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Os pretos do islão
“Não sabem o quanto eu vos odeio, raça do caralho, pretos de merda”. O racismo é ódio convencido. É um ódio assim. E um ódio assim tem sempre um juízo de superioridade cultural que o anima. Os agentes policiais que agrediram estupidamente Flávio Almada e os seus quatro companheiros do Bairro da Cova da Moura mostraram ao país o que o país é. Porque eles expressaram pela força bruta e pelas palavras brutas o racismo profundo que habita a gente anónima e a imagem disseminada que Portugal faz de si próprio.
O racismo é uma marca funda da realidade portuguesa. E, como quase sempre, é uma marca que se nega a si mesma ou que se traveste. No discurso do dia a dia, os portugueses brancos ou nunca se assumem como racistas ou, mais ainda, veem-se como tendo um relacionamento excecional com os pretos, disponíveis para “os ensinar” ou até para “lhes reconhecer direitos fundamentais”. Nisto, o racismo português é um racismo como os outros, sempre convencidos da sua excecionalidade benigna e do seu caráter meramente ocasional.
Ora há um exercício da auto-análise que Portugal continua a teimar não fazer. Talvez muito do desinvestimento no lugar das ciências sociais tenha a ver com essa demissão. Mas a realidade das coisas é que o racismo impregna as raízes de muitas imagens e de muitos discursos na sociedade portuguesa. Os estereótipos sobre o povo cigano ou sobre as mulheres brasileiras, a crescente islamofobia ou a difusa associação da criminalidade violenta a grupos étnicos específicos são apenas algumas expressões mais claras desta cultura racista.
É muito sintomático que, ao espancarem um jovem preto, os agentes policiais agressores tenham gritado "vocês deviam era alistar-se no Estado Islâmico". Há nesta associação absolutamente espúria dos jovens pretos ao fundamentalismo islâmico agressivo a revelação dos fantasmas incultos que povoam o imaginário de tanta gente em Portugal. Nesse imaginário sempre amedrontado com o diferente, o preto e o islão são uma e a mesma ameaça à indiscutida superioridade cultural do cristianismo branco. Esse imaginário que junta acriticamente um ‘nós’ para o opor ainda mais acriticamente a um ‘eles’ igualmente artificial é hoje uma ameaça maior à democracia completa em Portugal. Avesso ao exigente diálogo intercultural, esse imaginário cheio de fantasmas que a agressão policial aos jovens da Cova da Moura mostrou na sua crueza, sementa, exclui, agride. Entre ele e a criação de um partido dos “Verdadeiros Portugueses” vai um passo. Pequeno.
Comentários
José.. que texto triste.
José.. que texto triste. Penso que a sua mentalidade fumenta o racismo na medida que se alguma pessoa pertencendo a um grupo minoritário tenha a infelicidade de ler este texto fique realmente a odiar o povo Português simplesmente porque meia dúzia de policias doentes mentais se lançaram numa investida racista contra alguns jovens na Cova da Moura. Como pode você generalizar uma atitude baseada num acontecimento recente? julgo e sendo eu também de origem estrangeira que as gerações mais antigas portuguesas eram bem menos tolerantes e aceitavam menos bem as pessoas vindas de fora do país, mas felizmente isso tem vindo a mudar na medida que os nossos jovens aceitam neste momento toda as pessoas sem qualquer tabus ou odio (podemos dizer que vivemos todos em paz numa sociedade pacifica e extremamente moderada). A afirmação feita sobre o estado islâmico mostra perfeitamente o grau de ignorância destes homens que não fazem sequer ideia do que se trata. O racismo existe em todas as culturas, países e "raças" e penso que Portugal esta realmente tranquilo nessa materia.. experimente viver em França, Bélgica e em certas regiões de inglaterra e verá o que o racismo pode realmente fazer e como afeta as pessoas.
Achei o seu texto extremamente juvenil e pouco razoavél para alguém que está neste momento na vida politica e no mundo do ensino. espero que não continue a generalizar o povo português da mesma maneira que estes policias generalizaram os infelizes miudos africanos.
