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“O Estado tem gasto muito dinheiro a destruir a qualidade do emprego”

No encerramento do Fórum Socialismo 2015, Catarina Martins apresentou a recuperação do emprego e da qualidade do emprego como uma das prioridades do Bloco, acabando com os CEI, os falsos estágios e o falso trabalho temporário.
Foto Paulete Matos

A porta-voz do Bloco falou no encerramento da edição mais participada de sempre do Fórum Socialismo, que se realizou este fim de semana no Porto. Através de uma apresentação multimédia, Catarina Martins explicou os números da evolução do emprego e do rendimento dos trabalhadores em Portugal nos últimos anos. Com o início da campanha eleitoral marcado por uma guerra de números sobre o emprego, com o governo “a manipulá-los com caras sorridentes”, Catarina Martins responde que “o problema não é serem números, é serem a realidade das nossas vidas”.

“O emprego é a questão essencial do país. No Bloco não temos nenhuma dúvida que a construção da alternativa passa pelo emprego e pela qualidade no emprego”, defendeu a porta-voz do Bloco. “O país tem menos emprego e menos desemprego. Como é isto possível?”, questionou, elencando em seguida as várias modalidades que o governo usa para esconder os desempregados, como os “programas de formação de duas horas sobre empreendedorismo a pessoas que não têm dinheiro para pagar a conta da luz” ou “pôr pedreiros e pintores com anos de experiência a fazer as pequenas obras que fazem falta no centro de formação, na Santa Casa ou IPSS do concelho”.

Também os falsos estágios estão a substituir o emprego, prosseguiu a porta-voz bloquista: “O Estado paga às empresas para em vez de criarem postos de trabalho tenham estagiários, os novos ‘sem-direitos’ em Portugal: não têm os direitos dos trabalhadores quando trabalham, nem proteção no desemprego quando o estágio acaba”.

“Contas feitas, há em Portugal menos 389 mil postos de trabalho do que em 2011. O resto é manipulação dos números”, resumiu, falando também dos Contratos Emprego Inserção, que juntam "três palavras para três mentiras: não são contrato porque não há vínculo, não são emprego porque não há salário, não são inserção, porque no final as pessoas vão para o olho da rua e não são inseridas em lado nenhum”. Ou seja, acrescentou, “são os trabalhos forçados do século XXI”.

Também os falsos estágios estão a substituir o emprego, prosseguiu a porta-voz bloquista: “O Estado paga às empresas para em vez de criarem postos de trabalho tenham estagiários, os novos ‘sem-direitos’ em Portugal: não têm os direitos dos trabalhadores quando trabalham, nem proteção no desemprego quando o estágio acaba”.

“Paulo Portas diz que não é o Estado que cria emprego. Mas o Estado tem gasto muito dinheiro a destruir a qualidade do emprego em Portugal. Que economia temos nós, quando há empresas a pagar 30 euros por mês a um trabalhador e um doutorado pode ser contratado por 250 euros?”, questionou.

“Governo fez aumentar o negócio da pobreza”

Os cada vez mais baixos salários dos trabalhadores portugueses foi outro ponto em destaque na apresentação. “Um em cada cinco trabalhadores ganha o salário mínimo nacional. Uma mãe que ganhe o salário mínimo fica imediatamente abaixo do limite de pobreza. O salário médio bruto dos novos contratos é de 581 euros, mal se distingue do salário mínimo nacional”, resumiu Catarina Martins antes de responder a Passos Coelho, que disse este domingo que a prioridade do país é combater as desigualdades. "Depois de ver o que fizeram nos últimos quatro anos, é como dizerem que há um problema de regulação a banca e convidarem Oliveira e Costa ou Ricardo Salgado para o Banco de Portugal”, ironizou a porta-voz do Bloco.

Catarina Martins destacou ainda o aumento do “negócio da pobreza”, com os cortes nos apoios sociais e o aumento das transferências de dinheiros públicos para as IPSS. “Um casal com um filho recebe 374 euros de RSI, mas uma cantina social recebe 600 euros para alimentar essa família. A isto chama-se fazer da pobreza um negócio. O mesmo se passa na Educação, na Saúde e na Segurança Social. Quando nos dizem que não há dinheiro devemos perguntar para onde é que ele está a ir”, prosseguiu.

As propostas do Bloco: Reforma fiscal, renegociação da dívida, criação de emprego

A concluir a sessão de encerramento, Catarina Martins resumiu os eixos centrais das propostas que o Bloco apresenta ao país na campanha das próximas semanas: “Reforma fiscal para recuperar valor dos salários e pensões e assim relançar a economia. Libertar recursos públicos para o investimento que faz falta, com a renegociação da dívida. São duas medidas permitem recuperar 8 mil milhões para a economia”, afirmou.

“Nestas eleições temos duas escolhas: seguir o caminho da subserviência e do empobrecimento ou recuperar salários, emprego e direitos. Não há caminhos fáceis, mas sabemos que há caminhos de destruição e caminhos de dignidade, e este é o que escolhemos”, concluiu.

“Reduzir o trabalho para as 35h semanais, numa sociedade com tanta gente a trabalhar mais horas do que queria e tantos outros desempregados, e garantir a reforma por inteiro a quem tem 40 anos de descontos distribui trabalho, cria emprego e aumenta a produtividade do país”, prosseguiu Catarina Martins, defendendo que os “CEI, falsos estágios e falso trabalho temporário têm de acabar. A exigência radical dos nossos dias é a exigência da decência: que em cada posto de trabalho haja um contrato de trabalho”.

“Nestas eleições temos duas escolhas: seguir o caminho da subserviência e do empobrecimento ou recuperar salários, emprego e direitos. Não há caminhos fáceis, mas sabemos que há caminhos de destruição e caminhos de dignidade, e este é o que escolhemos”, concluiu.

A sessão de encerramento contou ainda com os agradecimentos de José Soeiro aos convidados, participantes e militantes do Bloco que ajudaram a construir a iniciativa de debates, e as intervenções de António Chora e Ana Luísa Amaral. O mandatário nacional da candidatura do Bloco às legislativas fez o retrato da situação do desemprego nos últimos quatro anos e atacou a alternância prometida por António Costa, que “pode dizer tudo e o seu contrário porque quer o voto da esquerda política sem assumir compromissos, e assim ficar de mãos livres para continuar a ser alternância em vez de ser alternativa”.

A poetisa Ana Luísa Amaral defendeu a necessidade de alternativas à situação atual numa Europa que “passou a significar a hegemonia das chamadas indústrias financeiras, conluiadas com a banca e governos corruptos, mas ao mesmo tempo é um sinónimo de salvação para os seres humanos que fogem da guerra civil” em muitos países.

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