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Três gerações de maio
A geração da minha mãe foi, provavelmente, a primeira a viver melhor do que a dos seus pais. Foi, necessariamente, a mais preparada para ver o futuro para além dos quatro muros de onde antes só se saía a salto. A geração da minha mãe foi, certamente, a única que ficou presa à liberdade e não precisou, por isso, da liberdade forçada de quem tem de fugir de onde quer estar. É a geração dos jovens de 74, da aliança entre estudantes e trabalhadoras, dos cadernos de educação popular, do PREC e da festa (pá!) que foi abril em maio.
Antes dela, a geração do meu pai foi a “sede da espera que só se estanca na torrente”. A geração dos que só podiam querer tudo porque nunca tiveram nada, dos que viveram metade da vida a lutar por sobreviver e sonhar poder viver coisa melhor. Presos, calados ou clandestinos, pobres, desenrascados ou emigrados, foram elas e eles os primeiros construtores de abril e de maio.
41 anos depois, a minha geração está mais perto de trabalhar à jorna do que a da minha mãe. E já esteve mais longe de não ter nada como a do meu pai. É a geração que perde, junto com os direitos, a memória das lutas que os conquistaram e a sua tangibilidade. É a geração que, em breve, deixará de ter saudades do que nunca conheceu: contratos de trabalho, salário digno, direito a um horário, ao Trabalho. É a geração que terá de reconstruir maio e, provavelmente, abril.
São três gerações que se cruzaram numa linha cronológica para nos provar – uma vez mais- que a história não é linear, que os avanços e recuos se fazem na luta, que as classes ainda ditam a diferença entre o passado e a semente.
Somos três gerações que se encontraram, cada uma à sua maneira, nos direitos do trabalho como fator de futuro. Fosse quando a exploração foi a outra face da violência fascista. Fosse quando a liberdade ganhou as cores do socialismo. Seja agora quando a minha geração volta a cantar a emigração (“este parte, aquele parte”).
Somos três gerações que aprenderam, cada uma à sua maneira, que abril só floresce em maio.
Comentários
É assustador...Vivi em
É assustador...Vivi em criança no tempo das "vacas gordas", como dizia o povo, em que quase toda a gente tinha uma casa, porque havia poder de compra, porque a banca não era o que é hoje em dia, e porque toda a gente tinha trabalho, um contracto de trabalho. De fato na minha, na nossa geração, é tempo de "vacas magras", só se ouve falar em cortes e a desigualdade social cresce a cada dia havendo pessoas que já nem ao subsidio desemprego têm direito e continuam sem encontrar trabalho, isto é viver com dignidade?! Pais que tiveram que fazer sacrificios para permitir que os seus filhos continuassem a estudar para depois vê-los partir porque NÃO HÁ TRABALHO...pessoas da nossa geração que continuam a viver com os pais, que não têm oportunidade de constituir uma familia, como os nossos pais tiveram, porque recebem bolsas de trabalho de 690€, isto é viver com dignidade?! Mas, também me preocupa a geração que vem a seguir...o que será da geração vindora se estas politicas de austuridade continuarem?!Cabe a nós, à nossa geração, lutar contra a austuridade para melhorar o nosso presente e encaminhar a geração vindora para que tenha uma vida com mais dignidade, com mais oportunidades, com mais liberdade, numa sociedade que, espero eu, seja mais democratica que a nossa!
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