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“Acordo com a Troika é a política da bancarrota”

No discurso de abertura da VII Convenção Nacional do Bloco, Francisco Louçã apontou os responsáveis da crise e teceu duras críticas ao acordo assinado entre a Troika, PS, PSD e CDS, o qual, diz, “afirma a irresponsabilidade da bancarrota”. O Bloco contrapõe com a “responsabilidade da esquerda socialista”.
Foto de Paulete Matos.

Francisco Louçã começou por sublinhar o percurso do Bloco desde a última Convenção, invocando o “trabalho e dedicação” dos autarcas, dos activistas sociais e dos sindicalistas bloquistas. Lembrou também que os eurodeputados do Bloco estiveram nos principais palcos da revolução Árabe que “trouxe o vento da mudança a países que sofriam regimes autoritários comandados por partidos da Internacional Socialista, na Tunísia e no Egipto”, e também na Islândia, “juntando força àquele movimento que rejeita os pactos e imposições do FMI”.

Já no trabalho parlamentar, Louçã destacou as iniciativas daquela que foi “a maior bancada parlamentar do Bloco” na área da sáude, segurança social e economia. As presidenciais também foram invocadas – Louçã sublinhou a intervenção baseada numa “resposta convergente”, afirmando “Quem sabe escolher os lados do combate e não se engana no adversário, sabe concentrar forças nas respostas fundamentais”.

O Bloco apresentará um programa que responde à urgência da crise social, disse Francisco Louçã, acrescentando que esse programa é para “um governo de esquerda com uma política socialista para responder aos problemas do país”.

O Bloco continua afirmar-se como um “partido movimento”. Segundo Louçã, há na acção do Bloco uma “persistência na unidade com outros, com os movimentos sociais, mesmo com outros que pensam de outra forma”. Como exemplo o dirigente bloquista evocou a Greve Geral de 24 de Novembro e a manifestação de 12 de Março. Para Louçã, o 12 de Março provocou uma “fractura profunda na sociedade”, provou a “força das gerações sacrificadas”. “Foi uma manifestação que levantou soluções e prova que a fractura tem de ser maior, foi um dia luminoso de democracia em Portugal”.

“PS, PSD e CDS assinaram acordo de bancarrota com a troika”

“A troika afirma a irresponsabilidade da bancarrota para governar o país”, disse Louçã referindo-se ao acordo assinado com o apoio do PS, PSD e CDS. O dirigente bloquista critica a postura do primeiro-ministro que anunciou o acordo mas não deu explicações ao país sobre os cortes na sáude, na educação, na pensões e no subsídio de desemprego, sobre o compromisso do despedimento de funcionários públicos, sobre a redução do IMI, as privatizações e os mais 100 mil desempregados. “Não ouviram falar, ele não explicou”, sublinhou Louçã, acrescentando que “fugir à responsabilidade é que é irresponsável”.

Louça não poupou críticas a José Sócrates e ao Partido Socialista, afirmando que com o acordo com o FMI, Sócrates “conduziu o seu partido à maior viragem à direita que o PS jamais ensaiou na sua história”.

“Responsabilidade para com quem precisa mais”

O Bloco apresenta “responsabilidade para com quem precisa mais”, na defesa do estado social e por isso pergunta “quem são os responsáveis pela crise, para onde foi o dinheiro?”

Francisco Louçã lembrou que nos últimos 10 anos, a dívida do país aumentou de 60 mil para 160 mil milhões de euros e denunciou que os 100 mil milhões em falta foram para os estádios “inúteis”, para os submarinos, auto-estradas a mais, para os construtores e para a finança. “O estado endividou-se para favorecer a especulação imobiliária”, criticou Louçã enunciando uma “aliança entre a banca e o sector imobiliário” que fez com que existam 500 mil casas vazias no país e permitiu que se tenha construído o equivalente a uma cidade de Coimbra por ano.

Respondendo à pergunta “para onde foi o dinheiro?”, o dirigente bloquista apontou também as PPP’s e evocou os nomes dos que têm acumulado riqueza com “o roubo do Estado”como Eduardo Catroga, Daniel Bessa ou Nogueira Leite. “É a finança que está instalada no orçamento do Estado provocando a ruína do país e o despesismo sem sentido”. “O pacote da troika insiste nestes erros”, afirmou Louçã lembrando que dos 78 mil milhões do empréstimo, 12 mil milhões vão para banca e 66 mil é para pagamento dos credores internos.

Dando o exemplo de um reformado que com a sua pensão congelada até 2013 perde, na verdade, um mês de pensão por ano, Louçã reiterou que o acordo com a Troika é um “acordo de bancarrota”. “ O esquema não funciona, já vimos como falhou na Grécia”, disse.

“A esquerda do Bloco é um compromisso com o socialismo”

Em alternativa o Bloco propõe a renegociação da dívida “para proteger salários, pensões e empregos” e uma “ambiciosa” reforma fiscal baseada em três novos impostos: sobre a especulação urbanística, sobre as operações bolsistas e sobre as transferências para offshores.

Francisco Louçã frisou que o Bloco é “esquerda que responde à dívida” e que “vale pelos seus valores e compromissos não pede devoção, mas sim responsabilidade, disse ainda contrapondo Sócrates no último Congresso do PS, que pediu adesão incondicional ao líder.

“A esquerda do Bloco é um compromisso com o socialismo”, afirmou Louçã perguntando ao auditório: “Estamos prontos para luta toda, para levantar esquerda, para levantar o país, para responsabilidade?”.
 

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