Francisco Louçã

Francisco Louçã

Professor universitário. Ativista do Bloco de Esquerda.

O primeiro despacho da Agência Reuters acerca do referendo português tinha como título "Portugal testa a modernidade". A perseguição criminal às mulheres que abortam em Portugal é vista em toda a Europa como uma excentricidade e uma aberração - e em Portugal também. E esse foi o tema desta campanha referendária. E é por isso que o Sim aparece em posição de ganhar no domingo

Ao longo dos últimos dias, a campanha do Não parece ter explodido. Ninguém se entende, uns dizem uma coisa e outros o seu contrário. Uns querem punir e outros querem não punir. Uns falam da vida inviolável e outros das condições em que a mulher pode abortar e não ser presa.

Muitas pessoas têm dúvidas sobre como votar no Referendo. É por isso que escrevo para os Leitores do Correio da Manhã, com todo o gosto.

Já sabe que Voto Sim. Voto Sim porque todas as pessoas de bem ficam incomodadas pelos julgamentos das mulheres que abortaram. E porque acho que não podemos condenar essas mulheres a uma pena de prisão: desde o último referendo, 17 mulheres foram condenadas por aborto e muitas mais foram julgadas. Tenho vergonha por estes julgamentos.

O incómodo dos defensores do  Não é notório sempre que se lhes fala da realidade. Ribeiro e Castro veio "exigir" a retirada de um cartaz que apela a que as pessoas não se abstenham, porque assim permitiriam continuar a pena de prisão para as mulheres. Mas não, dizem os do Não, nenhuma mulher é presa - fraco argumento porque quer contradizer a realidade.

Dentro de um mês realiza-se o referendo sobre o aborto. Começa agora a fase final da campanha, que deve ser conduzida com inteligência, com alegria e animação e sobretudo com muita determinação. É por isso útil fazer um curto balanço da situação em que estamos agora, para escolher qual deve ser a estratégia para a vitória do SIM.

O parlamento discute hoje um projecto de lei do Bloco de Esquerda para impedir aumentos das tarifas da electricidade acima da inflação, nomeadamente para impedir o aumento de 6% que entrará em vigor dia 1 de Janeiro. Ao mesmo tempo, o Bloco está a fazer uma campanha em todo o país contra este aumento, com a distribuição de um comunicado à população (ver aqui o comunicado).

Está na moda um argumento curioso: a crise da direita é passageira, porque se cura mal voltar ao poder, a da esquerda é duradoura, porque se agrava quando está no poder. O director do Expresso, ou Pacheco Pereira, agora empenhado no novo programa do PSD, e tantos outros, dão corpo a esta teoria.

Caso Mateus, ninguém sabe aplicar as regras. Caso Apito Dourado, anos escorridos sem decisões nem sequer julgamento. Caso Felgueiras e o triângulo entre futebol e câmara municipal, nem se ouve falar do assunto. Parece ser a sina do futebol, que se tornou um abismo de corrupção e de negócios escuros, precisamente porque é um desporto espectacular que prende milhões de pessoas, uma máquina de dinheiro e um centro de poder - não se contam pelos dedos de uma mão os presidentes de câmara, os ministros, primeiro-ministro, procurador-geral da república e outras altas figuras institucionais que fizeram tarimba no futebol.

A Comissão Europeia divulgou ontem as suas projecções, confirmando a sua confiança no cumprimento das metas do défice para este ano, mas antecipando o não cumprimento no próximo ano. Em consequência, a Comissão exige ao governo novas medidas de cortes na despesa pública. Não é preciso muito esforço para adivinhar o que o governo vai fazer.

Foi ontem divulgado um relatório do FMI sobre o futuro da economia portuguesa, coincidindo com o dia em que o ministro das finanças estava no Parlamento a apresentar o Orçamento para 2007.