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Síria: sinais de uma nova intervenção ocidental
Sem acusar a uma das partes em conflito na Síria, a ONG francesa Médicos sem Fronteiras (MSF) forneceu hoje a primeira prova independente sobre o emprego de armas químicas nos arredores de Damasco. Sem que tenha sido comprovado até agora por uma fonte neutra, a oposição síria denunciou na última quarta-feira que o regime de Bachar Al-Assad realizou um ataque de grande envergadura com armas químicas na região de Damasco com um saldo de 1.300 mortos.
A Médicos sem Fronteiras apresentou neste sábado um quadro preciso das pessoas que atendeu neste dia. Segundo a ONG, “355 pacientes com sintomas neurotóxicos” morreram nos hospitais onde trabalha o pessoal da MSF. A organização afirmou que “três hospitais situados na administração de Damasco ajudados pelos Médicos Sem Fronteiras receberam no dia 21 de agosto e em menos de três horas cerca de 3.600 pacientes com sintomas neurotóxicos”. Entre os 355 mortos, há 54 crianças e 82 mulheres.
A MSF não se pronunciou sobre os responsáveis, só constatou os efeitos dos gases. Bart Janssens, diretor de operações da organização, disse que “os sintomas apresentados como o excesso de saliva, pupilas contraídas, visão turva, dificuldades respiratórias e o esquema epidemiológico, caracterizado pela afluência massiva de pacientes em um curto lapso de tempo, a proveniência dos pacientes e a contaminação dos socorristas e do pessoal que prestou os primeiros socorros, tudo isso sugere a exposição massiva a um agente neurotóxico”.
O ministro francês de Relações Exteriores, Laurent Fabius, incriminou diretamente as autoridades sírias: “todas as informações que dispomos convergem para dizer que houve uma matança química perto de Damasco e que ela foi patrocinada pelo regime de Bachar Al-Assad”.
A oposição síria denuncia há vários meses o uso de armas químicas na guerra, uma acusação que o governo sírio rechaça com o contra-argumento de que são os rebeldes que estão utilizando tais armas. Em março passado, dois jornalistas do Le Monde trouxeram da Síria as primeiras provas tangíveis da existência dessas armas no conflito. Essas provas foram analisados por laboratórios independentes que confirmaram a presença de elementos tóxicos mortais. Depois, em duas outras ocasiões, pode-se constatar o recurso aos gases tóxicos. Na última quarta-feira, o exército sírio lançou uma ofensiva na região de Ghuta oriental e em Muadamiyat al-Cham, dois setores localizados na periferia de Damasco e controlados pelos rebeldes. A oposição síria denunciou a morte de 1300 pessoas e o uso de armas tóxicas.
O governo de Damasco desmentiu categoricamente essa informação. Os rebeldes, porém, apresentaram imagens espantosas desse ataque. Desde a semana passada, nenhum representante de alguma entidade independente pode entrar no setor para corroborar as afirmações dos rebeldes sírios. Toda vez que estes acusam o governo de usar armas químicas, as autoridades dirigem as acusações contra eles. Angela Kane, representante da ONU para o desarmamento (Unoda), já está em Damasco negociando com o regime o acesso dos inspetores da ONU às zonas afetadas pelas armas químicas. “É preciso fazer um estudo imediato, exaustivo e imparcial”, disse Kane.
Uma boa parte do problema reside na credibilidade dos argumentos de ambas as partes e na veracidade das imagens distribuídas pelos rebeldes. As que circulam desde o dia 21 de agosto são as mais massivas e eloquentes que existem até agora sobre o uso de armas químicas nessa guerra. Essas imagens mudaram o curso do conflito, de várias maneiras. Em primeiro lugar, o presidente norte-americano, Barack Obama, disse que o ataque com gases tóxicos denunciado pelos rebeldes “requer a atenção dos Estados Unidos”.
