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O negócio das principais ETT's

Os lucros e os muitos milhares de trabalhadores afectos a estas cinco grandes ETT’s são um exemplo paradigmático do negócio em expansão da subcontratação mas também das alterações nas relações laborais que se revelam estruturais e atentas às oportunidades que a crise económica traz.
A Randstad é a maior Empresa de Trabalho Temporário (ETT) do país e uma das maiores do mundo. Actualmente, e a nível mundial, a empresa concentra cerca de 2,5 milhões de trabalhadores e em 2009 obteve uma receita de 12,4 mil milhões de euros.

A Randstad é a maior Empresa de Trabalho Temporário (ETT) do país e uma das maiores do mundo. Actualmente, e a nível mundial, a empresa concentra cerca de 2,5 milhões de trabalhadores e em 2009 obteve uma receita de 12,4 mil milhões de euros. Tem uma história de crescimento e de concentração de serviços, tendo absorvido em Portugal, entre outras, a ETT Seléct. Da hotelaria à indústria, da saúde aos callcenters, a Randstad está por todo o lado.

Segundo os dados divulgados no site da empresa, em Portugal o seu contingente diário de trabalhadores temporários é de 30 mil pessoas, somando-se a estes os 400 "trabalhadores internos". No entanto, o relatório de contas de 2009 desta empresa dá conta de cerca de um terço deste número: 11.087 empregados. O negócio corre bem, os lucros de 2009 atingiram um total de 119,97 milhões de euros.

A Randstad demonstra bem como o trabalho temporário e a subcontratação é um negócio rentável, uma vez que os lucros dependem directamente da captura de salários alheios de um conjunto de trabalhadores precários. As empresas utilizadoras chegam a pagar mais 40 por cento sob o salário que é efectivamente pago a cada trabalhador cedido.

A Ranstadt tenta passar uma imagem moderna, divertida e socialmente responsável mas os contratos mensais, ou quinzenais, e a insegurança que oferece não iludem os trabalhadores precários. Para além do negócio da capturação de parte dos salários, as ETT's são também a forma de generalizar a desregulação da relação entre patrão e trabalhador pois as empresas utilizadoras ficam desta forma ilibadas de encargos sociais e a capacidade reivindicativa dos trabalhadores fica afectada por causa da dificuldade de representação sindical. O isolamento e a fragilidade são os atributos da condição da parte que já é a mais fraca, que são os trabalhadores precários.

A Adecco, presente em 74 países, detém um contingente de cerca de 800 mil trabalhadores temporários e 33 mil trabalhadores internos, informa a empresa no seu site.

No seu relatório de contas nacional, de 2009, a ETT Adecco declarava 5.246 trabalhadores, e um volume de vendas próximo dos 50 milhões de euros - 10.796 euros por trabalhador/ano. Caso estas pessoas trabalhassem os 12 meses do ano, o que não acontece, os seus salários poderiam ascender aos 900 euros mensais, valor muito superior à maioria dos salários praticados por qualquer ETT, que rondam o montante do salário mínimo.

Paulo Canôa, ex-director-geral da Adecco, recentemente substituído por David Sanglas, afirmou recentemente que a empresa conquistou 500 novos clientes no primeiro semestre de 2010, tendo aumentado o seu volume de negócios e registando uma taxa de crescimento de 49 por cento face ao ano anterior.

Já a Flexilabor teve um volume de vendas de 22,95 milhões de euros (dados de 2008) à custa de 6 mil trabalhadores precários.

Os sectores que recorrem à subcontratação através de ETTs são cada vez mais diversificados mas o das telecomunicações, e em particular os callcenters, são ainda maioritários. Na Flexilabor, por exemplo, este sector absorve cerca de 40 por cento dos serviços prestados.

A ManPower, ETT fundada em 1948, possui cerca de 800 agências nos Estados Unidos e mais de 4 mil espalhadas por todo o mundo, em 82 países. Em 2008, a empresa facturou 22 mil milhões de dólares, a nível mundial, que resultaram do assalto aos salários de 4,35 milhões de trabalhadores temporários, precários na sua maioria.

Em Portugal, entre 2007 e 2009, esta mesma empresa declarou um volume de vendas anual superior a 10 milhões de euros e é dirigida por Marcelino Pena e Costa, o presidente da associação do sector, a APESPE. O negócio estável das ETT's contrasta com a vida a prazo dos seus trabalhadores.

Um outro gigante do mercado da precariedade é a Kelly. Este grupo empresarial de recursos humanos intitula-se o 4º maior a nível mundial em volume de facturação, com receitas anuais aproximadas de 6 mil milhões de dólares. Está presente em 39 países, com mais de 2600 agências. Uma das secções do grupo engloba as empresas de trabalho temporário (ETT) Kelly Services, fundada em 1946, a primeira ETT dos EUA.

A Kelly Services chegou a Portugal em Novembro de 2008 e aprofundou as suas raízes, com a aquisição de uma parte da ETT Randstad, tendo em 2009 declarado um volume de vendas de 41,03 milhões de euros, resultantes da exploração de 3,75 mil precários, com contratos muito curtos, salários reduzidos e as vidas repartidas nos turnos.

A Kelly Services, tal como as outras ETT's, presta serviços nos mais diversos sectores, das telecomunicações à hotelaria ou à indústria, entre outros, e diz-se “altamente especializada para toda a obra”.

A PT Contact, que assegura ilegalmente a quase totalidade das suas necessidades em mão de obra através de ETT's, tem ao seu dispor uma agência da Kelly Services só para prestar serviços nos seus call centers.

O Grupo Multipessoal, que faz parte do Grupo BES, (GBES) congrega várias "empresas de recursos humanos" que operam em Portugal mas também noutros países, como Cabo Verde. O volume de negócios deste Grupo ronda os 50 milhões de euros resultantes do trabalho prestado por 5 mil trabalhadores a cerca de 400 clientes.

Deste todo faz parte a Multipessoal Empresa de Trabalho Temporário S.A., que opera em Portugal e que declarou um volume de vendas de 21,16 milhões de euros em 2009, o que representa um crescimento de 164,5% relativamente ao ano de 2006.

É de salientar que uma fatia considerável dos serviços prestados pelo Grupo Multipessoal são prestados ao próprio GBES, que lucra assim duas vezes com o trabalho e os salários dos seus trabalhadores temporários. Como exemplo, em 2008, a Multipessoal ETT S.A. prestou 18% dos seus serviços ao Grupo e à Sociedade Geral de Limpezas S.A., também do GBES, prestou 35%. Certamente existe um trabalhador que executa tarefas de limpeza no Banco Espírito Santo através da Sociedade Geral de Limpezas S.A., que por sua vez o contratou à Multipessoal ETT S.A. Portanto, trata-se de um trabalhador que tem em simultâneo 3 patrões que são o mesmo, o Grupo BES.

A expansão e a rentabilidade do mercado das ETT's coincidem com o crescente recurso à subcontratação e ao trabalho temporário para satisfazer necessidades de mão-de-obra permanentes das empresas. 

Os lucros significativos e os muitos milhares de trabalhadores afectos a estas seis grandes ETT’s são um exemplo paradigmático do negócio em expansão da subcontratação mas também das alterações nas relações laborais que se revelam estruturais e atentas às oportunidades que a crise económica traz, nomeadamente o desemprego galopante, que tem um carácter funcional na engrenagem social que transforma todos os desempregados em futuros trabalhadores precários.

 

Fontes: sites das empresas e blogue dos Precários Inflexíveis.
 

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