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Alfredo Barroso abandona o PS de que foi fundador

Militante nº 15 diz que não é possível continuar a militar no partido cujo secretário-geral declara que Portugal está hoje melhor do que há quatro anos e ainda presta vassalagem “à ditadura comunista e neoliberal da República Popular da China”. Afirma que não vai entrar em nenhum partido, mas irá apoiar e votar no Bloco de Esquerda.
Declaração de António Costa é uma humilhação e uma vergonha para todos os socialistas, diz Alfredo Barroso. Foto do Facebook de AB
Declaração de António Costa é uma humilhação e uma vergonha para todos os socialistas, diz Alfredo Barroso. Foto do Facebook de AB

Indignado com o que considera a “ignóbil chinesice” de António Costa, Alfredo Barroso, fundador e militante número 15 do Partido Socialista anunciou que abandona o partido depois de ver o secretário-geral a “prestar vassalagem à ditadura comunista e neoliberal da República Popular da China”, e a declarar, “sem o menor respeito por centenas de milhares de desempregados e cerca de dois milhões de portugueses no limiar da pobreza, que Portugal está hoje melhor do que há quatro anos”.

Barroso diz ainda que não vai aderir a qualquer outro partido, mas vai apoiar e votar no Bloco de Esquerda, “tentando contrariar o oportunismo daqueles que se tornaram dissidentes do BE aproximando-se do PS de António Costa, à espera de um 'lugarzinho' na mesa do orçamento, ou seja, na distribuição de cargos num futuro governo”.

Em seguida, os posts de Alfredo Barroso:

DEPOIS DA IGNÓBIL «CHINESICE» DE COSTA, ABANDONO O PS, E É JÁ!

Sou um dos fundadores do PS (em 1973) e sou, hoje, o militante número 15 do partido (com as quotas em dia). Mas já chega! Nunca me passou pela cabeça que um secretário-geral do PS se atrevesse a prestar vassalagem à ditadura comunista e neoliberal da República Popular da China, e se atrevesse a declarar, sem o menor respeito por centenas de milhares de desempregados e cerca de dois milhões de portugueses no limiar da pobreza, que Portugal está hoje melhor do que há quatro anos. A declaração de António Costa é uma vergonha!

A declaração de António Costa é uma vergonha!

Ainda esta semana, enviarei à direcção do PS (hoje tenho vergonha de escrever por extenso Partido Socialista) uma carta muito simples, sem considerandos ou justificações, solicitando, pura e simplesmente, a minha desfiliação do partido. Tenho 70 anos e quero acabar a minha vida com alguma dignidade e coerência. O que não é manifestamente possível continuando a militar no PS!

Para além da inqualificável «chinesice» do actual secretário-geral do PS, não é difícil encontrar os fundamentos ideológicos e políticos da minha atitude no livro que publiquei em 2012, sobre «A Crise da Esquerda Europeia», assim como nas conferências que fui fazendo e nos ensaios que fui publicando.

Não, não vou aderir a qualquer outro partido. Mas vou apoiar e votar no Bloco de Esquerda, tentando contrariar o oportunismo daqueles que se tornaram dissidentes do BE aproximando-se do PS de António Costa, à espera de um «lugarzinho» na mesa do orçamento, ou seja, na distribuição de cargos num futuro governo.

Vou apoiar e votar no Bloco de Esquerda, tentando contrariar o oportunismo daqueles que se tornaram dissidentes do BE aproximando-se do PS de António Costa, à espera de um «lugarzinho» na mesa do orçamento

Sou dos que passaram pela política - pela Administração Pública, pelo Governo e pela Presidência da Repúiblica - sem qualquer propósito de se governarem. E é certo que não me governei. E ainda bem. Orgulho-me disso!

Não duvido das miseráveis campanhas que a «ralé» que tomou conta do «aparelho» do PS é capaz de se atrever a desenvolver contra mim.

"A «CHINESICE» DE COSTA É UM TIRO DE CANHÃO NO CORAÇÃO DO PS

Este foi o passo fatal que António Costa, secretário-geral do PS, nunca devia ter dado, por uma questão de coerência e dignidade, e por respeito pelas centenas de milhares de desempregados e pelos milhões de portugueses no limiar da pobreza, vítimas da brutal política de austeridade levada a cabo, com crueldade e enorme insensibilidade, pelo governo de extrema-direita neoliberal de Passos Coelho e Paulo Portas, com a conivência de Cavaco Silva.

António Costa admitiu que Portugal está numa situação «bastante diferente daquela em que estava há quatro anos», ou seja, para melhor. A afirmação do actual secretário-geral do PS (António José Seguro deve estar a rir de mim a bandeiras despregadas) foi proferida há poucos dias (em 19 de Fevereiro), no Casino da Póvoa, perante uma «plateia» de chineses radicados em Portugal, a pretexto da celebração do Ano Novo Chinês. O Ano da Cabra, caramba!

Segundo o EXPRESSO Diário, «depois de elogiar 'a relação e forma extraordinária como a comunidade chinesa se tem integrado' no nosso país, o actual presidente da Câmara Municipal de Lisboa reconheceu o 'apoio' que 'os chineses e os investidores chineses' deram nestes últimos anos a Portugal'». Disse ele: «Como nós dizemos em Portugal, os amigos são para as ocasiões. E numa ocasião difícil para o país, em que muitos não acreditaram que o país tinha condições para enfrentar e vencer a crise, a verdade é que os chineses, os investidores chineses, disseram 'presente', vieram e deram um grande contributo para que Portugal pudesse estar hoje na situação em que está, bastante diferente daquela em que estava há quatro anos atrás». E agradeceu «à China todo o apoio que nos deu». Prestou assim miserável vassalagem à ditadura simultaneamente comunista e neoliberal que impera na República Popular da China.

Não admira que a direita portuguesa, por via de um dos extremistas mais reaccionários do CDS-PP, o eurodeputado não-cónego Nuno Melo, tenha aproveitado este agradecimento de António Costa à ditadura chinesa para reclamar que o actual secretário-geral do PS «agradecesse da mesma forma aos portugueses que o tornaram possível». Uma humilhação e uma vergonha para todos os socialistas (pelo menos os que o são mesmo!), através de um vídeo que, ao que parece, se tornou viral, graças a um dos mais populares blogues da direita portuguesa, o «Blasfémias», que o intitulou «Portugal está diferente».

Depois disto, eu só desejo que António Costa vá para o raio que o parta, mais a canalha de direita que tomou conta do PS. Por mim, vou-me embora deste partido que ajudei a fundar, e é já!

Agora só falta mesmo o PS apoiar como candidato a Belém o advogado de negócios António Vitorino, que vai ser o próximo presidente da assembleia geral da «chinesa» EDP e membro do respectivo conselho geral, presidido pelo ignóbil Eduardo Catroga.

Ah, é verdade, e porque não, já agora, apoiar o inefável Jorge Coelho como candidato a primeiro-ministro?!

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