Queria dizer-lhe que os
Queria dizer-lhe que os miúdos são portugueses e não africanos.
E o que é que ser Português
E o que é que ser Português tem de especial? Basta haver um papel que o diga e puff, é-se Português.
Triste
Triste
Caro Nicholas, deixe-me ser totalmente sincero consigo: triste mesmo é aceitar o discurso dominante de que não há racismo em Portugal e que tudo não passa de atitudes excecionais de uns tipos doentes. Foi sempre assim. E é tão trsite que se continue a ignorar o racismo profundo que invade os nossos discursos e as práticas quotidianas de discriminação nas mais pequenas coisas... Isto dito, quero agradecer-lhe ter classificado a minha opinião como 'juvenil'. Ficaria preocupado se a classificasse como 'idosa'.
A opinião do Dr. Pureza,
A opinião do Dr. Pureza, escrita ao estilo de magister dixit, só pode ser reflexo da imagem que o senhor preofessor vê quando se mira ao espelho. Todos nós seres humaanos temos os nossos preconceitos, incluindo o racismo de um branco aos nacionais da sua cor e de pretos a pretos. Generalizações gratuitas como esta, desprovidas de dados científicos, exacerbam paixões que, pela sua irracionalidade, contribuem mais para alimentar o fogo do racismo e da xenoofobia que para apagá-los. Tenha atitudes pedagógicas inclusivas.
Não concordo consigo, José
Não concordo consigo, José Manuel Almeida. Salvo raras exceções, o racismo nunca se assumiu como política geral e sempre se refugiou atrás da desculpa de que só havia comportamentos excecionais de racismo. Esta tese de que o racismo é um desvio pontual de uns tontos e não uma cultura é muito comum. A minha opinião é contrária a esta tese - entendo que o racismo é uma cultura muito presente na sociedade portuguesa e que a discriminação racial nas mais pequenas coisas é uma realidade indisfarçável. Agradeço a sua orientação, dada com tanto ênfase, de que eu tenha atitudes pedagógicas inclusivas. Vou tentar seguir esta sua ordem, dada com um claro tom de magister dixit.
O grande texto do D.r Pureza.
O grande texto do D.r Pureza. "O racismo existe em todas as culturas, países e "raças" e penso que Portugal esta realmente tranquilo nessa matéria. experimente viver em França, Bélgica e em certas regiões de inglaterra e verá o que o racismo pode realmente fazer e como afeta as pessoas." claro que Portugal nessa matéria esta tranquilo, não és tu ( Nicholas) a ser espancado, insultado e a vezes até assassinado. Por isso esta tudo tranquilo, vivendo sobre a alçada do privilegio, enquanto que os outros sofrem.
muito obrigada e parabéns por
muito obrigada e parabéns por este magnífico artigo. Estou totalmente de acordo e subscrevo cada palavra.
Também eu vivo fora de Portugal, na Holanda, e jamais senti neste país - q não é de todo perfeito! - o imenso racismo q conheci em Portugal.
Convivi muitíssimo com africanos e sei bem do q falo. Sei como os meus queridos conterrâneos e até muita gente de "esquerda" (...) me olhavam e os comentários q recebia.
Aqui na Holanda, infelizmente, o racismo continua a ser praticado por portugueses contra os seus próprios patrícios e sobretudo contra polacos... parece q está na massa do sangue ser contra quem é pobre e explorado... jamais se viram contra o poder... é mais fácil atirar contra quem está em baixo...
Não gosto de religiões. De nenhuma. São todas intolerantes e semeiam e apoiam a ignorância e a aceitação do estabelecido.
Mas a comparação q fazes entendi-a muitíssimo bem.
Felizmente nem todos temos "os nossos preconceitos". E mesmo os q ainda permanecem podemos e devemos lutar contra eles.
Assim me posiciono e luto por isso.
Parabéns e grata pelo artigo
É espectável que o racismo
É espectável que o racismo exista. O cérebro humano é muito bom a detectar padrões pois tal característica sempre foi útil à sobrevivência.
