Cristina Semblano

Cristina Semblano

Doutorada em Ciências de Gestão pela Universidade de Paris I – Sorbonne; ensinou Economia portuguesa na Universidade de Paris IV -Sorbonne e Economia e Gestão na Universidade de Paris III – Sorbonne Nouvelle

O jovem banqueiro providencial, nem de direita nem de esquerda, criador formal do extremo-centro, e eleito com a promessa de acabar com a extrema-direita, acabou por, à força de a imitar, se fundir em grande parte com ela.

Além de acontecer num momento económico e social particularmente delicado, marcado pela forte inflação e a diminuição do poder de compra , esta reforma é não só injusta como desnecessária.

Será a contragosto que Joe Biden, este amigo dos ricos e da guerra, dos encarceramentos de massa, e das restrições às liberdades individuais, se desviará, mesmo de forma infinitesimal, da doxa neoliberal.

Sob uma aparência tecnicista, o que se pretende de facto com a reforma do sistema de pensões é gravar na pedra critérios de cálculo que organizam o seu depauperamento.

O PSD ofereceu-nos o triste espetáculo de sucessivas reviravoltas, tomando como reféns os representantes dos partidos, o MAI e o CNE, o Tribunal Constitucional, a Assembleia da República e o Governo, mas em primeiro lugar os emigrantes.

Macron, o banqueiro-presidente que quer acabar de dar cabo do que resta do modelo social das trente glorieuses, desde o direito do trabalho até às reformas, desde a habitação até à proteção social.

O movimento dos coletes amarelos em França é um movimento de revolta colectiva contra a classe dirigente incarnada por Macron por parte de uma franja da população que se sente injustiçada por aquela.

É difícil impor à população, através de decreto, uma reforma da Lei do Trabalho de tamanho XXL quando se dispõe de uma tão fraca representação real, a não ser que se opte pelo uso acrescido da repressão. 

O crescimento da extrema-direita na Europa é uma consequência direta das políticas neoliberais que começaram a ser promovidas no início da década de 80.

Não há diferença de fundo entre a direita de François Fillon e o “nem direita nem esquerda” de Emmanuel Macron, se excluirmos algumas questões de sociedade.