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Os guardiões
No debate em curso sobressai, entre outros, um tipo de discurso que se caracteriza pela defesa do status quo. E, inevitavelmente, este discurso provém dos que ou fazem parte da direcção ou estão situados no primeiro círculo. Este discurso não é mais do que um reflexo de auto-preservação.
Algumas das características discursivas dos defensores do status quo demonstram uma certa diabolização das posições políticas que se situam mais à sua esquerda sem no entanto tentarem criticá-las de modo sério, limitando-se à imprecação contra elas.
Os guardiões do status quo auto-elogiam-se, citam-se de forma circular, e não avançam um só milímetro a discussão. Faltando-lhes as ideias, limitam-se unicamente a salientar o trabalho realizado, acreditando que o BE pode voltar a explorar as «causas fracturantes», aquele tipo de trabalho parlamentar que fez a «idade de ouro» do partido no passado recente, explorando-o como se fosse um filão de ouro, até à última grama.
Eles pretendem que a solução para a presente «crise» passa pela extinção das actuais correntes políticas no interior do BE que, no entender deles, envenenam a vida ao partido. A chave do problema seria fazer das correntes que sustentam «Moção A», uma só corrente. Na realidade, é isso que se passa, praticamente desde do início, quando vem o tempo de uma convenção: elas convergem numa frente única para melhor fazer defrontar ao resto do partido. Mas, infelizmente para eles, a solução não é essa, porque a fusão dos grupos dirigentes não resistiria à prova do tempo, nem à dialéctica que anima a vida política e do partido: novas correntes/tendências se formariam e se cristalizariam porque a unanimidade em política é um mito e só existe nos contos de fadas elaborados pelos estalino-maoistas e sociais-democratas. O problema actual assenta no disfuncionamento dos organismos supostamente concebidos para fazer funcionar a democracia interna. Há demasiada verticalidade no relacionamento direcção / base e as decisões são cozinhadas no topo da pirâmide. É a ausência de debate democrático nas bases que perturba e afasta os aderentes e não o simples facto da existência de tendências. (Diga-se de passagem que estas não se diferenciam entre elas (apesar das velhas querelas ideológicas escondidas no sub-consciente dos ex-trotskistas do PSR e ex-maoistas da UDP que gera uma animosidade entre eles sempre bem dissimulada): poucos são os que dão por qualquer diferença, desde que estas duas forças, tal como os sociais democratas e eurocomunistas no passado, se tornaram cépticos quanto às possibilidades de derrubar o capitalismo.)
Porém, os aspectos que se prendem com a burocratização do partido são escamoteados pelos guardiões, como por exemplo o rotativismo no seio do BE no que diz respeito aos mandatos consecutivos para a Assembleia da República ; e poucos são os que se interrogam sobre a representatividade desses deputados (as) em relação às bases do partido.
Consideram que a honra do BE estará salva enquanto resistirem no parlamento a qualquer aliança com o PS ou a cedências políticas ao governo liberal, entretanto essa aparente independência política esconde o apoio do BE ao sistema de dominação capitalista pela via parlamentar quando os deputados (as) do Bloco apoiam medidas que se afastam dos objectivos de uma oposição socialista ao poder burguês e liberal, apoio que, queiramos ou não, fortifica o sistema que estamos supostos de combater ... pelo menos em teoria.
Pretendem fazer-nos crer que o futuro do BE está na sua transformação em alternativa ao PS e à sua direcção, quando na realidade a verdadeira função do BE seria de criar uma alternativa socialista ao capitalismo. De outro modo tanto as noções de «anticapitalismo» e de «socialismo», recurrentes no discurso bloquista, valem pela sua vacuidade.
