as revoltas no Egipto e na Tunísia eram pagas pela CIA é porque se calhar não eram mesmo. Trataram-se de revoluções genuinamente populares e vimos o que fizeram EUA e UE: apoiaram até ao limite do sustentável os respectivos regimes e, depois, deixaram cair os ditadores mantendo, no essencial, a estrutura de poder intacta. Na Líbia as coisas foram diferentes. Uma revolta passou rapidamente a ser armada e financiada do exterior (à custa sabe-se lá de que compromissos) e desembocou no derrube pela NATO do regime por outro, garantindo condições mais favoráveis para o imperialismo para a exploração do petróleo líbio. Foi por esta razão e não por outra qualquer. «primavera árabe» é algo que não existe. Não assim, como um todo. Cada caso é um caso, cada processo é um processo. Como sempre acontece.
Cada caso é um caso? Isso é
Cada caso é um caso? Isso é uma generalidade correcta, mas que não ajuda para nada à discussão. As revoluções de 1848 analisadas por Marx também eram diferentes, mas tinham um traço de união e marcaram um processo único. As revoluções do Leste europeu depois de 1989 também tinham diferenças, mas o efeito dominó foi evidentíssimo. Ora no Médio Oriente há também um traço de união: todos os regimes são ditaduras, todas as mobilizações são por democracia. A Primavera árabe existe sim, e a persistência dos sírios é admirável e só não tomou ainda o caminho do Egipto porque o exército não se dividiu... Mas wait and see... Nenhuma ditadura aguenta muito tempo a usar artilharia contra o seu próprio povo...
Luís Leiria, que não conheço,
Luís Leiria, que não conheço, quer que se abra os olhos para levar com a tempestade de areia que sopra da Casa Branca e do Eliseu. Qualquer miúdo do secundário com meio-dia para estudar o Médio Oriente, produzia um texto menos ingénuo. A fulanização dos fenómenos políticos, a cassete dos ditadores, os crimes contra a humanidade - na Líbia basta ter aspecto subsariano (agora) para ser morto, - no fundo é a tentativa de justificar o vergonhoso apoio à agressão da NATO.
Não percebeu o que se passou na Líbia, da Síria ainda perceberá menos. Para a profissão que tem devia ser menos preguiçoso.
Há uma multidão de gente a fazer política sem entender as consequências dos actos políticos, resumem complexidades a posições de discussão futebolística. Talvez Luís Leiria precise estudar os assuntos em vez de se pôr a reescrever a história ou reproduzir rumores.
Tenho no meu blogue (O ClariNet) alguns artigos sobre a Líbia e um alerta sobre a Síria, obviamente não precisa lê-los.
Carlos Mesquita, que não
Carlos Mesquita, que não conheço, usa o tão conhecido argumento da autoridade. Eu sou ignorante, ingénuo, preciso estudar, etc., etc. Ele é uma autoridade. Por acaso (mas fica aqui só para informar) eu já percorri a Líbia de lés-a-lés e a Síria também. Mas fui ver o que este senhor escreve sobre a Líbia, para ver se aprendia alguma coisa, e fiquei a saber o que o regime de Khadafi era. Cito: "na Grande Jamahyria Popular Socialista da Líbia, a democracia directa não chega à superstrutura do poder, ele é exercido pelo círculo restrito de Kadhafi". Portanto, é, digamos assim, uma democracia limitada. Pois. E fala de ingenuidade...
Penso que o sr. Luis Leiria
Penso que o sr. Luis Leiria anda confundido com o que é de esquerda e com as críticas que se fazem aos motivos das intervenções estrangeiras em países neocolonizáveis. Saiba o sr. Luis Leiria que a diferença entre atacar Assad e atacar Kadhafi é o petróleo e outras benesses. Na guerra a primeira vítima é a verdade.
Caro Pedro Mota, Claro que o
Caro Pedro Mota,
Claro que o petróleo é a diferença entre ter havido intervenção na Líbia e não na Síria. É isso que explica a hipocrisia de Obama diante dos massacres de Bashar al-Assad. Isso e o facto de os sírios terem feito prisões secretas para os presos da CIA e colaborado de alma e coração com a luta "anti-terrorista" de Bush e de Obama.
É estranho que a Esquerda.Net
É estranho que a Esquerda.Net controle mais os comentários que o jornal O Público. Tanto tempo para os meus serem publicados? Já agora, o que é que senhor Luís Leiria tem a ver com a esquerda?
