Francisco Louçã

Francisco Louçã

Professor universitário. Ativista do Bloco de Esquerda.

O acordo celebrado entre a Plataforma Sindical e o governo dividiu o movimento de professores. Houve quem com ele embandeirasse em arco, houve quem achasse que foi uma derrota trágica. Ainda bem que todas as visões foram e estão a ser discutidas nas escolas. Depois da grande manifestação e ainda mais depois do acordo, é fundamental definir uma estratégia para a luta ao longo destes meses do fim do ano lectivo e sobretudo ao longo do próximo ano. É sobre isso que quero apresentar aqui alguns argumentos.

A luta dos professores suscitou vagas de entusiasmo: finalmente a escola pública, a sua qualidade e democracia estão a ser defendidas. Mas provocou também, como não podia deixar de ser, vagas de indignação. Do governo, naturalmente, mas também dos seus mais tradicionais apoiantes no ataque à escola pública, os neoconservadores. A estratégia das escolas privadas começou por isso a apresentar os seus argumentos.

A resposta da ministra à manifestação de professores é muito ilustrativa da sua incapacidade em resolver qualquer problema na educação: é irrelevante o número, diz ela. Só que o número indica que dois terços dos professores de todo o país se manifestaram em Lisboa. Nunca em toda a história política moderna tinha uma profissão com esta dimensão social mobilizado a grande maioria dos seus profissionais para combater uma política.

O último livro de Ítalo Calvino, Lições Americanas, inclui um conjunto de conferências de 1985, apresentadas nos Estados Unidos. "Ligeireza", "rapidez", "exactidão", "visibilidade" e "multiplicidade" são os termos de referência destas lições, que apresentam o romance contemporâneo como uma enciclopédia dos saberes e de comunicações. Calvino discute o sentido da profundidade e da crise nas ideias de hoje, contesta o efémero que domina a cultura e opõe a televisão, centro do artifício, à literatura, o lugar da reflexão. 

A hipocrisia dos governos europeus pretende tratar a questão como um caso de polícia, como se fossem perigosos criminosos a invadir um país que lhes é estanho.

Mas o que estes imigrantes nos dizem é o contrário. Que querem viver, trabalhar, ser felizes, ter uma oportunidade. Têm direito a essa oportunidade.

O episódio da votação do empréstimo na Câmara de Lisboa revelou o novo estilo do PSD. Caceteiro, ameaçador, contraditório, ignorante.

A greve da função pública somou-se ontem à longa greve dos ferroviários e trabalhadores dos transportes. A resposta generalizada e prolongada dos grevistas franceses é um incentivo para a luta pela segurança social em toda a Europa.

O esvaziamento da direita, pateticamente demonstrado no debate do Orçamento, é o efeito da vitória de Sócrates ao esvaziar a política da direita. Mas essa é a derrota de quem pensasse que o PS poderia vir a fazer políticas sociais respondendo ao atraso e às injustiças.

Durante o último fim de semana, o Governo dedicou três desmentidos - em quatro comunicados - ao Bloco de Esquerda. Tanto frenesim pode parecer estranho, e é mesmo. O Ministério da Saúde fez dois comunicados, o da Educação um e o do Ambiente outro. O Secretário de Estado do Ambiente foi despachado para a RTP, para uma resposta que pretendia acusar-me de "mentir". Os outros comunicados afinavam pelo mesmo diapasão.

Não sei se haverá prova mais evidente da irresponsabilidade das políticas de mercado do que esta ignorância acerca das suas vítimas: o aumento do endividamento e da pobreza e o aumento do desemprego - com a redução das prestações sociais - são apresentados nos jornais económicos ou nos discursos ministeriais como dois factos sem qualquer relação.