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Governo enterra mais 510 milhões dos contribuintes no buraco do BPN

Apesar de o banco ter sido vendido por 40 milhões de euros ao BIC, as dívidas continuam a ser pagas pelo Estado. O ministério de Maria Luís Albuquerque alocou mais 510 milhões de euros nas sociedades-veículo do BPN.
O Bloco considera que o mais provável é que o dinheiro emprestado a estas sociedades veículos seja novamente registado como perda, tal como tem acontecido sempre que estas operações se realizaram. Foto de Mário Cruz/LUSA

O Governo continua a injetar massivamente dinheiro dos contribuintes no buraco negro do BPN. Segundo o relatório da UTAO - Unidade Técnica de Apoio Orçamental - o Governo alocou mais 510 milhões de euros nas sociedades-veículo do BPN. Este valor divide-se pelos 283 milhões de euros para a Parups – onde foram alocados os ativos imobiliários de risco - e 227 milhões de euros para a Parvalorem – que detém os créditos tóxicos -, segundo o documento.

Recorde-se que o banco foi vendido por 40 milhões de euros ao BIC. No entanto, a torneira do Estado continua aberta para esta instituição bancária, segundo a UTAO, as duas sociedades registam prejuízos de 125 milhões de euros, dos quais 106 milhões de euros registados pela Parvalorem e os restantes 18 milhões de euros pela Parups.

“O prejuízo causado pelo BPN em 2013 supera o assumido pelo Estado com as empresas públicas reclassificadas Metro do Porto (86 milhões de euros), Metro de Lisboa (93 milhões de euros), Parque Escolar (62 milhões de euros) e RTP (23 milhões de euros)”, denuncia o Bloco de Esquerda, através de uma pergunta dirigida por João Semedo ao ministério das Finanças.

“No ano do grande aumento de impostos e do grande aperto às famílias, foram utilizados 635 milhões de euros para o BPN – 510 milhões de euros em empréstimos e 125 milhões de euros em prejuízos registados”, regista a pergunta do coordenador bloquista.

O Bloco considera que o mais provável é que o dinheiro emprestado a estas sociedades veículos seja novamente registado como perda, tal como tem acontecido sempre que estas operações se realizaram.

O Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda recorda ainda os 600 milhões utilizados para recapitalizar o banco antes da venda por 40 milhões de euros, os 266 milhões de euros reservados para imparidades que reverterem para os acionistas do BIC, os 700 milhões de euros pagos em juros e garantias exercidas e ainda os quase três mil milhões de euros em imparidades já assumidas.

O que é que acontece? É simples: o Estado empresta dinheiro a veículos cheios de ativos tóxicos que nunca terão a capacidade para gerar valor que permita reembolsar os montantes. Por isso, precisa de dinheiro para cobrir prejuízos e para reembolsar empréstimos contraídos junto da Caixa Geral de Depósitos. Ano após ano a fatura cresce, pois os empréstimos serão registados como perdidos.

Quanto mais tempo passa, mais aumenta a fatura dos contribuintes com o banco. Os prejuízos assumidos em 2012 e 2013, após a venda do banco, ascendem já aos 418 milhões de euros. Esta é apenas uma pequena parte dos mais de 4 mil milhões de euros que o banco já custou aos contribuintes, uma soma que pode ainda ascender aos sete mil milhões de euros. Já o dinheiro injetado no mesmo período foi de 1.543 milhões de euros, demonstra a UTAO.

"O Governo esmaga os cidadãos com brutais medidas de austeridade e utiliza o dinheiro retirado para preencher o buraco do BPN e dos restantes bancos”, denunciam os bloquistas.

Governo tem que explicar porque “continua a meter dinheiro no poço sem fundo”

À margem de uma visita ao centro de saúde de Salvaterra de Magos, o coordenador do Bloco afirmou esta segunda-feira que o Governo tem que explicar porque “continua a meter dinheiro no poço sem fundo” que é o Banco Português de Negócios.

Esta “é mais uma mentira do Governo que anunciou, ao vender o BPN por 40 milhões de euros aos angolanos do BIC, que tinha resolvido finalmente o problema” do banco, mas “continua a meter dinheiro naquele poço sem fundo”.

João Semedo afirmou que além dos 510 milhões emprestados à Parvalorem e a Parups, criadas pelo Governo para absorverem o “lixo tóxico” do BPN, “há muitos outros fundos, muitos outros euros para explicar”.

O coordenador do Bloco afirmou que o partido vai tomar, nos próximos dias, “novas iniciativas para perceber onde estão esses milhões que o Governo não para de enfiar naquele buraco escuro, negro, fundo que é o BPN”.

“É preciso explicar como é que aquelas duas empresas onde está o lixo tóxico receberam um empréstimo superior a 500 milhões de euros depois de terem dado um prejuízo superior a 100 milhões de euros”, disse, sublinhando que em causa estão quase 650 milhões de euros do dinheiro dos contribuintes.

“Para quem tinha prometido resolver o problema, convenhamos que é um descaramento muito grande”, disse João Semedo.

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