Insulto é o que você faz ao
Insulto é o que você faz ao longo de todo o seu artigo.
Não reduzo a questão à dicotomia bom/mau dos regimes em causa. Onde começa e acaba essa maldade/bondade? Onde começa a legitimidade da NATO em decidir acerca disso? Na minha opinião, não tem nenhuma.
Na Líbia não houve qualquer revolução nem foram os rebeldes que ganharam a guerra - foi, sim, a NATO que em dois dias matou mais de 2000 pessoas em Tripoli. Ao longo dos meses, o avanço do CNT foi aberto à bomba assim como o recuo das tropas líbias foi forçado pelas mesmas armas. Que quererá a NATO? Liberdade e democracia na Líbia? Ou petróleo em condições ainda mais favoráveis? E acha mesmo que a NATO deixará o CNT governar à vontade? Claro que não - terá que garantir o petróleo em condições mais favoráveis.
E que me diz da revolta na Síria estar a ser exactamente como o previsto num documento dos serviços secretos americanos de 2003? Coincidência?
Caro Vasco, Primeiro: não
Caro Vasco,
Primeiro: não insultei ninguém. Discuti argumentos com a "esquerda que defende Khadafi e Assad", sem nomear ninguém. Quem quiser, como parece ser o seu caso, que vista a carapuça.
A Nato não teve qualquer legitimidade para fazer a intervenção, e ainda violou o mandato que recebeu da ONU. Nisso estamos de acordo. Na minha opinião, essa intervenção teve o efeito perverso de espalhar a confusão entre os que se mobilizavam já contra Khadafi, e foi feita para que os EUA não perdessem o controlo do processo, devido à riqueza do petróleo. O Vasco diz que não houve revolução alguma na Líbia. Pois olhe, antes da intervenção da Nato o que tivemos foi uma revolução, sim senhor, com a vanguarda em Bengazi. O que haverá agora ainda está para se ver. Mas o que eu gostava de ouvir de si é se o regime de Khadafi era ou não uma ditadura.
Quanto às teorias da conspiração, sinceramente, é tema que me agrada para a ficção, mas que não vejo grande utilidade na política.
Quanto à resolução e a
Quanto à resolução e a votação do BE, um esclarecimento. Na votação na especialidade do parágrafo 10 Miguel Portas e Marisa Matias votaram contra - ao contrário de Rui Tavares - mas na votação global COM O PARÁGRAFO 10 INCLUÍDO - os três votaram a favor. Ou seja, o BE votou a favor da agressão à Líbia.
Para quem não tenha visto,
Para quem não tenha visto, aqui está o link para a resposta do Miguel Portas a isto:
http://www.esquerda.net/opiniao/resposta-infame-campanha
Concordo com a opiniao do
Concordo com a opiniao do Luis Leiria inteiramente. Os restantes comentaristas padecem do dogma:"inimigo do meu inimigo e' meu amigo". E' perfeitamente possivel que ao mesmo tempo Kadhafi seja um ditador que estava a massacrar o proprio povo, e as tropas da NATO estejam de uma forma hipocrita a "ajudar" a' remocao deste ditador. Nao e' preciso teorias da conspiracao para aceitar isto. Alias, como muitos notaram bem, noutras revolucoes (Egipto, Tunisia, Bahrain e Yemen) o tom dos EUA foi de cumplicidade com os ditadores (proprio de um hipocrita).Para ilustrar o raciocinio falacioso: se a pessoa no mundo com o maior palmares de ser mentiroso demonstrasse o teorema de Pitagoras,isso significava que o teorema era falso? A proposito, quando Eduardo dos Santos visitou recentemente Portugal, gostei de ver o Bloco a distanciar-se da visita (ao contrario do PCP).Se nao o fizesse seria hipocrita, se critica os abusos de direitos humanos noutros paises, nao pode estender a mao ao Sr. dos Santos.
