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Governo britânico exigiu ao Guardian entrega ou destruição de material de Snowden

O diretor do Guardian denunciou, num artigo publicado esta segunda feira, a pressão exercida, por parte do governo britânico, contra o jornal, no sentido de o diário entregar ou destruir o material disponibilizado por Edward Snowden.
Sede do Guardian em Londres. Foto de clattermonger, flickr.

“Há pouco mais de dois meses fui contactado por um alto responsável do Governo, que afirmou representar a opinião do primeiro ministro. Seguiram-se duas reuniões durante as quais ele exigiu a devolução ou destruição de todo o material” facultado pelo ex-consultor da CIA, avançou Alan Rusbridger.

Caso não seguisse essas instruções, o jornal seria alvo de uma ação judicial, esclareceu.

Um mês mais tarde, o discurso endureceu. “Já se divertiu. Agora queremos as coisas de volta”, avançou o responsável governamental durante uma conversa telefónica mantida com o responsável do diário, e reproduzida por este.

“E assim aconteceu um dos momentos mais bizarros na longa história do Guardian, com dois especialistas em segurança dos serviços de comunicação do governo a supervisionar a destruição dos discos rígidos na cave do Guardian, para garantirem que nada ficava entre os pedaços de metal que pudesse vir a ter qualquer interesse para agentes chineses”, escreveu Rusbridger, lembrando ainda que um dos funcionários governamentais disse, após este episódio, e em tons de brincadeira, que já podiam “cancelar os helicópteros pretos".

O diretor do jornal garantiu que o trabalho de investigação, e a divulgação do conteúdo dos documentos entregues por Snowden, vai continuar , apenas não será feito a partir de Londres. “A apreensão do computador de Miranda, telemóveis, discos rígidos e câmara também não terá qualquer efeito no trabalho de Greenwald”, avançou ainda.

No artigo, o diretor do Guardian condenou a detenção de David Miranda (ler artigo Companheiro do jornalista do caso Snowden detido por retaliação) e alertou para o facto de que "pode não levar muito tempo até que se torne impossível para os jornalistas terem fontes confidenciais".

Detenção de Miranda foi “legal e processualmente” correta

Num comunicado revelado esta terça feira pelo serviço de comunicação da polícia metropolitana (MPS) londrina, é apontado que a detenção de Miranda foi “legal e processualmente” correta e que a interpelação do brasileiro foi “necessária e proporcionada”.

O presidente do comité de Assuntos Internos do parlamento britânico, Keith Vaz, já veio, entretanto, anunciar a abertura de um inquérito parlamentar para apurar as razões que estão na base da detenção de David Miranda.

A Casa Branca confirmou esta segunda feira, por sua vez, que foi avisada, com antecedência, pelas autoridades britânicas, da detenção de David Miranda, recusando-se, no entanto, a esclarecer se os Estados Unidos iriam ter acesso ao material confiscado ao companheiro do jornalista que segue o caso Snowden.

O brasileiro David Miranda vai processar o governo britânico e exigir a restituição de todo o material que lhe foi confiscado. A sua representante legal também já enviou uma notificação às autoridades britânicas no sentido de as mesmas se absterem de “inspeccionar, copiar, divulgar, transferir, distribuir ou interferir de qualquer forma com os dados pertencentes ao seu cliente, enquanto a sua queixa não for avaliada pelo tribunal”.

 


Artigo de Alan Rusbridger que denuncia a pressão por parte do governo britânico está disponivel em http://www.theguardian.com/commentisfree/2013/aug/19/david-miranda-sched...


 

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