Está aqui
A Esquerda foi derrotada nas presidenciais
1. Cavaco Silva ganhou e por isso a esquerda foi derrotada nas presidenciais. Ganhou à primeira volta, apesar de ter sido o presidente reeleito com menos votos e de ter perdido 543 mil votos desde há cinco anos. Obtém o voto de 25,2% dos eleitores inscritos.
A sua vitória permite-lhe um segundo mandato com mais intervenção, na expectativa de uma mudança de governo. O presidente que já vetou leis importantes – a paridade, as uniões de facto, o divórcio – será agora um obstáculo mais agressivo contra os direitos sociais.
Apoiado num eleitorado amplo que temeu a crise económica e preferiu a continuidade contra a mudança, Cavaco Silva é, no entanto, um presidente diminuído pela escassa vantagem e também pelas investigações sobre os seus negócios com o grupo SLN, que permanecem por esclarecer cabalmente.
2. Manuel Alegre perdeu as eleições - e perdemo-las com ele - porque não conseguiu uma segunda volta. Com menos 306 mil votos do que nas eleições anteriores, aproximou-se dos 20% e foi o candidato mais votado na oposição a Cavaco Silva. Os resultados demonstram que só ele poderia ter disputado a segunda volta.
Manuel Alegre desenvolveu uma campanha mais clara e mais centrada nas questões sociais do que há cinco anos. A luta contra o FMI e a defesa dos serviços públicos foram os seus principais temas. Garantiu que vetaria decisões de qualquer governo que atacasse o SNS ou que propusesse leis laborais que rejeitassem a defesa do direito da parte mais fraca. Essa foi a campanha que a esquerda devia fazer.
3. O candidato do PCP, Francisco Lopes, perde 173 mil votos, mais de um terço da votação obtida por Jerónimo de Sousa em 2006. Trata-se da maior perda, em proporção, das candidaturas que se apresentam na continuidade da campanha de 2005.
Em nome da afirmação do seu partido, Lopes defendeu os direitos sociais e a resistência à austeridade. No entanto, o PCP, que já tinha apoiado à primeira volta figuras de direita como Ramalho Eanes, ou do PS como Jorge Sampaio, manteve um discurso sectário contra Manuel Alegre. Este, pelo contrário, defendeu a importância da representação eleitoral do PCP.
4. Fernando Nobre apresentou-se sem apoio partidário, tendo obtido 593 mil votos, 14%. Nobre fez uma campanha com traços populistas – o jornal do PCP chama-lhes “fascistas”, o que é certamente inaceitável – incluindo propostas que favorecem a direita, como o governo PS-PSD-CDS, a redução do número de deputados para 100 ou o pagamento por uma parte da população dos serviços do SNS. Apresentou-se também de uma forma agressiva, exigindo a desistência de Manuel Alegre, que viria a ter mais votos do que Nobre, e garantindo que estaria na segunda volta a não ser que houvesse um atentado contra si.
Na noite eleitoral, apelou à unidade em torno de Cavaco Silva, “para que o país esteja melhor daqui a cinco anos”, na continuidade de uma campanha de não hostilidade ao líder histórico da direita.
Nobre não é o candidato sem apoio partidário que obteve mais votos. Otelo (792 mil) em 1976 e Alegre em 2006 (1138 mil) ultrapassaram em muito o seu resultado. Mas, nestas eleições a candidatura exprime uma parte importante do eleitorado e o seu descontentamento.
Comentários
Caro Louçã, Foi com pena que
Caro Louçã,
Foi com pena que vi o BE a associar-se a este Alegre tão parco em ideias, tão centrada no ataque - tardio, tardio... - às alegadas ilicitudes de Cavaco. Não simpatizo com Cavaco. Acabei por não simpatizar com Alegre.
