Francisco Louçã

Francisco Louçã

Professor universitário. Ativista do Bloco de Esquerda.

Na sequência dos resultados eleitorais em Lisboa, tanto o PSD como o CDS mergulharam numa crise vertiginosa. Era de esperar. O PSD tem o pior resultado de sempre, depois de ter governado a Câmara durante 6 anos, de ter escolhido Carmona para presidente e de se ter desentendido com ele. E, no PSD, o desgaste da direcção é muito acentuado e todas as oposições preferem a substituição de Marques Mendes. O CDS não elege, pela primeira vez na sua história, e percebe-se que teria tido mais hipóteses com a vereadora que abandonou o partido, Maria José Nogueira Pinto. Paulo Portas quis testar a sua liderança e perdeu. Era portanto de prever que os dois partidos de direita entrassem em convulsão.

É crónico e não é de hoje: em Portugal fazem-se muitas piadas, tanto com questões sérias e dramáticas como, por maioria de razão, com o que tem piada. E é sempre assim, os governos não acham graça. No entanto, é difícil encontrar um governo que, como o actual, deteste tanto as piadas que provoca.

A última reunião do Conselho de Ministros tomou uma decisão histórica: abrir o processo de privatização da empresa Estradas de Portugal. A razão é simples: pacto de estabilidade e crescimento. Não é uma ideia nova, nem é boa - pelo contrário, é um escândalo que demonstra por onde caminha a política de privatizações.

A história conta-se em poucas palavras. Uma criança de quatro anos, filha de pais russos, mas nascida em Portugal, foi acolhida por uma família portuguesa. Aprendeu a falar português como língua materna e só conhece os seus pais de acolhimento. Mas o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras quer expulsá-la.

23.30 (dia 29). Piquete de greve no Metro, Marquês de Pombal. Umas boas dezenas de trabalhadores, homens e mulheres, estão no piquete. A greve começa à meia-noite, e a empresa tenta forçar o funcionamento das linhas de metro entre a meia-noite e a uma, para depois retomarem às seis da manhã. O primeiro embate faz-se portanto no primeiro minuto da greve. Com o piquete estão alguns trabalhadores que tinham ido para trabalhar, porque temiam a represália e não são sindicalizados - mas aceitam fazer greve e ficam com os seus colegas. Há vários sindicatos representados, com algumas diferenças de opinião, mas que chegaram a um acordo: não se cumprem os serviços mínimos.

Um dirigente partidário surpreendeu, há poucos dias, afirmando que uma greve geral não precisa de ser geral. O que certamente não pode ser é um vale tudo: a greve, para ter peso social, deve conseguir demonstrar a voz do descontentamento social. Vale a pena por isso discutir o que é que uma greve geral precisa de ser.

A decisão do Conselho Nacional da CGTP, que convocou a greve geral para 30 de Maio, apanhou muitos sindicalistas de surpresa. Sabia-se que essa discussão tinha sido iniciada na central, mas tinha sido adiada na última reunião, porque muitos dos dirigentes sindicais então achavam que não havia condições para uma confrontação com a dimensão de uma greve geral. Percebeu-se entretanto que havia uma dimensão de debate de estratégia sindical muito influenciada por outras escolhas políticas.

Abro os jornais de hoje da Madeira e leio. O Diário de Notícias (do Funchal) garante que cada agricultor vai receber um prémio, que pode chegar a mil euros num ano, pelo seu trabalho no contributo para a paisagem. Escreve ainda o DN que "O Pavilhão da Escola Secundária Francisco Franco é novo e já mete água". Em contrapartida, uma boa notícia: há um "almoço na Quinta Vigia (sede do Governo Regional) só para deputados do PSD".

No período preparatório do referendo, surgiram muitos argumentos contra a sua realização. Segundo uns, tratar-se-ia de correr um risco desnecessário, porque o Parlamento teria maioria para votar a lei. Para mais, seria perder tempo. Segundo outros, o referendo é sempre arriscado, por natureza, e devem-se evitar os riscos. Esses argumentos têm uma justificação razoável: havia um risco no referendo. Mas são politicamente errados, na minha opinião.

Os jornais, nos dias de balanço dos referendos, fizeram muitas apreciações, consoante os cronistas, os jornalistas e as suas opiniões. Mas uma parece ter vingado: a de que o movimento do Sim ganhou porque foi mais moderado do que em 1998.

Penso exactamente o contrário: que o Sim ganhou porque foi mais radical do que em 1998 e porque pretendeu assim disputar o que tinha a disputar, que era a maioria dos votos.