A NATO, como seria de esperar
A NATO, como seria de esperar teve e tem um papel miserável, atirando com os rebeldes para a guerra com a garantia de um apoio militar do maior aparelho de guerra do universo. Portanto a revolução Líbia transformou-se, desde os primeiros dias, numa acção militar da NATO contra um país soberano. Os canalhas investidos de governação que mandaram a NATO são os cúmplices dos crimes de Kadafi, o maior dos quais talvez tenha sido a criação, de acordo com os Estados europeus - Itália, França, Espanha, Portugal(?) de campos de concentração dos sub-sarianos que procuram melhor vida na Europa (ler »Eldorado» de Laurent Gaudé) do que aquela que têm em África destroçada pelo colonialismo e pelo neo-colonialismo.
Deixo aqui um artigo que escrevi para «a comuna.net» nos primórdios do conflito: http://acomuna.net/images/stories/revistas/a%20comuna%2025-2.pdf
Estou de acordo com o Luís
Estou de acordo com o Luís Leiria. Em relação à outra malta parece-me estar a assistir àquelas polémicas de quando a URSS era a referência do certo e do errado na política internacional. O tempo dos mísseis bons e dos mísseis maus.
Friso a ideia do LL de que a NATO (EUA/UE) teve como móbil liquidar as revoluções árabes.
Na Líbia o início da revolução contra Kadafi integrando-se nas revoluções árabes da Tunísia, do Egipto e,a mais dura, da Síria, foi de imediato travada com a cumplicidade de cabeças a coroar pela intervenção NATO. E o que seria um processo que uniria o povo Líbio com e sem tribos, contra a ditadura brutal e terrorista mas fundamentalmente contra as condições sociais intoleráveis (as lutas da «primavera árabe» tiveram como factor central o desemprego e a fome, é preciso não esquecer) transformou-se numa guerra civil em que uma parte do povo foi confiscada por Kadafi e a outra parte pelos rebeldes apoiados pela NATO.
E eu rebati argumentos com a
E eu rebati argumentos com a «esquerda que concorda sempre com o imperialismo». Pronto, não há insultos para ninguém e não se fala mais nisso...
Mário Tomé concorda que parte
Mário Tomé concorda que parte do povo foi 'confiscada' pelos rebeldes apoiados pela NATO e, ainda assim, considera a tomada do poder pelo CNT como parte das revoluções árabes, a tal «primavera» de que tanto se fala e onde metem casos completamente diferentes uns dos outros. Há de concordar que o facto de a Líbia ter as maiores reservas de petróleo de África também poderá ter contribuído ou não? Quanto aos «mísseis bons» e «mísseis maus», espanta-me tamanha falta de perspectiva de classe por parte de alguém que vem da UDP. Então o derrube de um regime é sempre bom porque o povo participa? Derrube-se Arbenz da Guatemala? E Allende, do Chile?
Ou a natureza de classe das forças em presença, os seus apoios internos e externos não contam para nada? Não se trata de apoiar Kadafi ou Assad, mas de compreender que o seu derrube serve apenas e só o imperialismo.
O petróleo do Kadafi já era,
O petróleo do Kadafi já era, e continuará a ser, do imperialismo.
O Kadafi foi um instrumento do imperialismo, como o Mubarak, como o tipo da Tunísia, como as monarquias árabes,como os governos europeus, como o PCC, como o Barak Obama, etc. O governo Líbio saído da liquidação do Kadafi continuará a ser instrumento do imperialismo.
A posição do Chávez de não trair os amigos, arrisca-se a criar condições para trair os povos que o olham com carinho, nomeadamente o seu próprio povo.
Talvez assim encontremos uma plataforma de entendimento. Ou não?
Porque é que o PCP foi chamado por si à colação? Porque o L. Lediia se referiu a esquerdas e as esquerdas são o PCP e seus amigos ideológicos?
A luta anti-imperialista precisa de todos nós. mas principalmente de um olhar sem preconceitos, desideologizado,com a política no comando.
Meu caro Vasco Se vir bem
Meu caro Vasco
Se vir bem está a dizer que eu disse o que não disse. O que eu disse, nomeadamente no artigo de que disponibilizei o link, é que NATO trata de liquidar a revolução árabe.
O imperialismo nos tempos da URSS era o argumento para garantir apoio ao nacionalismo chauvinista soviético e para liquidar revoluções genuínas e populares, nomeadamente a cubana!!!
O imperialismo é: capitalismo global, ditadura, repressão, exploração, agressão, genocídio, massacre,invasão, Al Qaeda, Talibãs, EUA, UE, Rússia, China,Irão, etc. Guerra, enfim.