O resultado destas eleições é um reflexo daquilo que o povo vai pensando da classe política na generalidade. Note-se que metade optou por não votar. Ou, pior, viu-se impedida de o fazer devido à inacreditável e terceiro-mundista história com a base de dados do Cartão de Cidadão - como aconteceu com a minha mulher, por exemplo. Nem nas eleições de Angola se viu isto de haver eleitores a quem é recusado o direito de voto. E consequências disso, haverá?! O MAI assume a responsabilidade?! Foram contabilizados correctamente os eleitores que se viram impossibilitados de votar?!
Espero que o BE venha a apagar rapidamente o facto de se ter associado ao Alegre e que continue a fazer cada vez mais pela democracia em Portugal.
Realmente o PCP perde, ainda
Realmente o PCP perde, ainda por cima porque parte do eleitorado do BE votou em Francisco Lopes devido à escolha de Alegre para representar a alternativa à esquerda, uma escolha negativa e pouco coerente por parte do BLoco que esperemos não trace outros dissabores para o Bloco em eleições futuras.
Tem de haver mais coerencia à Esquerda..
Temos de aprender , aprender, aprender mais.....
"Parte do eleitorado do BE
"Parte do eleitorado do BE votou em Francisco Lopes" !!??
Onde foi buscar isso? O que o leva a dizer um disparate desses? Se os tradicionais votantes no BE votaram no Lopes, onde é que votaram os tradicionais votantes no PCP? Sim, porque o decréscimo de votos na candidatura do PCP o que nos diz é que os próprios indefectíveis do partido foram votar para outros candidatos.
Para isso urge que alguém..
Para isso urge que alguém.. que tentou (estóica e voluntariosamente) unir esforços, perceba agora que, já hoje, o mundo mudou. O tempo de estar com um pé numa canoa e outro pé em outra canoa rumo à meta acabou ontem. Agora, é tempo de escolher saltar para uma das canoas.., sob pena de fazer espargata na água.Uma das canoas, a nossa, deve estar e está (é a sua historia) então preparada para acolher mais um remador de boa visão e toda a energia de MOVIMENTO intrínseca, para tão honrosa tarefa de levar mais longe e a bom porto os CIDADÃOS, do País, criando a robustez q.b. para lutar contra as tempestades que se avizinham na orla Direita marítima.. Talvez o nome deixe até de se chamar "canoa" e passe a chamar "barcarola". Mas também esta em génese, desde quando ainda era um conjunto de pequenas jangadas que mais tarde deu uma canoa.Vale a pena deitar mãos à obra?. Fazer de origem uma barcarola?, pronta para passar no teste?.
Uma coisa é certa
"é preciso olhar para a frente".
A verdade de que "perdemos
A verdade de que "perdemos porque ganhou a Direita", devem-se somar ainda outras duas:
1) A eleição representou o último capítulo da "direitização" total e completa do PS. Nunca eles tiveram um candidato mais claro para defender o essencial dos postulados da esquerda plural.
2) A esquerda, no seu sentido mais amplo, perdeu porque está dividida. Como tal é incapaz de dirigir um movimento social alargado, capaz de derrota a direita. Quanto mais demorar a unidade de trabalhadores,de pequenos comerciantes e agricultores, estudantes, crentes, e laicos, independentes, num movimento encabeçado pela esquerda orgánica, a direita continuara a ganhar, apoiada numa ideologia conservadora secular enraizada nas mentes dos portugueses. A mesma ideologia que fez os os eleitores escolheram a Direita para salvar-los da crise!
O intento que fizemos com Manuel Alegre é um exemplo desse desejo unitário. É preciso persistir nele. Não há outra via para chegar ao poder.
Ficava melhor ao Louçã seguir
Ficava melhor ao Louçã seguir a atitude do Alegre no seu discurso de derrota, do que não a assumir.
Quando se luta nem sempre se ganha, mas quando não se luta perde-se sempre.
Leo, porventura não terá lido
Leo, porventura não terá lido o título da crónica?
Isto? "A Esquerda foi
Isto? "A Esquerda foi derrotada nas presidenciais"? Não acha que seria mais honesto isto "O Bloco de Esquerda foi derrotado nas presidenciais"? Eu acho.
