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Os homens do Presidente

A campanha de Manuel Alegre enfrenta enormes desafios. O primeiro dos quais é mostrar as diferenças para o actual Presidente.

A perspectiva de existência de novos candidatos presidenciais tem animado o debate político. A indicação de presidenciáveis aparece dos mais variados quadrantes, desde CDS até ao PS. E, ainda falta conhecermos a determinação do PCP. A possível abrangência do leque de escolhas não altera a análise política de fundo: a disputa será entre Cavaco e Alegre e ainda muito há para decidir.

O combate será nas eleições presidenciais. Eu sei que poderá parecer redundante esta afirmação, mas este é um ponto de partida importante. Alguns consideram tratar-se de mais um passo na oposição ao Governo; outros pensam ser uma questão de afirmação do partido; outros ainda preparam-se para traçar uma estratégia em defesa do seu eleitorado. É importante centrar o debate sobre o que realmente está em cima da mesa: eleições presidenciais. Todos os pontos de vista que não colocam em primeiro lugar este pensamento, desculpabilizam Cavaco Silva e secundarizam o seu papel na estratégia neoliberal. Nada mais errado…

Cavaco Silva ficará na história por ter dado agudizado, como nenhum outro em democracia, as desigualdades sociais do país. Mas será também recordado por ter apadrinhado as medidas recessivas que o plano de austeridade quer implementar. Mais uma vez deixará a sua marca no crescimento das desigualdades do país. A aposta da direita é em Cavaco, que tem sido um dos garantes do projecto neoliberal; é a aposta daqueles que querem rever a legislação laboral para facilitar despedimentos e diminuir salários; é a aposta dos que sonham diariamente com mais privatizações, para poderem realizar mais-valia à custa do desfalque do Estado e dos portugueses; é a escolha daqueles que querem atacar os apoios sociais. A reeleição de Cavaco Silva será uma vitória do conservadorismo e do plano neoliberal.

A candidatura de Cavaco Silva, apesar da sua força, não pode ainda cantar vitória. E tudo faremos para que não o venha a poder fazer. Manuel Alegre é a esperança da Esquerda neste confronto com Cavaco. E é isso que lhe deve ser exigido. Confundir as presidenciais com a oposição ao Governo é um erro em que não podemos cair, apesar de Manuel Alegre até ser visto como um candidato contra a direita do PS.

A campanha de Manuel Alegre enfrenta enormes desafios. O primeiro dos quais é mostrar as diferenças para o actual Presidente. Cavaco assinará qualquer revisão constitucional, aceitará as revisões à legislação laboral, apoiará a diminuição dos salários e desejará as privatizações. Manuel Alegre tem de ser alternativa e só se afirmará como tal dizendo que no seu mandato elas não seriam promulgadas. Em segundo lugar, a campanha eleitoral tem de se transformar em Movimento. O Movimento altera, reconfigura, motiva, dá esperança e junta forças: esse é o desafio! Cavaco Silva é o protagonista do discurso da inevitabilidade, Alegre terá de corporizar a existência de alternativas. Para chegarmos à disputa do centro, temos primeiro de partir de uma Esquerda que já tenha sido conquistada. Esse será o projecto vencedor.

O Bloco de Esquerda também enfrentará desafios na candidatura de Manuel Alegre. Será o desafio de lutar por uma candidatura presidencial vencedora. Criar o movimento necessário para derrotar Cavaco é uma tarefa que tem de ser partilhada por muitos, mas, estaremos à altura dessa enorme tarefa. A escolha é entre Cavaco e Alegre, e não temos dúvidas do nosso lado.

Sobre o/a autor(a)

Deputado, líder parlamentar do Bloco de Esquerda, matemático.
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