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YouTube: anúncios de principais marcas financiam desinformação climática, algoritmo ajuda

O Avaaz estudou a presença da desinformação sobre alterações climáticas no YouTube e concluiu que anúncios das cem principais marcas contribuem para o seu financiamento. O grupo ativista acusa a plataforma de conduzir milhões de pessoas a vídeos com mentiras e que “confundem as pessoas sobre um dos maiores crimes da atualidade.”
Foto de Brick101/Flickr.

Um relatório realizado pelo grupo ativista Avaaz, apresentado esta quinta-feira, encontrou publicidade de cem das maiores empresas do mundo nos vídeos que promovem desinformação acerca das alterações climáticas.

As críticas do Avaaz não se dirigem tanto a estas empresas, que não estarão a par que os seus anúncios ajudam a financiar os grupos que divulgam estes vídeos, quanto à própria plataforma de vídeos que lhes abre as portas. Isto significa que dinheiro destas marcas famosas, mesmo as que se gabam de ser conscientes ambientalmente e até associações ambientalistas que colocam anúncios no YouTube, vai diretamente parar aos grupos e divulgadores que pretendem espalhar desinformação sobre as alterações climáticas. Recorde-se que, segundo o modelo de publicidade do YouTube, 55% das receitas de publicidade são embolsadas pelo criador do vídeo, o restante valor vai para a página.

Outro problema identificado é que muitas pessoas são empurradas para conteúdo errado ou manipulatório sobre o tema. Julie Deruy, uma dirigente deste grupo, considera que o YouTube “está a conduzir milhões de pessoas de pessoas a vídeos de desinformação climática.” Acrescenta que “isto não diz respeito a liberdade de discurso, diz respeito à publicidade de borla que o YouTube está a dar a vídeos factualmente errados que arriscam confundir as pessoas acerca de um dos maiores crimes do nosso tempo.” Para ela, “o YouTube não deveria divulgar, sugerir, promover, publicitar ou conduzir os seus utilizadores a desinformação”.

O grupo examinou as principais ocorrências na plataforma de divulgação de vídeos de buscas como “aquecimento global”, “alterações climáticas” ou “manipulação climática”. O resultado foi que 16 em 100 dos vídeos mais destacados sobre aquecimento global contém desinformação. O mesmo se passando com oito em cem dos vídeos sobre alterações climáticas ou 21 em cem dos vídeos sobre manipulação climática. E diz que “isto é apenas a ponta do iceberg” porque sugestões como as do “ver a seguir” ou notificações de vídeos “a ver”, que fazem parte dos algoritmos de recomendação da plataforma, são responsáveis por cerca de 70% do tempo que os utilizadores aí gastam.

Dez destes vídeos de desinformação mais vistos contavam, em média, com mais de um milhão de visualizações.

O Avaaz sublinha que o YouTube anteriormente “tomou providências para proteger os seus utilizadores de teorias da conspiração e anti-vacinas” mas “não agiu com igual força contra a desinformação em geral”, incluindo a sobre as alterações climáticas.

Os ativistas propõem assim que o YouTube “desintoxique os seus algoritmos de recomendação”, desmonetarize a desinformação de forma a que este tipo de conteúdo “não inclua publicidade e não seja financeiramente incentivado”, que trabalhe com verificadores de informação independentes que informem os utilizadores que estão a ver informação falsa ou enganadora, que promova a transparência facultando aos investigadores os dados de quantas pessoas foram levadas à desinformação através dos seus algoritmos de recomendação.

O Avaaz conclui o seu relatório dizendo que “os algoritmos do YouTube continuam a desinformar os utilizadores de forma danosa”. E são milhões os que estarão sujeitos a estes danos. Fadi Quran, diretor de campanha da organização, em declarações ao Euronews diz que “estamos a falar de milhões de pessoas que estão a ser convencidas ou a ser empurradas para dentro da toca do coelho da desinformação negacionista das alterações climáticas”.

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