A luta anti-imperialista é a luta desenvolvida pelos povos, pelo proletariado, pelo pensamento progressista na defesa da liberdade, da democracia, da paz, do pão, da autodeterminação.
Toda a «real politik» é uma forma de gerar as ferramentas com que o imperialismo impera.
Conspiração, Luís Leiria? Sou
Conspiração, Luís Leiria? Sou eu a inventar que a NATO abriu caminho ao avanço dos rebeldes pela Líbia, contrariando mesmo a resolução (já de si ilegal) nas Nações Unidas? Sou eu a inventar que os rebeldes foram armados pela NATO? Sou eu a inventar que EUA, a França, a Grã-Bretanha e a Itália já estão a exigir a sua paga em petróleo líbio? Sou eu a inventar que a acção «libertadora» da NATO matou milhares de líbios?
Mas o que lhe interessa é saber se o Kadafi era bom ou mau? Ditador ou democrata? O resto, aparentemente, não interessa...
Ó Vasco, eu vivi ainda sob
Ó Vasco, eu vivi ainda sob ditadura, era muito jovem mas senti na pele o peso de um regime ditatorial de 48 anos. Estive na Líbia em 2003 e vi como aquilo era uma ditadura grotesca. Isto para mim não é um pormenor, como parece ser para si. Quanto à teoria da conspiração, referia-me ao que disse: "que me diz da revolta na Síria estar a ser exactamente como o previsto num documento dos serviços secretos americanos de 2003? Coincidência?" Eu respondo assim: viva o heróico povo sírio de Latakia e os palestinianos dos campos de refugiados da mesma cidade, que resistiram ao cerco da artilharia dos tanques e dos navios de guerra do regime assassino de Bashar al-Assad!
E eu respondo-lhe assim:
E eu respondo-lhe assim: http://www.govtrack.us/congress/bill.xpd?bill=h108-1828&tab=summary
E assim: http://www.stateofpakistan.org/is-hizb-ut-tahrir-another-project-of-brit...
E ainda assim: http://www.guardian.co.uk/world/2010/nov/08/george-bush-memoir-decision-...
Não está aqui em causa qualquer avaliação aos regimes (que a ser feita seria bem mais complexa do que o bom/mau que está tão em voga e que Luís Leiria usa na perfeição), mas indícios fortes de que poderá estar em causa uma operação em grande escala para provocar a mudança de regime na Síria a partir de fora (com os seus aliados internos, evidentemente) - com todas as consequências que isso teria na resistência aos planos de domínio dos EUA e de Israel na região. Mas se quiser continuar a apelidar os que se opõem ao imperialismo e à guerra como «amigos de ditadores» é lá consigo.
Pode pôr os links que quiser.
Pode pôr os links que quiser. eu repito: viva o heróico povo sírio de Latakia e os palestinianos dos campos de refugiados da mesma cidade, que resistiram ao cerco da artilharia dos tanques e dos navios de guerra do regime assassino de Bashar al-Assad!
Yasser Abed Rabbo: bombardeamento em Latakia é crime contra a Humanidade.
http://www.alternativenews.org/english/index.php/topics/news/3768-palest...
Nota da tal «esquerda que
Nota da tal «esquerda que apoia Kadafi». Para ler e tirar as respectivas conclusões, rejeitando o insulto que está por detrás do raciocínio de Luís Leiria que, como a direita, afirma que quem se opõe à agressão da NATO é porque «apoia o Kadafi».
http://www.pcp.pt/sobre-os-recentes-desenvolvimentos-na-l%C3%ADbia
Já que assumiu a carapuça,
Já que assumiu a carapuça, leia-se também este artigo para verificar se eu exagero...
http://www.avante.pt/pt/1969/internacional/115988/
Conheço o texto e reli-o
Conheço o texto e reli-o outra vez, em busca desse suposto apoio a Kadafi. Não encontrei.
Mas encontrei o que Luís Leiria parece não dar importância: o massacre da NATO sobre a população Líbia, as mentiras dos "media" oficiais, a busca pela verdade dos factos no terreno, que é aquilo que Luís Leiria relega para segundo plano.
E se viveu em ditadura responda-me a isto: quereria que o País tivesse sido "libertado" pelas bombas da NATO (que nunca o faria, porque tinha em Salazar/Caetano aliados firmes)? A tal esquerda «que apoia Kadafi», como diz, e que foi aquela que mais resistiu e sofreu com a ditadura fascista portuguesa não o quereria, acredite.
