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Cheias de deus pai, filho e do Espírito Santo
Calvão da Silva anunciou, numa mistura cristã-pagã, que “A fúria da natureza não foi nossa amiga”, que “Deus nem sempre é amigo” e que as cheias em Albufeira eram um teste, um “período de provação”. Culpas a expiar, seguramente. Calvão sabe que o país pecou ao não reconduzir o governo Passos-Portas com a maioria absoluta que garantiria a absolvição de todos os pecados, a expiação das culpas da nação lusa só alcançável pela recondução dos cilícios e pela mendicidade conformada.
Estando neste momento num purgatório com 9 dias marcados, o atual governo reitera a sua crença na intervenção divina, depois de Assunção Cristas ter referido que aceitava participar no governo por inspiração na figura e nas penas de Jesus Cristo e de Passos Coelho ter anunciado em campanha eleitoral, muito para surpresa do seu ex-empregador e mentor Ângelo Correia, que não se conseguia separar do seu crucifixo.
Nada para demonstrar o respeito pelo Republicanismo Laico como a profissão de fé em figuras divinas, em forças animistas, em símbolos de adoração e, claro no Espírito Santo.
Voltando ao recém-empossado ministro da Administração Interna que coloca a Proteção Civil exposta à fúria de um qualquer Pã ou Poseidon, sabe-se que se unia ao presidente da Câmara Municipal, também laranja de seu credo, na tentativa de evitar declarar o estado de calamidade pública, que o Algarve precisa de turistas e não de calamidades. E, aliás, quem são os homens ou os governantes para contrariar a vontade divina? Terá sido certamente a inspiração do além que levou à construção em leito de cheia e à impermeabilização das zonas de infiltração máxima da cidade de Albufeira. Cumpriu-se portanto apenas a vontade divina, de Thor, Gaia ou até Rá. Aliás, o país no seu todo cumpre obedientemente estas regras de construção divina e acimenta todos os solos para garantir a vontade dos deuses.
Iluminou-se entretanto uma qualquer árvore ou uma estátua chorou sangue, porque já foi finalmente accionado o estado de calamidade pública, permitindo mobilizar meios humanos para lidar com este “Ato de Deus”. Aleluia.
Calvão da Silva lamenta que, perante a “fúria demoníaca da natureza” não se tenham os habitantes e os comerciantes de Albufeira prevenido com uma penitência na forma de tesouro de mérito (neste caso uma indulgência ou seguro à Munich Re, à Tranquilidade ou à Açoreana) contra os maus feitos de Belzebu. Perante as hereges teses de que existem alterações climáticas, nada melhor que invocar o nome do(s) Senhor(es) das companhias de seguro e deixar cair a presunção humana de ter um Estado que responda às necessidades das populações.
A piedade de Calvão da Silva vem de longe provada, atestando que deus ajuda aqueles que se ajudam a si mesmo. Ninguém se pode esquecer de como julgava em 2013 em parecer o senhor jurista: distribuía idoneidade a Ricardo Salgado e louvava-lhe o “espírito de entreajuda e solidariedade” partilhada com o grande construtor José Guilherme. Aos dois amigos não se lhes podia censurar por terem “gosto em dar sugestões, conselho ou informações a outro amigo”, e naturalmente remunerá-las com 14 milhões de euros não declarados. Pois não era Ricardo Salgado, além de diretamente relacionado com a trindade, por via da sua herança de Espírito Santo, o Dono Disto Tudo? Ninguém poderia alguma vez ser dono disto tudo sem licença divina. Em nome do pai do filho e do Espírito Santo Salgado.
Comentários
Amen.
Amen.
E já agora pedir a Deus:
1 intervenções imediatas para controle dos riscos de cheia
2 promover a elaboração urgente de cartas de risco de cheias urbanas
3 promover acções de conservação e manutenção dos sistemas de drenagem
4 promover a adopção de novos critérios de projectos de infra-estruturas de drenagem
5 promover a melhoria da informação publica sobre as zonas de risco de cheias urbanas
6 ter em conta e cumprir o dec lei n. 364/98
Rezar muito para que no futuro a precipitação não saia fora do período de retorno, visto que a probabilidade de inundação naturalmente aumenta.
Valha-nos Deus!
Com um governo que tem Pedro
Com um governo que tem Pedro e Paulo e uma ministra que se inspira em Jesus, parece natural ter um ministro que recomenda o Espirito Santo e faz mensagens bíblicas sobre intempéries e ordenamento do território... Faltam os acólitos Abominável das Neves e um tal franciscano (à moda da Bairrada) que por aí anda.
João Camargo
João Camargo
De Deus posso esperar de tudo e nada, porque sou um ateu católico (numa próxima oportunidade poderei esclarecer o conceito). Mas seria mais certa a minha pouca fé, se Calvão da Silva fosse levado pela fúria das águas, e sem socorro dessa à costa nas nossas Ilhas Selvagens. E para não estar lá sozinho, que fosse também o Rui Machete, o Oliveira e Costa, o Ricardo Salgado, ... (a seu tempo mandarei a lista completa).
E olhe que isto é mesmo só por boas e nacionais razões. Espanha deixaria de ter argumentos para reivindicar as ilhas, que agora até já estariam habitadas por boa gente portuguesa...
Abraços,
Paulo Figueiredo (social-democrata, monárquico)
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