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Fechar Almaraz

Impedir o prolongamento de vida da Central de Almaraz é dar o primeiro passo para que o nuclear seja desativado no país vizinho.

Há vários meses que o Movimento Ibérico Anti-nuclear (MIA), coordenado pelo físico nuclear Francisco Castejón, tem vindo a solicitar uma reunião com o ministro português do Ambiente, sem resposta, para discutir o processo de construção do armazém temporário individualizado de resíduos nucleares (ATI) na margem do Rio Tejo, perto da fronteira com Portugal, e reflectir sobre o futuro da Central Nuclear de Almaraz.

Em Março de 2016, por iniciativa do Bloco, o Parlamento português aprovou, por unanimidade, um projecto de resolução que recomendava ao Governo que “desenvolvesse todos os esforços junto do Estado Espanhol para o encerramento da Central Nuclear de Almaraz”. O Governo prometeu cumprir as diligências necessárias, aquando da constituição do novo Governo espanhol.

Paralelamente, desde o Verão de 2015 que decorria um estudo de impacto ambiental para a construção do novo ATI em Almaraz, sem que Portugal estivesse envolvido no processo. A manobra de dissimulação do lado espanhol é inadmissível, mas a inércia sobre esta matéria do ministro Jorge Moreira da Silva, do anterior governo PSD/CDS, também está por explicar.

Perante o acumular de incidentes em Almaraz e as notícias sobre o projeto de construção do armazém de resíduos nucleares, o atual Ministro do Ambiente ignorou os sucessivos avisos das associações ambientalistas e a resolução da Assembleia da República, subestimou a atitude das autoridades espanholas e reagiu já tarde perante a decisão unilateral do Governo espanhol de construção do ATI, em violação das normas comunitárias e internacionais que obrigam, nestes casos, à participação de Portugal na avaliação dos impactes transfronteiriços.

Entretanto, esta semana o periódico La Vanguardia publicou um artigo onde são reveladas as intenções do Governo espanhol em relação à construção do ATI: o prolongamento de Almaraz para depois dos seus 40 anos de funcionamento, que se cumprem em 2020. O MIA já havia alertado, e tem constantemente denunciado, esta “agenda escondida” do Governo espanhol, em clara cedência à Iberdrola e à Endesa, principais accionistas da Central de Almaraz.

O prolongamento ou não da vida da Central de Almaraz compromete muito mais do que o estender da laboração dos seus dois reactores. O que acontecer em Almaraz criará “jurisprudência” para todo o parque nuclear do Estado espanhol. Impedir o prolongamento de vida da Central de Almaraz é dar o primeiro passo para que o nuclear seja desativado no país vizinho, tal como já está perspetivado na Alemanha e em França.

Ainda não é claro que João Matos Fernandes vá a Madrid reunir com a sua homóloga para discutir a continuidade da Central Nuclear de Almaraz. Aliás, as suas últimas posições públicas são um triste número de "agarrem-me ou eu vou-me a eles", que revelaram fraqueza e falta de estratégia.

Nada menos se pode exigir do Governo português, num assunto que já é de grande convergência nacional, do que uma posição firme pelo encerramento de Almaraz, em defesa das populações, dos territórios e do ambiente. O risco de acidente radioativo é grande, agrava-se com o prolongamento do funcionamento de uma central já obsoleta, e os efeitos seriam devastadores.

O MIA convocou para quinta-feira, dia 12, uma concentração em frente ao Consulado de Espanha, na Avenida da Liberdade, em Lisboa. Caso o ministro falte à reunião em Madrid, muitos portugueses não deixarão de fazer lembrar ao Governo espanhol que o país exige o encerramento da central de Almaraz.

 

Sobre o/a autor(a)

Dirigente do Bloco de Esquerda.Técnico de Arqueologia
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