Penso que os senhores têm uma fixação com o PCP. E até na guerra contra a Líbia não acham nada mais interessante do que escrever contra o PCP, ainda por cima cobardemente, sem o citar. Mas quando é o PCP a referir-se ao Bloco, lá está o «sectarismo» e o «stalinismo»...
Lá voltam os insultos: agora,
Lá voltam os insultos: agora, além de imperialista sou cobarde. Não, não é só o PCP... O Chávez também, infelizmente, e o chavismo na América Latina é muito influente, como sabe. Por isso adoptei o tom genérico.
Mas não tenho qualquer problema em discutir com o PCP. Consigo é mais chato, porque quer discutir argumentos, mas depois desqualifica o adversário com epítetos como imperialista e cobarde. Enfim, estou habituado a esses métodos de debate. São os da impotência.
Não, não acho que a Líbia tenha sido libertada pela Nato. Acho que a Nato agiu para destruir a revolução líbia. Acho que o ex-ministro da Justiça do Khadafi, que lidera o CNT é tão assassino quanto o Khadafi. Mas não derramo uma lágrima pelo ditador em fuga.
Não lhe chamei imperialista,
Não lhe chamei imperialista, mas sim alguém que utiliza precisamente os mesmos argumentos e escolhe os mesmos alvos que os imperialistas. Não o chamei cobarde, apenas denominei dessa forma a sua argumentação. E não se faça de vítima, que não ajuda nada a manter o nível do debate (se é que se pode chamar a isto debate).
Quanto ao Chávez, não sei que lhe dizer: o homem faz eleições e referendos a toda a hora, não se conhecem presos políticos na Venezuela, a imprensa faz frequentemente apelos ao assassinato do presidente e continua a funcionar, o nível de vida da população mais pobre não pára de aumentar, o país está crescentemente liberto das garras do imperialismo norte-americado que condenou o seu povo à mais extrema miséria durante décadas (e as marcas, acredite, são ainda muito visíveis)... Um verdadeiro democrata, diria mesmo.
Mas ao não apoiar o derrube ilegítimo de um governo pela NATO põe tudo isto em causa?
(Ah, isto não é um debate????
(Ah, isto não é um debate???? Então estes textos todos são o quê? Já agora, no site do PCP é que há verdadeiros debates, não é?) Ah, então vê vantagens em fazer referendos e eleições a toda a hora? Eu também, e por isso há uma diferença total entre o regime do grotesco ex-ditador Khadafi e o de Hugo Chávez. Por isso lamento que o Chávez tenha tido a atitude que teve, condenando correctamente a intervenção da Nato mas nunca se distanciando de Khadafi. Pelo contrário: "Seria um covarde em condenar a quem tem sido amigo por muito tempo", disse.
Quanto ao que me chamou e não chamou, a vantagem destes debates é que fica tudo escrito, qualquer leitor pode verificar.
Sobre a Líbia, a Síria e a
Sobre a Líbia, a Síria e a Venezuela já disse o que penso e só espero que não estejamos em lados opostos na luta concreta - nas ruas - se e quando o imperialismo se abater sobre a Síria ou mesmo sobre o Irão ou a Venezuela pelas mesmas razões "humanitárias" que levaram ao derrube de Kadafi (sim, reafirmo, foi a NATO que o derrubou). À custa de milhares de vidas - as mesmas que as TVs ocidentais não falaram no caso da Líbia mas que estão profusamente documentadas noutras estações de televisão.
Sobre o debate, no PCP fazemo-lo todos os dias em centenas de reuniões e plenários das nossas organizações. Mas obrigado pela preocupação com a saúde interna do PCP. Que vai bem, obrigado.
Não duvido que o debate seja
Não duvido que o debate seja amplo no PCP; mas que às vezes eu, que não sou do PCP, gostava de poder escrever um ou outro comentário no site, lá isso gostava...
Prezado Leiria Seu comentário
Prezado Leiria
Seu comentário o coloca muito mais na órbita de Pétain que de Guevara...
'Taí a causa do fracasso das esquerdas europeias. Viraram Leirias...
Abraço
Castor
PS Resta o povo nas ruas e o "Livro Verde". Vá ATRÁS do povo e aprenda algo com Kadafi(hehehehehe).
