João Ricardo Vasconcelos

João Ricardo Vasconcelos

Politólogo, autor do blogue Ativismo de Sofá

Este Governo caiu de podre, implodiu, gripou, deu o berro. Prolongar a sua existência é um erro tremendo, bom apenas para os humoristas.

Sabemos que o prazo de validade do Executivo terminou há muito, mas não é fácil arriscar palpites sobre a distância a que estamos do fim. E vários fatores determinantes para isso contribuem.

Queremos a festa do pai de Passos Coelho? Claro que queremos! Vamos a isso. Mas dificilmente valerá a pena se se virar o disco e tocar o mesmo.

Nas cabecinhas brilhantes da nova e velha direita, o funcionário público é uma espécie de carraça que não deixa este nobre país crescer. Eis a direita justiceira.

Esta romanceação do seu papel presente, assente num branqueamento do que até há pouco tempo defendia, é uma espécie de “The Life of Pi”.

O que o acórdão do Tribunal Constitucional devia desde logo levar-nos a concluir é que Portugal precisa mais do que nunca de uma profunda negociação da dívida. Este é o primeiro desenho que temos de fazer ao presente Executivo.

Mais do que saber se é do país A ou B, se anda de transportes públicos ou se é amante de futebol e de tango, importa saber se teremos um novo papa conservador ou reformista.

As pessoas, e não apenas os suspeitos do costume, parecem ter-se recordado que a democracia também se faz nas ruas, mostrando indignação, mostrando que se é exigente e que a vontade de mudança é uma arma que pode e deve ser mostrada.

E se os números das regiões mais afetadas demonstram que a corrida aos 20% de desemprego a nível nacional está ao rubro, Passos Coelho lá vai informando que tudo está “razoavelmente” de acordo com as previsões e que este aumento “é normal”.

O encerramento das 49 salas de cinema Castello Lopes leva-nos a questionar se tal é o prenúncio do fim de um tempo.