... que mais dizer-se de uma
... que mais dizer-se de uma eleição em quem venceu destacadamente à primeira volta não foi Cavaco. Foi sim a abstenção ...
... A retumbante vitória de Cavaco, saldou-se num Presidente eleito por menos de 25% dos Portugueses ...
... Será um Presidente que quer ir à luta sem pernas e só com um braço ... Vale o que vale ...
Convém mencionar também que
Convém mencionar também que estas eleições tiveram das maiores percentagens de votos brancos e nulos de sempre: 191 mil e 86 mil respectivamente - 4,76% dos votos.
Vi aqui alguns afloramentos
Vi aqui alguns afloramentos de sectarismo que me preocupam. O Manuel Alegre fez o que pôde. Se calhar o Bloco colou-se-lhe excessivamente.
Não esqueçam que é muito difícil, quiçá impossível vencer um presidente que se recandidata.
O Cavaco lançou a sua rede por tudo o que era comunicação social. Os seus apoiantes, de repente, foram convertidos em estrelas mediáticas. Tudo isso de forma coerente e sustentada.
Louvo a coragem de Alegre. E verdade que ele já não tem 20 anos e isso, meus caros, conta muito!
Se quiserem desaparecer do panorama político é só, para a próxima, arranjarem um candidato "tipo Lopes".
Quando o PSD coligado ou não com o CDS tiver maioria absoluta o que é que o Bloco vai fazer?
Quanto a mim deveriam tentar aproveitar algumas coisas boas (ou menos más) que o PS tem e não contribuir para a queda de Sócrates sem que haja tempo para se criar uma alternativa decente no PS.
O Sr. Louçã demonstra a
O Sr. Louçã demonstra a capacidade de jogar, esconder e manipular os factos para tentar garantir a sua sobrevivência política. Berrando por alegados sectarismos do PCP, anuncia-se como o campeão da unidade.
Mas a verdade, vem sempre ao cimo...
Diz Louça que a candidatura de Francisco Lopes perdeu cerca de um terço da sua votação há cinco anos. Mesmo considerando que Lopes dá continuidade à candidatura de Jerónimo Sousa, que dando continuidade não significa que parta do mesmo patamar de apoio, como Louçã bem sabe, significará que deverá comparar a candidatura de Alegre de 2011 com a de Alegre, a de Louçã, a de Soares e a de Garcia Pereira em 2006, que juntos perfizeram mais de dois milhões de votos. Ora, de acordo com os resultados de domingo, Alegre 2011 perdeu mais de metade dos votos que as candidaturas às quais deu continuidade.
Este é mais um exemplo da necessidade de Louçã em garantir aquela que parece ser a razão da sua intervenção política: destruir o PCP.
Estranho. Então a percentagem
Estranho. Então a percentagem de votos do vencedor mede-se em termos de eleitores inscritos e a do derrotado mede-se em termos de votos?
Ou se diz que um teve 53% dos votos enquanto o outro nem 20%, ou então refira-se a percentagem de ambos face aos eleitores inscritos, o que dá 25% vs 9%.
"Manuel Alegre desenvolveu
"Manuel Alegre desenvolveu uma campanha (...) mais centrada nas questões sociais (...). A luta contra o FMI e a defesa dos serviços públicos"
Como é possivel continuar a repetir esta treta, como é possivel Alegre afirmar-se defensor dos serviços públicos, quando está aliado com um dos seus principais inimigos públicos, Sócrates!
Como é possivel repetir esta mentira?
O BE nestas eleições só demonstrou puro opurtunismo e uma lçinha politica de compromisso com o capital, Francisco Louçã neste comentário demonstra que é um politico sem o minimo de credebilidade.
Quem no BE é claramente anticapitalista deve estar deveras envergonhado com os dirigentes que tem!