Washington moveu nas últimas horas suas peças militares. A Marinha dos EUA começou a aumentar sua presença no Mediterrâneo mediante o deslocamento de um quarto navio de guerra, o USS Mahan. Esse navio conta com os mísseis de cruzeiro Tomahawak, decisivos para realizar ataques pontuais. Em segundo lugar, e pela primeira vez desde que governo e oposição da Síria trocam denúncias, o Irão, principal aliado de Bachar Al-Assad, reconheceu formalmente o emprego de armas tóxicas no conflito. O presidente iraniano, Hassan Rohani, disse: “Na Síria, muitos inocentes ficaram feridos e sofreram o martírio dos agentes químicos, e isso é lamentável. Condenamos total e firmemente a utilização de armas químicas. A República islâmica aconselha a comunidade internacional a exercer toda sua influência para impedir o uso dessas armas em qualquer lugar do mundo”. O presidente iraniano não acusou os rebeldes, o que foi feito pelo porta-voz da chancelaria iraniana: “há provas de que grupos terroristas realizaram essa ação”, disse Abbas Aragchi.
A guerra na Síria começou com a revolta que estourou em março de 2011, sendo seguida pela repressão e pela militarização da oposição. Segundo a ONU, o conflito já deixou um saldo de 100 mil mortos e provocou o êxodo de vários milhões de sírios. O esquema atual do conflito pressagia uma nova intervenção ocidental. O deslocamento de navios norte-americanos e a posição da França antecipam uma participação talvez mais direta do que aquela que se conhece até hoje, ou seja, o fornecimento de armamentos aos rebeldes e treinamento militar. Resta saber a posição que adotará a Rússia frente as sirenes cada vez mais próximas de uma nova cruzada ocidental.
Artigo publicado no portal Carta Maior
Comentários
Caracterizar uma possível
Caracterizar uma possível intervenção como uma "nova cruzada" parece-me exagerado. Será que nós, na esquerda, perdemos a coragem? Concordo com a denúncia de guerras injustas como a do Vietname, ou deitas por interesses económicos e com premissas falsas como no Iraque. Mas há guerras que se justificam. Em Espanha, nos anos 30, a esquerda lutou contra o fascismo. A segunda guerra mundial foi uma guerra contra o atroz regime Nazi defendida pela esquerda e mesmo a direita democrática nos países aliados. O que se passa na Síria, em particular este uso de armas químicas e também a repressão brutal por parte do governo, é uma vergonha. É certo que é preciso apurar responsabilidades sobre quem usou as armas químicas. Mas se um governo faz isto aos seus cidadãos (somado à repressão que já se testemunhou) perde legitimidade e tem de ser combatido. A esquerda não pode ter falinhas mansas para esta gente. A questão é se os rebeldes serão muito melhores (e se serão eles que estão a fazer isto): nesse caso, negociar o envio de uma força de paz seria mais adequado. Mas lutarmos para que os países em que vivemos ("o ocidente") fiquem sempre de braços cruzados independentemente do sofrimento brutal da população noutro lado do mundo às mãos de assassinos cruéis vai contra os ideais internacionalistas da Esquerda.
Mas os "rebeldes" têm armas
Mas os "rebeldes" têm armas químicas, e só por acaso estão a perder a guerra. só acho curioso é que ninguém fala que esses rebeldes não têm o apoio da população síria, recrutam crianças e já as usaram para executar prisioneiros de guerra, atacaram universidades entre outras barbaridades. O caso mais recente foram de 2 jornalistas americanos que foram raptados e mantidos prisioneiros pelos "rebeldes", e agora um desses jornalistas voltou e está a divulgar o tipo de barbaridades que eles por lá cometem.
Eles não defendem liberdade nenhuma, este exército rebelde não passa de um monte de mercenários pagos a peso de ouro pelos EUA e UE para destabilizarem o país e provocarem uma invasão à Síria, para que possam lá colocar um líder favorável aos interesses europeus e americanos.
vê lá se a UE está preocupada com o egipto, eles sabem que fique o morsi no poder ou o exército fascista os recursos estão sempre assegurados por isso podem morrer lá aos milhares que "é uma tragédia" mas não faz mal.
É capaz de ter razão. Pela
É capaz de ter razão. Pela informação incompleta que me chega da situação, parece-me que nem o Governo nem os rebeldes são flor que se cheire. Mas se ambos estão a utilizar armas químicas, tanto mais razão para uma intervenção que salve o povo sírio de ambos. Pelo que diz, parece que acredita que o governo sírio não utilizou armas químicas nem está a fazer uma repressão brutal da sua população. Se assim for, dou-lhe razão, mas ainda não vi informação que corroborasse tal ponto de vista.
Estupefação. Desta vez não
Estupefação. Desta vez não culpam Israel de nada :O
Deviam era compreender que ter vizinhos destes , é do pior que há. Gostavam de ter a Siria como vizinho de Portugal ?
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