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A metafísica dos mercados
Eis os mercados: bichos com alma, mitos que tudo expliquem sem que algo se perceba, êxtases e intensidades. Os mercados afinal têm pressa, irritam-se, sofrem de stress, e quando se acalmam é sempre por pouco tempo. Estão atentos, multiplicam as suas orelhas, ouvem Durão Barroso e Angela Merkel mas parecem não escutar Sócrates e Passos Coelho. Oscilam, gravitam, cogitam. Os mercados são ora seres reflexivos, ora bestas irracionais, desenvolvem muitas expectativas e por vezes deprimem. Mas soltam-se em cavalgadas heróicas que galgam fronteiras e não conhecem limite.
Fantasmagóricos, não se conhece a sua carne, pele ou osso. Face não têm, mas estão por todo o lado: na rua, na praça, no trabalho, na cama. Entre as palavras, os mercados. Nos apertos de mão, os mercados. Não fale, não sussurre, não respire: os mercados são ubíquos, instantâneos e apresentam metamorfoses mil.
Por isso a tarefa desta esquerda é dar-lhes um nome, esculpir-lhes um rosto, chamá-los à terra, vestir-lhes fato e gravata e apresentar-lhes a conta que terão obrigatoriamente que pagar sem usar o cartão de crédito. Acabou o fiado para os mercados.
Assim conhecidos, assim nomeados, a luta pode começar.
Comentários
Muito bom! Há muito que são
Muito bom!
Há muito que são os mercados que mandam. A diferença é que dantes a política mainstream obedecia-lhes mas tinha vergonha de o assumir. Agora, obedece-lhes orgulhosamente, naturalizando o seu poder e legitimidade. Dantes disfarçava-se. Agora venera-se. Mas evitando sempre dar-lhe um rosto e um posto, uma carne e um osso. Como diz o João, essa é nossa missão.
Tantas palavras bonitas e bem
Tantas palavras bonitas e bem escritas que até fiquei na expectativa que iam dizer alguma coisa.
Dar-lhes rosto: Amorim,
Dar-lhes rosto: Amorim, Belmiro, Ricardo Salgado, Ulritch, Mexia, Vitorino, etc., etc.
Dar-lhes luta: Greve Geral de dia 24 e seguintes...
Opor-lhes alternativa económica e política(os mais importantes factores para tirar o povo da resignação ainda que revoltado...): Porque não - "Fora o bloco central, governo de esquerda para Portugal!"?
Deixa ver se percebo: Quem
Deixa ver se percebo: Quem pediu dinheiro emprestado é que vai pedir a conta a quem o emprestou?
Hmmm... desconfio que não é assim que funciona.
-Quer um nome para os
-Quer um nome para os mercados?
"Os_Gajos_Que_Emprestaram_O_Dinheiro_Que_Nós_Gastámos"
Se não pagarmos fica:
"Os_Tansos_Que_Emprestaram_O_Dinheiro_Que_Nós_Gastámos"
-Os mercados estão com stress?
Se eu tivesse emprestado dinheiro a Portugal estava.
E se fosse eu a emprestar,
E se fosse eu a emprestar, olhando para os projectos megalómanos que Portugal quer assumir, nem com juros a 50% emprestava. Pena é que estes capitalistas de um raio são uns gananciosos e querem o seu dinheiro de volta.. tsc, tsc...
É de facto impossível não
É de facto impossível não ficar abismado e pático com tanta demagogia populista escrita em três parágrafos e corroborada em comentários subsequentes.
Então, segundo a vossa lógica, quem tem culpa é quem empresta dinheiro a Portugal por este usar mais do que aquilo que produz? Quem tem culpa é quem permite que Portugal sonhe com TGVs e aeroportos inúteis? Quem tem culpa é quem alimenta o prato dos sonhos socialistas?
Se eu peço um empréstimo ao banco para que possa comprar casa e ao pedir o segundo empréstimo ele me sobe os juros pois começa a duvidar da minha capacidade de pagar os empréstimos, a culpa é do banco?
A vossa ideia de uma superioridade moral que vem do alto de um qualquer púlpito que eu desconheço é mais entediante e enfastiosa que a que a própria Igreja prega...
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