Está aqui
Resolução do Banif é “inaceitável", Bloco vota contra
Na manhã desta quarta-feira, o parlamento discutiu e votou a proposta de Orçamento Rectificativo que surge no encalço da resolução para o Banif que envolve perda de dinheiros públicos, pelo menos 2.255 milhões de euros. O documento foi aprovado com os votos favoráveis do PS, abstenção do PSD e os votos contra do Bloco, PCP, Verdes, PAN e CDS.
Na sua intervenção inicial, o ministro das Finanças disse que a resolução do Banif é o “preço menor” a pagar pelo facto do atual executivo ter feito em três semanas o que o “anterior governo não fez em três anos”. Mário Centeno disse ainda que “o processo do Banif será o último em que o atual Governo usará dinheiro público na resolução de um problema do setor da banca em Portugal”.
Porém, o Bloco reiterou a sua posição e defendeu que a melhor solução para o Banif seria manter o banco na esfera pública e que a proposta do Governo “não garante os postos de trabalho” e mais uma vez usa o dinheiro dos contribuintes para “limpar” um banco.
“A proposta que nos garante aqui [dirigindo-se ao Ministro das Finanças] é inaceitável, não garante os postos de trabalho e limpa o Banif com o dinheiro dos contribuintes para depois entregá-lo ao Santander. Estamos confiantes e certos de que a melhor alternativa seria o Banif ficar na esfera pública, mesmo que isso implicasse determinação face a Bruxelas”, afirmou Mariana Mortágua.
A deputada do Bloco teceu ainda duras críticas ao anterior Governo da direita que ignorou o problema do Banif para anunciar uma “saída limpa” sem problemas no sistema financeiro. “A anterior Ministra das Finanças teve durante três anos o dossiê Banif fechado em cima da mesa do ministério. O Banif entrou em incumprimento em dezembro de 2013, não conseguiu entrar o dinheiro que o Estado emprestou e nada foi feito”, afirmou.
“O PSD e CDS sabiam que era preciso sorrir e anunciar a saída limpa e isso não é possível com problemas na banca”, acrescentou e insistiu que a ação da direita neste caso foi “um crime”.
O plano do Executivo PSD/CDS era “olhar para o lado e assobiar”, uma vez que em janeiro a Comissão Europeia iria resolver o problema.
Mariana Mortágua sustentou que o plano do Executivo PSD/CDS era “olhar para o lado e assobiar”, uma vez que em janeiro a Comissão Europeia iria resolver o problema. Defendeu ainda que as responsabilidades da direita não podem ser apagadas, nomeadamente pelo facto de o Governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, ter sido reconduzido após os problemas graves, e danosos para Estado, do BPN e do BES.
Durante o debate, em resposta às perguntas do deputado do Bloco Paulo Lino Ascensão sobre as perspetivas de manutenção dos postos de trabalho do Banif, Mário Centeno referiu que as garantias que tem o Governo "são as mesmas que o banco Santander Totta deu no processo de compra". Ou seja, "ficarão cerca de mil trabalhadores na órbita do Santander Totta e os outros 600 trabalhadores do Banif serão colocados no veículo de gestão de ativos constituído no âmbito do fundo de resolução", esclareceu o Ministro da Finanças.
“CDS faz duplo mortal no ritual fúnebre da coligação de direita”
Perante o anúncio do voto contra do CDS, Mariana Mortágua criticou este “duplo mortal” de uma partido que integrou o anterior Governo e tem a “responsabilidade de nada ter feito” para evitar o problema do Banif.
É “o jogo do vale tudo” que integra “o ritual fúnebre da coligação de direita”, disse, acrescentando que compreende essa situação “difícil”: “PSD quer recuperar o seu eleitorado e fazer esquecer que a administração do Banif foi uma espécie de colónia de férias para dirigentes do PSD-Madeira antes da intervenção do Estado” e o CDS quer voltar a ser “o partido dos contribuintes”, embora não “tenha mexido uma palha” para evitar o escândalo do Banif.
A deputada do Bloco voltou a lembrar a recondução de Carlos Costa como Governador do Banco de Portugal, apesar da falência do BES, e sublinhou que graças à ação ou inação da direita, Novo Banco e Banif levaram 5 milhões de euros dos contribuintes. E bem sabemos, “a banca nunca os irá pagar”, sublinhou.
Mariana Mortágua defendeu ainda a urgência de uma nova lei de resolução bancária, já proposta pelo Bloco, para a existência de uma “nova arquitetura institucional” que enfrente as atuais limitações da governação do sistema de resolução em Portugal, em particular no que respeita à capacidade do Banco de Portugal.
Comentários
Auditoria
É uma pergunta que quero colocar: mesmo sendo agora realizada a venda a galope para fugir à mudança de regras europeias a partir de Janeiro de 2016, é possível exigir junto do BCE uma auditoria independente ao Banif? Se sim, precisaríamos de avançar com isso.
O voto do Bloco contra o orçamento rectificativo
O BLoco devia explicar bem, aos seus aderentes e à população em geral, porque é que votou contra o orçamento rectificativo.
Tinha a certeza de que o PSD se absteria, ou correu o risco de o orçamento não ser aprovado e de o governo vir a cair?
Se o orçamento rectificativo não tivesse sido aprovado, o que ganharia o povo português face à solução adoptada pelo governo para o Banif? Porque se justifica que permita ao PSD que "brilhe" apoiando o a solução do governo e evitando a queda deste, o qual teve muito pouco tempo para decidir, tendo em conta que a maioria da população está cheia de esperança nas mudanças que este governo pode trazer e que o Banif só não integrado na CGD porque a UE não permitiu? Justifica-se que se tenha arriscado novas eleições e a possibilidade de PSD/CDS alcançarem desta vez a maioria absoluta e voltarmos ao neoliberalismo radical? O BLoco conhece suficientemente a situação do Novo Banco e da CGD para saber que a fusão dos dois bancos seria viável e benéfica, ou pelo menos melhor do que solução adoptada? Em tão pouco tempo era possível ao governo contrariar a UE?
Todos teriam compreendido que o Bloco votasse a favor apesar de esclarecer que a solução não era do seu agrado.
Na verdade há muita gente zangada com o Bloco por ter votado contra, por várias razões e também porque não se sabendo ainda quem vai ser o PR é não é bom que se crie um ambiente de permanente incerteza acerca a sustentação do governo.
Por tudo isto, é bom que a posição tomada seja convenientemente explicada.
Adicionar novo comentário