Um abraço, Castor! Mesmo nas
Um abraço, Castor! Mesmo nas mais acesas polémicas, é preciso manter a boa disposição! ;-)
Tanto o Avante! em geral como
Tanto o Avante! em geral como certas "informações" prestadas aqui sobre a intervenção militar na Líbia são fantasias delirantes. O Avante considera Kadafi um herói da luta contra o imperialismo (não admira, pois ainda considera a China um país comunista, assim como certos Estados paramonárquicos). O Esquerda.net pensa que todas as revoltas são libertadoras, mesmo aquelas promovidas pela OTAN, pelo Sarkosy, pelo Obama e pelo Berlusconi. É por isso que a "esquerda" em geral tem cada vez menos credibilidade. Lenine dizia que para salvar a revolução era capaz de negociar com os seus piores inimigos. Mas quando os princípios dão lugar à paixão pela pura contestação, o pântano moral e político é o que os espera. "Pois que a razão submetem ao talento" (DANTE, Divina Comédia).
Sobre o Avante! e o PCP nem
Sobre o Avante! e o PCP nem comento, que não vale a pena. Se defender o direito internacional e o direitos dos povos é considerar alguém «herói» de seja o que for vou ali e já venho. E relativamente ao que o PCP pensa da China leia as teses do XVIII Congresso e não invente.
Mas realço esta: «O Esquerda.net pensa que todas as revoltas são libertadoras, mesmo aquelas promovidas pela OTAN, pelo Sarkosy, pelo Obama e pelo Berlusconi.»
Obrigado Pedro Mota. Era tudo o que eu precisava de ler. Bem hajam então os libertadores do Iraque, do Afeganistão, da Jugoslávia, da Líbia...
E o TPI só indicia um lado,
E o TPI só indicia um lado, como sempre (Ex-relator da ONU para direitos humanos, Richard Falk vê um precedente perigoso no uso de resolução para mudar regime):
http://marcelosouzarn.com.br/blog/ha-diferenca-entre-o-autorizado-pela-o...
"Por que foi emitida ordem de prisão apenas contra Gaddafi?
É inaceitável que o TPI tenha indiciado o inimigo no meio de uma guerra que é conduzida pela Otan.
Para mim, essa iniciativa é um julgamento político. Na Guerra de Kosovo, [Slobodan] Milosevic também foi indiciado enquanto a Otan bombardeava. Tenho a impressão de que os indiciamentos são a favor do Ocidente e as violações cometidas pela Otan não são submetidas ao mesmo rigor. Isso prejudica a legitimidade do TPI. É preciso haver igualdade de tratamento."
Sinceramente, insisto, a
Sinceramente, insisto, a questão não é defender o Khadafi, esse mérito é secundário; mas é defender o direito internacional. Tivesse a Líbia armas nucleares ou mais dissuasivas e nada aconteceria. A guerra civil na Líbia envolveu disputa de tribos e é mais complexa do que qualquer idealismo pode supor. A nós da esquerda cabe muito mais insistir no diálogo, nas soluções negociadas, e na rejeição das soluções bélicas, do que assistir placidamente a um país ser bombardeado porque é fraco. Apesar da responsabilidade por milhares de mortes diretas e indiretas, nenhum ocidental sentará no banco dos réus do TPI.
Abaixo a Nato! Kadafistas e
Abaixo a Nato! Kadafistas e anti-kadafistas, todos condenam a intervenção da Nato. A Nato é má. Todas as atitudes da Nato são más e imperialistas. O conflito na Líbia é complexo (!), há as tribos e coiso e tal, alguns tipos do CNT são pagos pela CIA, é preciso respeitar o direito internacional, não se pode mudar assim um regime (!) etc. Eu nasci em Portugal mas os líbios são meus irmãos (e primos, e cunhados), e reivindico para eles os mesmos direitos que para mim: o de participar na escolha do governo do meu país. E o direito de ter opinião, de discuti-la e manifestá-la livremente, sem ser abatido na rua ou na prisão. A revolução líbia não é uma revolução comunista, é uma revolução pela democracia e pelos direitos humanos, incluindo o direito à vida. Na Guerra da Bósnia entre 1992 e 1995 morreram 200.000 pessoas, depois a Nato interveio e a guerra terminou em 3 meses. Abaixo a Nato! Não à intervenção na Líbia! ou pelo menos que não intervenham antes de terem morrido 200.000 líbios.