Foi um enorme erro político
Foi um enorme erro político uma candidatura comum com o partido que está no poder há 6 anos. Alegre será o menos culpado disso, mas a imagem que há muito se previa negativa do partido do governo, as legítimas razões de contestação a esse governo e a qualquer disputa eleitoral em que este se envolvesse, avisavam para o erro que seria uma candidatura comum com o PS.
Para além da personalidade (Alegre), deveriam ter sido pensadas as circunstâncias e correlações políticas que isso implicaria. Não foram.
Também por isso, Alegre acabou por "levar por tabela", e o Bloco, ingenuamente e fruto de uma estratégia pessimamente calculada, acabou por servir de lebre a Sócrates.
Oxalá, e tão rapidamente quanto possível, seja corrigido o erro e as ambiguidades políticas porque o BE passou nos últimos tempos. O inimigo é o governo que está em funções, não é um outro que pode vir.
Chapeau ! Verifico, com pesar
Chapeau ! Verifico, com pesar mas sem excessiva surpresa,que Francisco Louçã conseguiu escrever um texto a que se aplica integralmente este meu anterior «post» no «tempo das cerejas»:
« Um pouco de rigor, s.f.f.
Eu sei que me vou pôr à frente de um Alfa Pendular que neste momento é conduzido tanto por contumazes palermas como por pessoas absolutamente estimáveis. Mas tenho muito gosto e honra em, suicidariamente, me opôr publicamente ao vendaval de ligeireza, precipitação e falta de rigor que parece assolar a opinião publicada.
Estou-me a referir ao facto de, independentemente de quadrantes políticos, haver um sem número de jornalistas, bloggers e até politólogos que, por critério geral mas sobretudo por critério de conveniência (isto é, aplicado ao adversário e nunca ao seu candidato preferido), exibem ufanamente o número de «votos perdidos» por este ou aquele candidato por comparação com os resultados de 2006.
(continua)
(continuação) Ora, manda a
(continuação)
Ora, manda a verdade e o rigor que se diga que se se quer falar de «votos perdidos» (e talvez seja bom lembrar que os votos não estão durante cinco anos guardados numa gaveta com buracos, antes se conquistam ex novo de cada vez), então os únicos «votos perdidos» por um candidato são os que decorrem da diferença entre as percentagens de 2006 e de 2011.
O que por aí fora está a ser feito e dito é, nem mais nem menos, o sofisma, algo tonto e objectivamente pouco sério, de supôr que a abstenção aumentaria 15 pontos mas que os candidatos, em termos de votos recebidos, teriam obrigação de ficar imunes ao natural efeito desse facto.
E, pronto, além do mais, com estes truques e habilidades não vamos a parte alguma.»
Pois não vamos a parte
Pois não vamos a parte alguma, Vitor Dias. E não íamos na mesma caso essa votação, no número e na percentagem, fosse igual a 2006. Nas eleições há perder e ganhar, quis o destino, o erro de uns e a persistência no erro de outros que desta vez ainda fosse pior. Rapar da calculadora e fazer umas contas acrobáticas, por legítimas que sejam, não escondem o fundamental (a não ser que, não dispiciendo, o fundamental nesta hora seja mesmo esconder o fundamental...). Uma candidatura numa personalidade ligada ao partido do governo e que assim sublinhadamente se assumiu durante a campanha eleitoral (BE), e outra que se apresentou não com o objectivo da disputa da vitória mas para perder por poucos, retraída, limitada e sem ambição de alargar o campo eleitoral (PCP), foram as desgraças destas eleições.
(cont.) Querer transformar
(cont.)
Querer transformar isto em vitórias é persistir em enterrar a cabeça na areia. Fazer isto nos colectivos partidários, entre pares e para acalentar as almas desoladas depois de tanto esforço, admite-se e até pode ser saudável, tornar esses discursos interpretativos públicos não ajuda nada à aprendizagem com os erros cometidos e dá uma imagem muito próxima do ridículo.
Adicionar novo comentário