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Ucrânia: Uma guerra sem nome e perguntas sem respostas claras
Perguntas sem respostas claras
O que põe a nu e que consequências terá o envio de reforços russos “não nucleares”, mas efetivos (“voluntários” que vão combater durante as suas “férias”, como os apresentou o dirigente secessionista de Donetsk; tanques russos que cruzam a fronteira “por engano”, como se diz em Moscovo sem se rirem, ou inclusive “brigadistas” estrangeiros, de extrema direita ou esquerda, que vão defender a “Nova Rússia” pintada de branco ou de vermelho)? A “ofensiva antiterrorista” lançada pelo poder de Kiev combateu eficazmente o risco de desmembramento da Ucrânia ou teve o efeito contrário? São reais as deserções do exército ucraniano que são mencionadas frequentemente? Qual é a composição e a perceção popular dos “batalhões” de voluntários, patriotas de todos os matizes, ucranianos ou estrangeiros? A coligação “pós-Maidán” rompeu-se e o presidente Poroshenko dissolveu a Rada e anunciou eleições legislativas para 25 de outubro. No entanto, as populações do leste da Ucrânia só poderão votar se cessar a violência, e em tal caso, qual será o seu voto?
A constituição ucraniana não deve ser redigida nem em Moscovo nem em Bruxelas (nem em Dayton, como o foi a da Bósnia...). E a integridade ucraniana tem de ser confirmada (ou contestada) politicamente por um ato de autodeterminação de todas as populações ucranianas, sem qualquer coação armada
A propaganda russa, como a do poder ucraniano desde a anexação da Crimeia, censura a crítica e dificulta a verificação da informação. De um lado e outro, os movimentos ou forças que protestam são tratados como quintas colunas financiadas pelo estrangeiro. As políticas antissociais são legitimadas por um patriotismo (anti-ocidental e contrário às sanções na Rússia, ou anti-russo na Ucrânia). No entanto, a presença de forças de extrema direita entre os voluntários de ambos os lados e o aparecimento de frentes “vermelho-castanhas” (ou brancas) que se reclamam em uníssono do “antifascismo” e do “anti-imperialismo” nos dois lados, agravam ainda mais o estado de confusão.
Contrariamente aos argumentos dos que apoiam a Rússia contra o “campo imperialista”, a política de Moscovo não faz mais que reforçar o pedido da Ucrânia de adesão à NATO, pedido que obterá um apoio mais entusiasta por parte da Polónia e das repúblicas bálticas que das grandes potências imperialistas. Quanto ao combate pela integridade da Ucrânia, perde eficácia se aceitar a proibição das críticas ao governo de Kiev, à sua “operação antiterrorista” ou às políticas sociais impostas depois do pedido de “ajuda” ao FMI.
Ucrânia “una e dividida” e neocolonizada como a Bósnia?
Os discursos e as operações da Rússia – que pretende não ser mais do que “solidária com as populações russas” e que faz frente às potências imperialistas ocidentais indecisas – consolidam a curto prazo o regime de Putin (80 % de popularidade). Se abandonasse os secessionistas seria criticado, mas após o envio de comboios humanitários para tratar de conquistar os corações e os espíritos, a afirmação de um projeto de Estado da “Nova Rússia” é um sinal de força ou de fraqueza? Reflete uma mudança da população local a favor da rotura com a Ucrânia ou pressupõe, pelo contrário, um parto a ferros de uma “entidade estatal” com dinâmica separatista e de união com o “grande irmão” vizinho, mas sem uma mobilização popular ativa na guerra ou em apoio à mesma? Do mesmo modo que para construir militarmente a “entidade sérvia” da Bósnia, a chamada Republika Srpska, fará falta dotar a proclamada “Nova Rússia” de certa continuidade territorial, concretamente a extensão até à Crimeia e à Transnístria, por muito que esta “entidade” estatal permaneça inicialmente dentro de uma Ucrânia “soberana” e dividida.
Quem deve decidir? A constituição ucraniana não deve ser redigida nem em Moscovo nem em Bruxelas (nem em Dayton, como o foi a da Bósnia...). E a integridade ucraniana tem de ser confirmada (ou contestada) politicamente por um ato de autodeterminação de todas as populações ucranianas, sem qualquer coação armada. Como disse recentemente um amigo da Oposição de Esquerda Ucraniana, a guerra não é nem puramente civil nem unicamente de agressão externa, mas sim “híbrida” e em grande parte incontrolada.
Contra esta guerra, é à população ucraniana, com todas as suas componentes, que cabe a resposta e com o apoio de movimentos internacionalistas na Rússia, na Ucrânia e na UE.
Artigo de Catherine Samary, publicado em Hebdo L’Anticapitaliste do NPA e disponível em europe-solidaire.org. Tradução de Carlos Santos para esquerda.net
Comentários
Verdade, devia ser a
Verdade, devia ser a população ucraniana a decidir. Nos referendos em Donetsk e Lugansk a população decidiu por mais de 90% ser independente e criar republicas populares. Qual é a vossa duvida, camaradas bloquistas ? Todos nós, menos alguns que devem estar aqui enganados, somos a favor das republicas populares. Somos comunistas, socialistas, revolucionários, anarquistas, anti-imperialistas, por isso, somos a favor da independencia dos povos que Krutchov, nos anos sessenta, colocou dentro da mapa da Ucrânia e que não querem estar num regime capitalista. Se a Federação Russa nos apoia, essa questão não é demasiado importante. É bom que alguém que não é imperialista nos apoie, mesmo que não seja de Paris-Dauphine.
