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Augusto Mateus e o verniz académico da campanha contra o SNS
O grupo de empresas, laboratórios, centros de investigação e institutos – uns públicos e outros privados, mais do norte e centro que do sul – que se juntaram e constituíram o Health Cluster de Portugal divulgou, com pompa e circunstância, um estudo sobre a sustentabilidade e o financiamento do SNS.
A ministra Ana Jorge participou no cerimonial mas, como é habitual, jogou à defesa e nada disse. Assim, fica dispensada de corrigir no dia seguinte o que disse na véspera.
O estudo foi realizado por uma instituição universitária – o ISEG – para que ninguém se atreva a questionar a sua credibilidade.
Coordenou a equipa o ex-ministro do PS, Augusto Mateus, reputado especialista em estudos, pareceres e negócios afins. Não deve haver quem mais pareceres cobrou ao estado, um verdadeiro recordista. Uma eminência, cujo rigor, objectividade e independência estão acima de qualquer suspeita.
Pagou o serviço, o tal Health Cluster de Portugal, cuja empresa mais robusta é a farmacêutica Bial. Descontando os que são públicos, entre os membros deste cluster estão várias empresas privadas que, independentemente dos seus méritos, devem grande parte do seu êxito aos muitos milhões de euros com que o Estado as financia. Sem esse apoio do Estado – e outras ajudas… - jamais a Bial teria produzido os medicamentos que, agora, vende em Portugal e no estrangeiro, com um elevadíssimo retorno (a palavra lucro cai mal…). Por isso se preocupam tanto em “estudar” como o estado gasta os dinheiros públicos.
Sem surpresas, o estudo sentenciou a morte do SNS. Se nada for feito, em 2020, o país não terá dinheiro para manter o SNS. E, claro, adiantam a receita, não deixando antes de apelar a que se ponham de lado “os preconceitos ideológicos”: o doente escolhe o público ou o privado mas o estado é que paga, não deixando de aconselhar que “é preciso responsabilizar os utentes pelos cuidados a que recorrem, criando por exemplo taxas moderadoras diferenciadas, abandonando de vez a ideia de que a saúde é gratuita” e “chamando os cidadãos a um co-pagamento pelos cuidados que recebem “.
Não sei quanto custou o estudo nem tão pouco quanto tempo demorou a realizá-lo. Mas foi tempo e dinheiro mal gasto para conclusões tão pouco originais. O que Augusto Mateus vem dizer, já está dito por Pedro Passos Coelho e está escrito no projecto de revisão constitucional do PSD. Não há qualquer novidade, é mais do mesmo, agora com chancela universitária.
Este estudo serve apenas para reforçar a campanha da direita contra o SNS e o estado social, à qual empresta um certo verniz académico. De facto, este estudo mais parece a tese de mestrado de Pedro Passos Coelho...
Comentários
Quando vi o tal "estudo" na
Quando vi o tal "estudo" na televisão disse logo que havia "gato escondido com o rabo de fora". Está lá todo o "modus operandi" do neoliberalismo: lançam-se notícias sobre o elevado custo de um sistema ou serviço público, pede-se um estudo a um grupo de consultores "independentes" (sem ideologia, claro, que isso é coisa de perigosos esquerdistas) que fazem uma "avaliação técnica" e concluem, claro está, que são necessárias "reformas" que conduzam à sua desvirtuação ou, mesmo, à sua privatização.
Não pude conter a minha indignação quando o senhor da Bial veio dizer que os portugueses (de classe média e baixa, claro, que os ricos vão ao privado!) utilizam demasiado as urgências. Ou quando, ontém, no "Público", o referido Augusto Mateus dizia que "prolongar a vida por um minuto vale qualquer preço". Um humanista, sem dúvida!...
um especialista, generalista,
um especialista, generalista, não há autarquia, associação empresarial, ministerios, etc., etc. que não tenha já provado dos serviços deste Augusto Mateus, um homem dos sete oficios, brilhante mesmo.se fosse possivel contabilizar os serviços prestados por este senhor era interessantissimo.
A intervenção do presidente
A intervenção do presidente da Bial na SIC-N foi clara quanto à necessidade de um Estado menos prestador de Serviços.Mas continuou, afirmando haver boa receptividade dos partidos(de quais??) às propostas do dr.Mateus(acho que 47!!!).
Quase a terminar a sua prestação,exemplificou de como disciplinar o recurso ao SU. Um cidadão vai ao SU devido "...a uma dor de dentes...que começou há uma semana...deve pagar...", pois primeiro teria que recorrer "...aos serviços nacionais à sua disposição...",ou seja, aos privados dada a quase inexistência de Saúde Oral no SNS. Com o infeliz exemplo do dr. Luis Portela, fica no ar a ideia perversa de deverem ser pagos os cuidados no SU, de acordo com uma qualquer escala valorativa da necessidade desse recurso, quem sabe se elaborada pelo mesmo dr. Mateus.
Não é dificil constatar que o objectivo destes doutos pensadores apenas visa desmantelar o SNS, apesar do tom misericordioso do presidente da Bial.
Não me levem a mal, ando há
Não me levem a mal, ando há 35 anos a acreditar nestes "gurus", dêem-me lá uma ajuda, Este estudo for tornado público ?
Curiosa foi a afirmação de
Curiosa foi a afirmação de Augusto Mateus dizendo que o Estado ($$$) faria melhor se aproveitasse ($$$) as novas infra-estructuras hospitalares privadas e das Misericórdias.
Em http://www.amconsultores.pt/clientes.aspx pode-se ver que um dos
clientes da Augusto Mateus e Associados é precisamente a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa...
O Relatório nada diz sobre isso, mas foi o que ocorreu ao Sr. Professor para satisfazer os que lhe pagam.
De acordo em reforçar o papel da Ecnomia Social, em detrimento dos privados, que reinveste o lucro em formas de apoio social e não na remuneração de accionistas, mas as IPSS agora resumem-se à Igreja Católica? As mutualista por todo esse País, com obra feita, de nada valem?
A curva de crescimento da
A curva de crescimento da despesa é real. A diferença nas condições físicas e humanas no sector privado é notória, existindo uma maior preocupação com o conforto (não luxo).
Que as unidades públicas têm de ser melhor geridas ninguém tem dúvidas...que não há estratégia definida também não mas mesmo assim, é preciso sair um grande coelho da cartola para nas condições actuais de evolução demográfica manter o SNS universal e gratuito com qualidade nos próximos 50 anos.
Alternativas precisam-se
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