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Mudanças climáticas: estudo sugere que uma em cada seis espécies está ameaçada de extinção

Pela primeira vez na história, é a ação humana, organizada num tipo determinado de estrutura social, a capitalista, que pode levar à aniquilação da vida no planeta, incluindo a extinção da própria espécie humana.
A águia da Nova Zelândia, a maior águia de que se tem notícia, foi extinta ao redor de 1400. Pode ter pesado de 10 a 15 quilos e as suas asas abertas poderiam ter chegado a três metros.
A águia da Nova Zelândia, a maior águia de que se tem notícia, foi extinta ao redor de 1400. Pode ter pesado de 10 a 15 quilos e as suas asas abertas poderiam ter chegado a três metros.

Em estudo recente, publicado na Science, o pesquisador Mark C. Urban, da Universidade de Connecticut, nos EUA, afirmou que “O resultado sugere que os riscos de extinção vão acelerar-se com a futura temperatura global, ameaçando uma em cada seis especies sob as atuais políticas.”

A importância do estudo de Urban reside no facto de acrescentar mais um alerta cientifico sobre a ameaça que as mudanças climáticas representam para a vida no planeta.

A extinção das espécies: um número inacreditável

Quando falamos de extinção, as imagens que nos vêm à cabeça são as da matança das baleias, dos golfinhos, dos pandas, tigres e, recentemente dos orangotangos e ursos polares.

Mas, se considerarmos os números que podem representar a vida no planeta, a catástrofe ecológica atinge, já, um número inacreditável.

Segundo o cientista Edward O. Wilson, no seu livro “Future of life”, “quantas espécies existem no mundo? Algo em torno de 1,5 e 1,8 milhão foram descobertas e receberam nomes científicos. As estimativas, dependendo do método utilizado, variam de 3,6 milhões a 100 milhões ou mais. A média das estimativas é pouco maior do que 10 milhões, mas poucos especialistas arriscariam a sua reputação insistindo nesse valor ou qualquer outro, mesmo com relação ao próximo milhão. A verdade é que mal começámos a explorar a vida na terra.”

Como vemos, os números são incríveis, já que incluem animais, plantas, e microrganismos que sequer vemos e, também, sabemos que parte dessa vida já está extinta e o resto pode desaparecer nos próximos anos. Ainda de acordo com Wilson, “podemos dizer com segurança que, pelo menos, um quinto das espécies de plantas e animais podem desaparecer ou estar próximas da extinção em 2030 e metade até o final do século.

A extinção das espécies animais ou vegetais avançou de forma rápida durante o seculo XX, com a expansão capitalista, e continua de forma dramática durante o atual. O facto de os números existentes não serem grandes provoca uma ilusão, já que decretar uma espécie extinta é um processo que leva anos, até se confirmar que não existe mais nenhum espécime. O outro motivo que algumas espécies contam com apenas um indivíduo ou alguns indivíduos, que já não podem mais reproduzir-se. Outra parte diz respeito às espécies que foram extintas sem que tenham sido descobertas ainda e, que, finalmente serão classificadas no futuro com a descoberta de seus restos.

O capitalismo acelera a extinção da vida no planeta

A extinção da vida faz parte da história do planeta. A mais famosa delas é a extinção de seres como os dinossauros, que povoa, inclusive, o imaginário das nossas crianças, ainda que essas não tenham consciência do fenómeno. Foi uma extinção massiva, cuja causa permanece indefinida, ainda que uma grande parte da comunidade cientifica acredite que foi provocada pela queda de um gigantesco meteorito.

A águia da Nova Zelândia, a maior águia de que se tem notícia, foi extinta ao redor de 1400. Pode ter pesado de 10 a 15 quilos e as suas asas abertas poderiam ter chegado a três metros. Foi classificada cientificamente, após a sua extinção, por Julius von Haast, em 1871, através de restos encontrados por F. Fulereno. No caso dessa águia, a extinção pode ter sido provocada pela ação humana, que dizimou uma ave dessa região, que poderia ter sido item principal de sua alimentação.

As engrenagens sociais que levaram o navegador português Fernão de Magalhães à aventura da circunavegação foram um marco importante na história humana. A partir desse ponto, em poucos séculos chegaríamos à atual globalização e, nesse trajeto, foram deixados um rastro que se mantém interminável de extinção da vida.

O predomínio do atual modo de produção capitalista acentuou a devastação da vida. Isso pode ser confirmado na afirmação de Mike Barrat, diretor do WWF (World Wide Fund for Nature – em português: Fundo Mundial para a Natureza): “nós perdemos metade da população animal”, referindo-se aos últimos 40 anos, em artigo publicado pelo The Guardian.

O avanço do capitalismo em todo o planeta e o crescimento populacional, com os atuais 7 mil milhões de habitantes, tem devastado com rapidez avassaladora a natureza. A destruição do meio-ambiente para a extração dos recursos naturais – madeira, minério – e também para a expansão urbana, bem como atividades agrícolas e pecuárias. E é essa mesma destruição ambiental para a manutenção da sociedade industrial que também é responsável pela atual catástrofe climática.

Segundo o estudo de Urban, os riscos de extinção são maiores na América do Sul, Austrália e Nova Zelândia.

“Os estragos já feitos não podem ser reparados em nenhum espaço de tempo significativo para a inteligência humana. Os registos fósseis mostram que uma nova flora leva milhões de anos para evoluir para a riqueza do mundo anterior ao homem.”, afirma Wilson no seu livro “The diversity of life”.

Ainda que toda esta discussão se mantenha polémica, principalmente pela existência de interesses económicos opostos, pela primeira vez na história é a ação humana, organizada num tipo determinado de estrutura social, a capitalista, que pode levar à aniquilação da vida no planeta, incluindo a extinção da espécie humana.

Essa realidade já é compreendida por milhões de pessoas no planeta; no entanto, não existe uma resposta para a seguinte pergunta: “Quanto tempo nos resta?” Mas todos os dados científicos mostram que não é tanto tempo assim.

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