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PE entrega Prémio Sakharov às ativistas yazidis Nadia Murad e Lamiya Aji Bashar

As duas ativistas defensoras da comunidade yazidi no Iraque, que sobreviveram à escravatura sexual do autoproclamado Estado Islâmico, receberam esta terça-feira o Prémio Sakharov de Liberdade de Pensamento do Parlamento Europeu.
Nadia Murad e Lamiya Aji Bashar. Foto EPA/Franziska Kraufmann.

“Tem de haver um sistema de responsabilização, os terroristas têm de ser levados à justiça”, defendeu Lamiya, de apenas 18 anos. “Há três anos que isto dura e ainda há mais de 3500 mulheres e meninas em cativeiro”, alertaram as duas ativistas.

Lamiya afirmou ainda “esperar do Parlamento Europeu (PE) e do mundo que leve o genocídio dos yazidi perante o TPI para que se faça justiça e se peçam contas ao autoproclamado Estado Islâmico [Daesh, no acrónimo árabe)".

Já Nadia defendeu que deve ser criada “uma zona de proteção em coordenação com o Governo iraquiano e com o governo regional autónomo do Curdistão”. “Se isso não for possível peço-vos que nos abram a porta e nos recebam”, assinalou.

O presidente cessante do PE, Martin Schulz, apelou também a que não fique impune o genocídio de "um dos mais antigos povos da humanidade".

Uma história de coragem e luta

Em 3 de agosto de 2014, o Daesh assassinou todos os homens da aldeia de Kocho, em Sinjar, no Iraque. Todas as mulheres e crianças foram escravizadas. As jovens, entre as quais Nadia Murad Basee Taha e Lamiya Aji Bashar e as suas irmãs, foram raptadas, compradas e vendidas por diversas vezes, e exploradas para fins de escravatura sexual.

Durante o massacre de Kocho, Nadia perdeu seis dos seus irmãos e a mãe. Em novembro de 2014, conseguiu fugir. Após passar por um campo de refugiados no norte do Iraque, acabou por se estabelecer na Alemanha. Em dezembro de 2015, Nadia contou a sua experiência perante o Conselho de Segurança das Nações Unidas. Menos de um ano depois, em setembro de 2016, tornou-se a primeira Embaixadora da Boa Vontade do UNODC para a Dignidade dos Sobreviventes do Tráfico de Seres Humanos e, em outubro, foi homenageada pelo Conselho da Europa com o Prémio dos Direitos Humanos Václav Havel.

Lamiya foi vendida cinco vezes e obrigada a fabricar bombas e coletes suicidas em Mossul. O seu pai e irmãos foram executados pelo Daesh. Em abril, Lamiya conseguiu fugir com a ajuda da sua família, que pagou a contrabandistas locais. Durante a fuga, foi ferida na sequência da explosão de uma mina, ficando quase cega. Lamiya acabou por ser enviada para tratamento médico na Alemanha. Desde a sua recuperação, tornou-se porta-voz das mulheres vítimas de tráfico humano e de escravatura sexual e defensora pública para a comunidade yazidi no Iraque.

Reagindo à homenagem à coragem e à luta de Nadia e Lamiya, a eurodeputada bloquista Marisa Matias escreve no seu facebook que “era tão importante que este Prémio significasse também um maior empenho da UE para pôr fim à violência e aos conflitos”.

 

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