Me admira que no âmbito da
Me admira que no âmbito da esquerda tanta gente compre o discurso do Bush e Rumsfeld. Você ponderou porque o TPI sempre só indicia um lado? Por que não se investiga as mortes colaterais nos bombardeamentos da NATO? Ou os massacres perpetrados pelos rebeldes? Enquanto não nos questionarmos sobre nossa democracia eurocentrica, nunca teremos legitimidade discursiva no resto do globo.
Aliás, essa história de ser a favor ou não da guerra me lembrou a Alemanha de 14, uma certa Rosa Luxemburgo que se opôs, e os socialistas que votaram maciçamente a favor do Kaiser, que para variar disparava um sem número de argumentos sensatos para justificar o conflito.
O TPI só indicia o lado dos
O TPI só indicia o lado dos vencidos, senão há muito que Bush, Rumsfeld e Blair estavam presos. Mas a questão que levanto não é essa. A questão é se Khadafi é defensável, sob qualquer ponto de vista, se houve ou não uma legítima mobilização anti-Khadafi (que a Nato fez tudo para desvirtuar), e se devemos ou não condenar os massacres que Assad está a cometer na Síria usando artilharia contra o próprio povo.
Quanto à referência à Rosa Luxemburgo, neste contexto, só pode ser piada de mau gosto. Você leu o artigo? Tem a certeza? Onde está lá o apoio à intervenção da Nato? Sejamos sérios.
Como sabe que Kadhafi iria
Como sabe que Kadhafi iria matar 200 000 pessoas? É bruxo? A China oprime e mata elementos do povo do Tibete. Vamos invadir a China matando milhões de pessoas para salvar 1 000? O sistema prisional americano não respeita os direitos humanos de milhares de prisioneiros. Vamos deitar bombas sobre a América? A única coisa que conta é a liberdade, mesmo para aqueles que instrumentalizam ou têm a fraqueza de se deixarem instrumentalizar? É verdade que a repressão tem os limites dos direitos humanos. Também é verdade que a liberdade é mais importante do que a vida, por exemplo de quem passa fome no Corno de África. Bombas por comida? Nunca. Mas os países ocidentais, civilizados também reprimem aqueles cuja diferença não é útil para a acumulação de capital e pouco contam para votos. Lembram-se, não há muito anos, da repressão e destruição de um bairro alternativo na livre Copenhaga? Os 60 000 mortos na guerra civil e invasão da Líbia vão certamente aproveitar a democracia.
Sou bruxo, claro. Kadafi não
Sou bruxo, claro. Kadafi não usou nenhuma contenção no uso de força desproporcionada e brutal contra manifestações pacíficas, reprimidas com metralhadoras pesadas, causando mais de 800 mortos em 3 dias. Nem se coibiu de bombardear metodica e indiscriminadamente áreas civis, como no cerco a Misurata e na repressão noutras localidades. Se o único apoio recebido pelo povo líbio fosse o esparguete e o mercurocromo que o Miguel Portas estava disposto a permitir, a chacina teria sido muito maior. Ah, mas a malta ficaria aliviada, porque os imperialistas da Nato não meteram o bedelho. Quanto ao autor do artigo, oscila entre alguma lucidez (apesar de tudo) e bastante cinismo... Vejam lá, camaradas, acham bem que o Assad massacre manifestantes desarmados e indefesos, torture e assassine crianças de 13 anos? Pensem lá um bocadinho, rapazes e raparigas, façam lá um esforço, será isto uma atitude de esquerda? Safa!
Por favor, lei am os artigos
Por favor, lei am os artigos e livros de Domenico Lossurdo (podem ser lidos em inglês) em
internationale Gesellschaft Hegel-Marx für dialektisches Denken, que tem um sítio na Net.
Uma passagem dum artigo sobre
Uma passagem dum artigo sobre a Líbia no Montly Review:
"Instead of opposition to their own masters, some leftists are actually showing the degree of their co-optation and their illusions about freedom while living in the belly of the beast. It's abstract universalism at its moral worst. Even after the evidence has confronted them, they cannot muster the principled stance of opposing the US military and NATO. Even quietly, at home, in front of the television. Proyect and his kind are perfect examples of this rot. Next time, these types should just phone Fox News and scream "US communists for NATO!"; at least it will make the jingoists paranoid about a "new world order"."
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