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O voto branco tem poder?

É de respeitar a posição de quem prefere não optar, mas o voto branco não funciona para quem quer tomar posição na luta social e política.

Uma impressionante cadeia de emails anónimos tem divulgado uma mentira. Um apelo ao voto branco "contra estes políticos" garantia que, "se a maioria da votação for de votos em branco, são obrigados a anular as eleições e fazer novas, mas com outras pessoas diferentes nas listas".

Tanto circulou a mentira, que a Comissão Nacional de Eleições teve de lançar um esclarecimento sobre a lei: os votos em branco e os votos nulos não têm influência no apuramento dos resultados - será sempre eleito, à primeira ou segunda volta, o candidato que tiver mais de metade dos votos expressos, qualquer que seja o número de votos brancos ou nulos.

Os votos brancos e nulos já atingiram percentagens importantes. Somados, em eleições presidenciais anteriores, chegaram a 2% a 3%, ultrapassando mesmo alguns candidatos. Cabe perguntar: quem o recorda? Quem se incomodou? Quem vibrou e quem tremeu? Os votos brancos e nulos são uma má opção de protesto, desde logo porque podem não ser protesto nenhum. São apenas uma expressão vazia, onde cabe o apelo autoritário, a hesitação radical (que não se decide a tempo), a desilusão do momento e a confusão com a abstenção. É de respeitar quem prefere não optar, mas o voto branco não funciona para quem quer tomar posição na luta social e política.

À esquerda, o apelo ao voto branco é uma desistência absoluta. Nestas presidenciais, a direita e a burguesia portuguesa unificaram-se na candidatura de Cavaco Silva. É o candidato da austeridade, da "recessão-que-cura", do "ajustamento no factor trabalho", dos CEO e dos accionistas de referência. Manuel Alegre foi sempre uma voz de divergência com a capitulação perante o liberalismo, uma garantia na defesa dos serviços públicos, uma voz em defesa dos direitos do Trabalho.

Neste quadro, o Bloco teve sempre clara a sua opção. E cada homem e mulher de esquerda assumirá a sua responsabilidade. Contra Cavaco, contará cada voto que não seja nele. E todos contam. O voto branco é que não.

Sobre o/a autor(a)

Dirigente do Bloco de Esquerda. Jornalista.
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