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Eduardo Galeano: Bolívar com uma caneta

O meu amigo e camarada Eduardo Galeano estivera doente há algum tempo, mas o tratamento deu certo e ele recuperou e voltou a escrever outra vez. Quando me pediram para falar sobre ele numa entrevista à rede de televisão Telesur, eis o que disse:
O que Bolívar tentou obter com a espada, Galeano fez com a caneta. Procurou unir o continente contra o imperialismo norte-americano. Falou pelas vozes subterrâneas do continente quando as ditaduras militares apoiadas pelos EUA esmagaram a democracia na maior parte da América do Sul; falou por aqueles que estavam a ser torturados; falou pelos povos indígenas esmagados pela dupla opressão do Império e das oligarquias crioulas.
Era otimista ou pessimista? Era as duas coisas, e frequentemente era-o em simultâneo, mas nunca perdeu a esperança.
Era otimista ou pessimista? Era as duas coisas, e frequentemente era-o em simultâneo, mas nunca perdeu a esperança. Esta permaneceu forte toda a sua vida, como é visível nas suas palavras líricas sobre a história da América do Sul. A História escrita como poesia. Está presente no seu jornalismo, da Marcha no Uruguai dos anos 60 até ao La Jornada no México dos nossos dias. Nunca foi dogmático, sempre aberto a novas ideias.
Após a tirania das ditaduras, compreendeu, como muitos outros, que a luta armada tinha sido um desastre, que a Revolução Cubana não podia ser imitada cegamente. O nascimento dos novos movimentos sociais e as vitórias bolivarianas foram uma fonte de inspiração e de preocupação. Ele não queria ver repetidos os velhos erros. Sempre que nos encontrámos, percebi nele este sentimento forte. Não fôramos simplesmente derrotados pelo inimigo, insistia, mas também, até certo ponto, por nós mesmos.
Ele escreveu com uma simplicidade bíblica, com força e política, tendo a história como professora.
Leiam Galeano, é o que recomendo a todos os jovens aspirantes de esquerda ao jornalismo. Não o copiem. Aprendam com ele.
Tariq Ali é o autor de “The Obama Syndrome” (Verso).
Artigo publicado no Counterpunch.
Tradução de Luis Leiria para o Esquerda.net.
Comentários
Grande Tarik Ali, falou pouco
Grande Tarik Ali, falou pouco e falou muito, como aliás, corresponde em geral e muito em particular, de Galeano se tratando.
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