Desculpem a arrogância, mas
Desculpem a arrogância, mas por alguns dos comentários, faz-me um bocado confusão que pessoas com mais preconceitos do que cultura possam ser leitores do 'Esquerda.net'. Na minha opinião, o texto de JMPureza é exemplar. Para além de escrito a propósito de acontecimentos recentes e verdadeiramente revoltantes, expende conceitos que, embora pessoais, me parecem verdadeiros e capazes de ser subscritos por muitìssima gente. O que "aumenta o fogo do racismo e da xenofobia" não é o texto de JMP, caramba! É a realidade particular que ele descreve e a situação geral de que todos temos conhecimento. Os polícias que atacaram os jovens na Cova da Moura não são "doentes mentais". Antes fossem… Acham que a atitude dos agentes (a correcta e a estúpida) é só consequência de um arbítrio individual? É talvez mais saudável que abdiquemos de nos deixar embrutecer em frente aos ecrans e à sociedade de consumo, enquanto o mal alastra por todo o lado perante a geral indiferença. O que está errado tem diversos níveis, claro, mas é preciso denunciá-lo sempre.
Jaime Ceia, permita-me
Jaime Ceia, permita-me acrescentar: para além de exemplar, o texto de JMP é desarmante. Muitas das pessoas que o leram reviram-se nele e sentiram-se completamente nuas e reveladas. Como responder perante tamanha evidência de objetividade? É um lugar comum, mas adequado a este caso: pior cego que o que não vê, é o que não quer ver.
Raras vezes li uma crónica
Raras vezes li uma crónica tão directa, tão nua-e-crua a desmascarar as atitudes racistas. Vivo em África desde que nasci e constato que o Racismo é, de facto, uma cultura que se assume a partir da puberdade e que se consolida na vida profissional e que afecta Brancos, Pretos, Castanhos e Amarelos. Os Portugueses, pela carga da História colonial e por outras razões mais actuais, são os visados pelo Jornalista e compreendo isso. Mas, podia dizer-se o mesmo em relação à maioria sul-africana, à maioria tanzaniana, à maioria árabe, etc.
És o verdadeiro racista
És o verdadeiro racista português. Eu por acaso tenho vários textos onde descrevo o racismo da sociedade Portuguesa. Tu estás lá descrito.
És o racista que acha que não é racista. Um clássico da sociedade portuguesa e, a meu ver, o pior tipo de racista que pode existir. O inconsciente.
Hoje à noite, gostaria que reflectisses no tipo de ser humano que és.
Não te esqueças que o simples facto de "separares" pessoas no teu julgamento/raciocínio faz de ti um discriminador. Isto é claro como a água e é de gajos com tu que tenho medo. Porque os policias bateram nos pretos...só o facto de estares a classificar os jovens de "africanos" siginifica que já estás a ser racista. É curioso que aposto todo o meu dinheiro, que se eles fossem brancos como tu, tu dirias apenas que era violencia policial sobre jovens. Mas não, aqui é porque eles são pretos...
Depois és o tipico racista que acha que só se é racista para os pretos. Tenho medo de pessoas como tu...muito medo. Se forem asiáticos é na boa? Enfim...só podias mesmo ser do BE, uma cambada de frustrados que se acham com a mente aberta mas q não passam de um conjunto de mentes fechadas recheadas de preconceitos.
"É muito sintomático que, ao espancarem um jovem preto" Esta tua frase, retirada quase aleatóriamente, mete-me nojo! Jovem preto? WTF? Jovem, apenas...não é preciso o "preto"! Porquê o "Preto"? pah...mas também tenho a certeza absoluta que és incapaz de perceber o que te estou a dizer. Mas se fosse branco dirias "jovem branco"? Tu representas o clássico do racista português. O gajo que é um racista de primeira (porque a primeira coisa que vê numa pessoa é a cor da pele) mas que diz que não é racista porque até tem amigos pretos e perdeu a virgindade com uma preta.
Mano, outra pergunta...o que é um "Preto"? A partir de que tonalidade de pele és "preto"? Manca-te por favor, olha-te ao espelho e faz um favor ao mundo...
Cambada de gajos que de esquerda têm muito pouco.
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