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Todos iguais, e o Deutsche Bank é o mais igual de todos
"O tamanho não salvou os dinossauros da extinção". Foram estas as palavras usadas pelo responsável da supervisão do Banco Central alemão para se referir à frágil situação do Deutsche Bank. Do ponto de vista histórico, a afirmação é factual, mas não parece ser intenção das instituições alemãs e europeias assistir a esse fim.
John Cryan, o CEO do Deutsche Bank, escreveu há semanas uma comovente carta em que explicava aos mil trabalhadores em vias de despedimento que o banco estava a ser alvo de "especulação" e vítima de uma "perceção distorcida". É irónico, no mínimo, tendo em conta que a principal atividade deste banco tem sido... especular. Especular com bens agrícolas, com dívidas públicas, com taxas de juro. Especular sem olhar a regras e a consequências.
Esta é, na verdade, uma das razões da queda a pique do valor do banco em bolsa. Em causa está uma multa exigida pelo Estado norte-americano no valor de 14 mil milhões de dólares por irregularidades na comercialização de produtos financeiros complexos.
O ministro das Finanças alemão, sempre tão preocupado em disciplinar os incumpridores do Sul, parece não ter problemas em mexer uns cordelinhos para safar o Deutsche Bank da multa devida. Mais, depois de ter feito várias declarações incendiárias sobre a situação portuguesa, o mesmo senhor Schäuble vem agora queixar-se de que se fala demasiado do Deutsche Bank.
Para o fim, como sempre, fica a cereja. Não é que o Banco Central Europeu, o arauto da intransigência, responsável por desastres como o do desfecho do Banif ou da chantagem contra o Governo grego, resolveu dar uma borlazinha ao Deutsche Bank? Para ajudar o banco alemão nos testes de stress, o BCE aceitou contabilizar mais-valias de uma grande operação que ainda não tinha sido concluída.
Banco ou Governo, nesta União são todos iguais. O Deutsche Bank é o mais igual de todos.
Artigo publicado no “Jornal de Notícias” em 11 de outubro de 2016
Comentários
Deixe-me Sra deputada
Deixe-me Sra deputada informar-lhe de que gosto sempre de ler aqui seus artigos. Hoje enalteco o facto de não usar "derivativos" e optar por "produtos financeiros complexos" . Faz-lo corretamente porque o cidadão que não estudou/a uma determinada àrea de conhecimentos, e há que haver tal preocupação de vincular e estreitar uma linguagem mais próxima e "user-friendly"*
(*) provém do anglo-saxónico "user"= utilizador ; "friendly" : amigável.
(Imagem* fig1)
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Eu com os meus conhecimentos
Eu com os meus conhecimentos em TI , e TU em Economia faríamos um parelha magnifica! c:)Bem escrito este artigo, Sra Deputada!
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