PS: Frequentei Paris-Dauphine nos anos 80 e é execrável.
O artigo de Catherine Samary,
O artigo de Catherine Samary, traduzido para o Esquerda.net por Carlos Santos, revela, antes do mais, uma enorme confusão na cabeça da sua autora, da qual resulta uma posição de neutralidade que, na minha opinião é inadmissível para quem se afirma de esquerda e anti-fascista. Catherine Samary, aparentemente só tem dúvidas sobre o conflito entre a junta ucraniana e o povo do Donbass, mas ainda assim, sempre vai dizendo que é a Rússia a culpada pela eventual entrada da Ucrânia na NATO e tb que em ambos os lados existem forças de extrema direita, que é como quem diz, entre os dois lados, venha o diabo e escolha. Ora sobre a situação da Ucrânia há algumas coisas que sabemos. Em primeiro lugar, a questão ucraniana não é nova e vem desde há muito tempo, mesmo muito antes de Putin. É só consultar o que diziam Brzezinsky, conselheiro de estado de Jimmy Carter e actual conselheiro de Obama, Kissinger e os neo-cons que rodeavam W.Bush, como Wolfowitz, Bill Kristoll, Cheney e outros: http://www.globalresearch.ca/the-eurasian.../5373707 e http://www.sourcewatch.org/index.php.... Estes documentos, que no essencial, descrevem as ambições geoestratégicas dos EEUU, considerando a Ucrânia, como um peão estratégico fundamental para o enfraquecimento da Rússia. Diz Brzenzisky, que uma Ucrãnia fora da influência Rússia, faria com esta perdesse o estatuto de potência consorrencial com os EEUU. É neste contexto, que na minha opinião, o chamado EuroMaidan deve ser entendido. Em segundo lugar, tb sabemos que o dito EuroMaidan foi um putch, apoiado e financiado pelos EEUU e seus parceiros europeus, que derrubou um governo, eventualmente corrupto, mas eleito em eleições livres e justas. Tb sabemos que esse putch tinha como tropa de choque, no essencial, hordas fascistas e neo-nazis ligadas ao chamado "sector direito" e ao partido nazi "Svoboda" ( herdeiros de Stepan Bandera, um fascista notório que colaborou com os nazis na WWII, e que foi em parte responsável pelo genocídio de centenas de milgar de judeus, polacos e outra minorias). Tb sabemos que após a chegada ao poder da junta saída do putch, se iniciou uma campanha de intimidação e perseguição da minoria russófona, que culminou no masscre de Odessa, na ilegalizaçãodo PC ucraniano e da ilegalização da língua russa. Ora foi precisamente nessa altura que o povo do Donbass se levantou em armas, na minha opinião, mais que legitimamente. E devo dizer, que tendo seguido com atenção e informação o evoluir dos acontecimentos, não tenho conhecimento de nenhuma extrema direita a lutar ao lado do Donbass. Pelo contrário, vejo do lado da junta, isso sim, batalhões punitivos constituídos por nazis, como o Azov e o Aidar, que cometem as maiores atrocidades, assassinatos, bombardeamentos das populações civis, etc. Quanto ao papel da Rússia e de Putin, sobre os quais não tenho nenhuma simpatia especial, gostava de recordar o seguinte. Os EEUU e A NATO têm actualmente bases na Alemanha, Grécia, Turquia, Inglaterra, Alemanha, Países Bálticos, Polónia, Afeganistão, Japão e na Coreia do Sul, pelo menos, e estão a querer entrar na Finlândia e na Ucrânia. Ora vão ao mapa mundo e ponham uma cruzinha em cada um destes países e verão que existem bases da NATO a cercar completamente a Rússia. É portanto é enviesado para não dizer falso pretender que é a Rússia que provoca o avanço da NATO. A Rússia e Putin apoiam o Donbass, interessadamente ou não. Quem apoia a junta semifascista de Kiev e o oligarca do chocolate, fá-lo por generosidade? Não conheço a Sra. Catherine Samary e não faço juízos sobre as suas intenções, mas conheço as posições do Die Linke, do Podemos, e do Grupo da Esquerda Unitària/ Verdes Nórdicos a que o BE pertence e que são de apoio incondicional ao povo do Donbass. Muitas vezes tenho questionado o BE sobre a sua posição oficial, se é que tem alguma, sobre este problema. Se este infeliz artigo reflete de algum modo a posição do BE, então, estou pela primeira vez em frontal e sério desacordo com o BE. Se não reflete, então não percebo qual é o objetivo da sua inclusão nas páginas do esquerda.net.
http://www.globalresearch.ca/the-eurasian.../5373707
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A posição do BE na questão ucraniana.
Esta é a posição do líder do Podemos sobre a questão ucraniana. Qual é a posição do BE sobre o assunto? Não tem?
http://www.youtube.com/watch?v=Dk5XWPjvf00
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