O Governo não caiu. Colapsou, podre por dentro. A crise política sucedeu às várias crises criadas pela maioria absoluta do PS: na habitação, no SNS, nos rendimentos das famílias.
Um motorista que dorme na bagageira do carro porque não tem dinheiro para um quarto não é sinal de progresso, é a prova da barbárie. E a economia de plataformas é responsável por terem criado o contexto em que tal se tornou possível.
A despesa do SNS com externalizações e contratualizações tem aumentado ano após ano. E de cada vez que aumenta o SNS fica mais degradado. Na verdade, a receita liberal é que tem sido o problema do SNS. Recorre-se demais (e não de menos) ao setor privado.
Para um problema tão sério como o que o SNS está a viver não se pode pretender responder com tapa-buracos. O SNS e o país merecem mais do que um mero Governo de contingência cujo vazio de ideias é a confissão do seu próprio fracasso.
Adalberto Campos Fernandes criticou a falta de investimento para a generalização das USF e a inexistência de autonomia nas instituições do SNS. Diz o ex-ministro que só não fez o que agora diz que tem de ser feito porque não tinha condições para isso.
1% de aumento para pessoal e mais 3,7% para o SNS quando a inflação será de pelo menos 4%. São os três números da estratégia do Governo PS para a Saúde. Não tem nada a ver com progresso ou desenvolvimento.
Este abandono de um objetivo de sempre é, em si mesmo, um programa de Governo, porque é hoje possível contratar mais profissionais para os cuidados de saúde primários e é hoje possível atribuir mais equipas de saúde familiar a mais utentes.
11 de março de 2020: a OMS declara a Covid-19 uma pandemia. Dois anos depois há muitas aprendizagens a fazer: que o SNS deve ser reforçado, que os profissionais devem ser valorizados, que a precariedade e as formas atípicas de relações laborais devem ser combatidas…