Eduardo Velhinho
Comentários
Meu caro Eduardo
Meu caro Eduardo Velhinho
Fazes, sem querer, decerto, uma confusão entre tendências e correntes. As correntes correspondem à liberdade de associação daqueles que estruturados historicamente como partidos fizeram do Bloco o seu partido, e mantêm o seu próprio espaço de debate, interrogação e investigação teórica dentro das premissas que desde sempre os uniram. Do Bloco, de cuja constituição foram os primeiros responsáveis, fizeram o seu espaço de encontro e proposta política num universo alargado de encontro com muitos outros que comungam dos mesmos ideais políticos gerais de luta contra o imperialismo, o neoliberalismo, o capitalismo em última instância. Dentro dos pressupostos aceites por todos os que se inscrevem no Bloco debatem e lutam por propostas políticas que são sufragadas pelos militantes.
... Não enquanto correntes
... Não enquanto correntes mas enquanto militantes individuais com o seu pensamento próprio que será, naturalmente forjado também na luta de ideias das suas correntes e na compreensão que têm do mundo em que vivem. Como qualquer outro militante.As tendências surgem dentro do Bloco, naturalmente, pelo encontro de opiniões individuais no livre debate das várias opções politicas, tácticas ou estratégicas. Daí decorrem acordos e afinidades políticas que podem levar a apresentar conjuntamente propostas em Convenção.O voto livre e democrático, decorrente do permanente aperfeiçoamento das formas de participação democrática, como estamos a fazer, decidirá quais as propostas que merecem a aprovação da maioria. A forma mais democrática mas também mais eficaz é que quem apresenta propostas globais se compromete também a apresentar o conjunto de camaradas que se dispõem a responsabilizar-se, dentro das normas estatutárias, a pô-las em prática caso seja votada pela maioria.
... As outras tendências,
... As outras tendências, permanentes ou eventuais, que apresentem propostas globais, terão lugar na Mesa da direcção com representação proporcional.
Portanto não vale confundir correntes e tendências. Nem tentar anatematizar quer umas quer outras. Ambas têm o seu papel e ninguém é obrigado a integrá-las. E quem as não integrar está no direito da criticar a sua prática, as suas propostas mas não a sua existência que é um inalienável direito do uso de associação livre e democrática dentro do Bloco.
Se achas que o Bloco só pode lutar pelo socialismo com as tuas propostas será bom que, dentro da total liberdade de que dispões, trabalhes para isso. Uma única condição: respeitar os fundamentos políticos do Bloco e os seus estatutos. Isso sabes tão bem como eu. Isso e o resto.
É pena que não comeces a apresentar as tuas alternativas para a difícil e trabalhosa caminhada para ajudar o povo a combater e derrotar o capitalismo e inventar e criar a sua sociedade socialista.
Eu, que segundo a tua
Eu, que segundo a tua descrição devo pertencer ao «primeiro círculo», ou seja militante de base integrante de uma corrente, a que erradamente chamas de maoísta,a UDP-AP e apoiante da Lista maioritária A que desenvolve todos os esforços para continuar a merecer o apoio da maioria das e dos bloquistas, acho que o debate tem sido o mais diversificado, aprofundado e democrático a que assisti não só dentro do Bloco mas também da sociedade portuguesa, excepção feita aos tempos do PREC, em que era feito essencialmente na rua.
Afinal quem tem estado a diabolizar os outros, chamando-lhes guardiães, tens sido tu. Uma das bases da constituição do Bloco foi a de que estávamos dentro e corríamos por fora. Acho que é isso que estamos obrigados a fazer e que temos feito.
Eduardo Velhinha: Não estou
Eduardo Velhinha:
Não estou nada de acordo com o teu comentário, que, aliás, como contributo pouco ao nada vale, pois não apresenta nenhuma proposta ou ideias para o debate proposto, limitando o teu discurso ao ataque ( presumo ) à direção do Bloco e aos apoiantes ( lista A). Não é novidade esta posição que diaboliza e faz um enquadramento muito sectário daquela que é a maioria expressa em convenção, onde estão englobadas várias correntes e até militantes que têm mostrado posições críticas em relação a várias posições assumidas pela direção. Não entendo essas de " ...posições políticas que se situam mais à sua esquerda..." ou "pela extinção das actuais correntes políticas no interior do BE que, no entender deles, envenenam a vida ao partido...". Isto demonstra arrogância de alguém que não percebeu nada do que se tem discutido.
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