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Uber explora trabalhadores, assinala relatório

Rendimentos são, frequentemente, inferiores ao salário mínimo e "apenas suficientes para garantir subsistência". De acordo com o testemunho de 83 motoristas, recolhidos pelo deputado trabalhista britânico Frank Field, o horário semanal de trabalho chega a atingir mais de 70 horas.
Protesto contra a Uber em Budapest.

Embora a Uber classifique os seus motoristas como trabalhadores independentes, não estando abrangidos pela legislação sobre o salário mínimo, Field pôde aferir que, na realidade, estes trabalhadores não têm quase nenhuma independência.

A Uber dita as suas condições de trabalho assim que fazem login, aumentou a sua comissão enquanto cortou as taxas que estes podem cobrar e impõe bloqueios do seu sistema se os condutores recusarem demasiados trabalhos. Estas condições, combinadas com as despesas com os veículos, necessárias para atender às exigências da Uber, está a traduzir-se em "salários cronicamente baixos" e insegurança.

Tal como assinala o The Guardian, no relatório Sweated Labour, Uber and the “Gig” Economy, Fields alerta que os contribuintes comuns estão a ser penalizados na medida em que as empresas daquilo a que os americanos chamam "economia colaborativa” (“gig economy” ou “on demand economy”), na qual as pessoas fazem predominantemente trabalhos ocasionais e de curto prazo, não assumem uma parcela justa dos riscos do negócio.

"Isto é o que pôs em causa as projeções do governo sobre as receitas dos impostos. Quanto mais trabalhadores forem empurrados para o autoemprego pouco remunerado e inseguro, menos serão os impostos para o resto do país. O relatório Uber mostra que esta forma de autoemprego não se limita a Hermes, mas é uma força motriz na gigante ‘gig economy’”.

O relatório, escrito pelo investigados parlamentar de Field, Andrew Forsey, aponta que Uber encheu o mercado com novos motoristas, aumentando a concorrência para os passageiros, pelo que os motoristas são forçados a trabalhar mais e mais só para manter os seus baixos salários.

Aqueles que assumiram dívidas para financiar os seus veículos veem-se agora obrigados a trabalhar cada vez mais para pagar os seus empréstimos e alimentar as suas famílias. O número de motoristas se sentem presos e têm pouca escolha senão trabalhar horas inseguras para atender seus empréstimos e alimentar suas famílias, diz. O número de licenças de motoristas privados licenciados pela Transport for London (TfL) quase duplicou em seis anos, de 59.000 em 2010 para mais de 116.000 em dezembro deste ano. A Uber diz que cerca de 40.000 motoristas trabalham para a sua plataforma no Reino Unido, com cerca de 30.000 na capital.

O deputado trabalhista exorta a Transport for London (TfL) e o Departamento de Transportes a exigir à Uber que deixe de explorar os seus trabalhadores antes de renovar a sua licença, que termina em 2017. Field quer igualmente que o governo reformar a lei do trabalho de modo a que estas empresas sejam obrigadas a garantir aos trabalhadores proteções básicas, incluindo o salário mínimo nacional.

A Uber, fundada em 2009 em San Francisco, tem gerado controvérsia em muitas das cidades onde opera, tendo sido proibida em algumas e provocando protestos e desafios legais noutras.

Em Londres, um grupo de 19 motoristas da Uber levaram a empresa a um tribunal de trabalho no início deste ano com a ajuda do sindicato GMB. Os motoristas argumentam que são falsos trabalhadores independentes e que têm direito aos direitos dos trabalhadores, incluindo o salário mínimo nacional. O tribunal decidiu a favor dos motoristas em outubro, contudo Uber anunciou que iria recorrer da decisão.

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