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Coreia do Sul: Repressão na Samsung leva sindicalista ao suicídio

Yeom Ho-seok pôs fim à vida para denunciar as condições laborais e os ataques aos sindicatos praticadas pela gigante multinacional. Polícia reprimiu o velório e raptou o corpo do sindicalista. A Samsung mantém há cerca de 75 anos uma política de “não sindicalização”.
Yeom Ho-seok e a carta que deixou.
Yeom Ho-seok e a carta que deixou.

Segundo informação da Confederação Sindical da Coreia do Sul, através de sua página no Facebook, o líder sindical Yeom Ho-seok, seu filiado, cometeu suicídio, no dia 17, devido à repressão existente na Samsung.

Em protesto, a central sindical convocou os seus sindicalizados a uma greve geral e também a uma manifestação pacífica em frente ao escritório global da Samsung Eletronics. A polícia, denuncia a central, profanou o velório do dirigente sindical, invadindo o hospital e desaparecendo com o corpo do sindicalista, alem de prender dezenas de sindicalistas que foram prestar a sua homenagem e levar flores.

A história do sucesso da Samsung – hoje, uma das mais famosas marcas mundiais – é, também, a história da perseguição brutal aos ativistas sindicais que lutaram e lutam para defender seus direitos.

A história do sucesso da Samsung – hoje, uma das mais famosas marcas mundiais – é, também, a história da perseguição brutal aos ativistas sindicais que lutaram e lutam para defender seus direitos.

Yeom Ho-seok deixou uma dramática e memorável nota de suicídio, a qual divulgamos, com parênteses de esclarecimento da tradução feita através da versão em inglês:

Aos trabalhadores locais membros da Samsung Electronics Service

Estou agora em Jeong-Dong-Jin.

É também o local onde o sol se levanta. Escolhi este local porque acredito que ele (refere-se ao local e área de trabalho sindical) não perderá os raios (de esperança) e, como o sol que se levantará amanhã, o nosso local irá vencer esta luta, sem falta.

Envio os meus agradecimentos aos membros da organização de Bu-Yang Branch (a organização de Busan Yangsan do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos da Coreia) que se preocupou com o meu bem-estar e cuidou de mim como se eu fosse o irmão mais novo, e a todos os camaradas em todo o país.

Eu, um simples Zé-ninguém, encontrei satisfação apenas por poder estar ao vosso lado.

O velório do sindicalista

Não posso mais continuar a assistir aos sacrifícios e sofrimentos dos demais, nem continuar a ver os sofrimentos dos membros do sindicato, por isso ofereço minha vida.

Rezo pela nossa vitória com a única oferenda que posso dar.

Quando encontrarem o meu corpo, por favor, deixem-no da mesma maneira, até o dia da nossa vitoria.

Cremem o meu corpo apenas no dia da nossa vitória e dispersem as minhas cinzas aqui, neste local.

Por último, o pai do nosso sindicato, o membro Bae Hyeon, ainda se encontra hospitalizado. Os custos da sua hospitalização atingem uma grande soma. Por favor, levantem fundos para ajudar a pagar, sem falta, os custos do hospital quando as negociações (coletivas) estiverem concluídas.

Estarei sempre ao vosso lado.

Continuem a luta até o dia da vitória!

Respeitosamente, Yeom Ho-seok, presidente da sucursal de Yangsan

Samsung faz retaliação contra os trabalhadores

A Samsung mantém uma política de “não sindicalização” há cerca de 75 anos e a Samsung Electronics Service Workers é a primeira organização com filiação em massa da Samsung na Coreia. Yeom Ho-seok foi um dos fundadores desse ramo do sindicato. O sindicato tem lutado contra o sistema de pagamento por peça, que mantém os trabalhadores na pobreza, através de greves, para que a empresa respeite os direitos laborais e conclua a primeira negociação coletiva para os 1600 sindicalizados com relação aos salários e condições de trabalho.

Polícia prendeu 25 sindicalistas

Após meses de negociação, com a empresa a negar-se a atender às reinvindicações, começou a retaliação aos sindicalizados. Passou a designar o trabalho aos não sindicalizados, além de cortar os seus salários e fechar três dos centros sindicais, Haendae, Asan e Icheon, com despedimentos em massa, em março. Para se ter uma ideia da exploração da Samsung, o sindicato esclareceu que, em abril, o salário do sindicalista Yeom Ho-seok fora de, apenas, o equivalente a cerca de 292 euros.

O velório estava a decorrer no dia 18, no quarto numero 5 da filial Gangnam do Centro Médico de Seul, a menos de 4 km do escritório central da Samsung Electronics. A polícia coreana invadiu o velório, sem avisar, e levou o corpo do sindicalista. Cerca de 300 soldados entraram no hospital e atacaram as pessoas que estavam no velório de forma brutal, com gás lacrimogéneo. Vários presentes foram feridos e 25 membros do sindicato foram detidos.

Após raptar o corpo do sindicalista Yeom Ho-seok, a polícia levou-o para Busan, segunda maior cidade da Coreia, a cerca de 400 km de onde estava a ser velado inicialmente.

No dia 19, o sindicato chamou à greve geral dos sindicalizados na Samsung, mas, infelizmente, não sabemos o que ocorreu depois disso, já que não foi possível localizar informação.

A repressão policial na Coreia tem sido uma constante, como ocorreu dias atrás quando a Vigília de Velas, em homenagem aos mortos da tragédia do ferry Sewol, realizada em Seul, se transformou em manifestação, com a polícia reprimindo violentamente os familiares e as pessoas que se solidarizavam com as vítimas.

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