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Saias curtas, culpas ao largo
As saias que agora devem obedecer a medidas predefinidas e ter um comprimento “adequado” visam garantir a integridade das meninas e dar-lhes uma aparência “decente”.
A normatividade patriarcal e paternalista sobre o comportamento da mulher e a forma como se apresenta, deveria ser, em pleno século XXI, apenas uma lembrança envergonhada. Infelizmente, não raras vezes, recrudesce com todo o vigor nas mais diversas sociedades, um pouco por todo o mundo.
A ideia de que a mulher se deve vestir ‘decentemente’ para sua própria proteção revela a persistente visão da mulher como incitadora dos assédios e a conceção do comportamento agressor como mera reação e, portanto, desculpável. Todos sabem que quando uma mulher veste uma saia curta é porque “anda a pedi-las”. As culpas de quem se investe do direito de assediar e violentar mulheres, ficam ao largo.
Revela igualmente a atribuição à mulher de um estatuto de menoridade e incapacidade que pretende legitimar a sua submissão ao domínio do homem e permitir que este disponha dela conforme entender.
Esta é a mensagem por trás das palavras de Jorge Ferrão e esta é a ideologia que deve ser rejeitada e combatida.
Foi precisamente isso que diversas ativistas dos direitos das mulheres procuraram fazer, no passado dia 18 de março, através da tentativa de realização de uma peça de teatro de rua, como forma de protesto, em frente a uma escola secundária de Maputo.
A atuação das autoridades perante uma manifestação pacífica diz-nos tudo sobre a condição e o lugar que reservam à mulher na sociedade Moçambicana. As feministas foram identificadas e presas. Por ordem do Ministro do Interior, como forma de ‘aviso’, uma das ativistas, Eva Anadón Moreno, de nacionalidade Espanhola e membro do Secretariado Internacional da Marcha Mundial das Mulheres, foi detida a 29 de março pelos serviços de migração sem direito a alimentação, água ou acesso a advogados. Ainda que possuísse documentação legalizada, foi enviada diretamente para o aeroporto no dia 30 de março de onde foi deportada e proibida de entrar no país por dez anos, sem despacho, sem direito a defesa e independentemente dos esforços da Procuradora Geral da República para a sua libertação.
O desenvolvimento de um país mede-se também pelo respeito e pela igualdade entre todos os seus cidadãos e cidadãs. As ações do Governo de Moçambique ferem os direitos das mulheres, promovem a desigualdade e incentivam a discriminação. E uma democracia sustentada na discriminação de uma parte da população não pode ser uma democracia sã nem sequer viável.
Um país cujo Governo impõe medidas atentatórias dos direitos e liberdade das mulheres e que de forma absolutamente autoritária e ditatorial deporta ativistas para calar protestos pacíficos, tem seriamente de reavaliar e reinventar a sua democracia.
Comentários
Em Mocambique temos pra o
Em Mocambique temos pra o horario escolar aulas no perio da manha que em norma e das 7h ate o meio dia, do meio dia ate as 17h e por fim das 17h ate sensivelmente 22h. Isto pra dizer em seguida que a duracao das das aulas sao 6h diarias agora nao vejo o motivo pelo qual a vozes com relacao a posicao tomada pelo MInistro sabendo ainda que as mesmas apos essas 6h voltam em seguida pra suas casas onde podem vestir se como lhes convem se vao para aprender que se comportem como alunos vestindo se de forma adequada e decente pois agrademos. Hoje levanta se essa questao nao sei porque mas quando as escolas proibiram a entradas de alunos de calcoes onde estiveram estas vozes???? Hoje saia curta, desculpa mas esta sendo feito barrulho onde nao ha nada. Ha normas por seguir
Eu sou moçambicano. Acho que
Eu sou moçambicano. Acho que a medida de deportação da sra. Eva foi exagerada. Entretanto, não concordo com o exposto neste texto. Para comentar sobre a medida de proibição de saias curtas em Moçambique, é preciso conhecer a realidade nas escolas moçambicanas e, por outro lado não olhar as coisas sempre na perspectiva eurocentrista. Moçambique tem cultura diferente de europeia. O nível de desenvolvimento humano é muitíssimo diferente. Na Europa é impenável que uma adolescente possa usar seu corpo para poder ter algo para comer em casa ou para poder ter algum dinheiro para comprar roupa, etc. É normal em Moçambique as jovens usarem seu corpo para aliciar os professores, para terem facilidades de passar de classe. Eu já fui professor. Como homem que sou, incomodava-me muito estar a dar aulas, olhando para uma aluna com pernas abertas ou estando junto à carteira dela, para lhe explicar algo enquanto as suas pernas estão todas expostas. Já ouvi várias vezes alunas a falarem entre elas, dizendo que no dia que têm testes, vestem-se propositadamente com roupa provocadora sexualmente, para o professor não poder vigiar bem a elas (pois o professor evita estar próximo delas, para evitar ver partes íntimas delas), para copiarem à vontade. Por isso esta medida vem defender também os professores, para poderem trabalhar à vontade.
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