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Vacinas: Bloco deu consequência orçamental ao consenso científico
Dir-se-ia que o PCP quer passar a decidir o Programa Nacional de Vacinação no seu comité central e que o Bloco se vendeu ao lóbi da indústria farmacêutica. Ou vice-versa. Quem tenha acompanhado a polémica gerada na sequência da dotação orçamental e inclusão no plano nacional de vacinação das vacinas da meningite B, do rotavírus e do alargamento da vacina do HPV aos rapazes pode ter ficado com qualquer uma destas ideias. Bastonário da Ordem dos Médicos, ex-Ministros da Saúde e atuais responsáveis governamentais da saúde dispararam contra o parlamento que teria usurpado funções médicas.
O líder parlamentar do Bloco respondeu à polémica em conferência de imprensa esclarecendo as razões da proposta de inclusão de três vacinas cuja validade “ninguém coloca em causa.” Pedro Filipe Soares notou que “em todos estes casos já foi dada nota da comunidade científica dos benefícios que existem para a saúde pública da sua introdução no programa nacional de vacinação”. Assinalou ainda que diversas entidades públicas participaram no debate que tinha sido empreendido no âmbito da Comissão de Saúde. Portanto, concluiu, “o que fizemos foi dar consequência ao trabalho que já tinha sido realizado e que envolve as diversas entidades públicas do nosso país.”
Em artigo de opinião publicado no esquerda.net, o médico Bruno Maia adiantou que “a Assembleia da República não “aprovou” nenhuma vacina” pelo que “a decisão do parlamento não é técnica mas de política de saúde” e defendeu que não há dúvidas científicas sobre a necessidade destas vacinas. Bruno Maia remata o seu artigo devolvendo a questão sobre intromissões: “é a Assembleia da República que se está a intrometer num assunto técnico ou é a Ordem dos Médicos que se está a imiscuir na decisão política?”
Comentários
Peço desculpa, mas "consenso
Peço desculpa, mas "consenso científico" cheira a vigarice. Segundo as notícias, a Comissão de Saúde da AR não ouviu a DGS e, dentro da DGS, a comissão que trata das vacinas. E, acrescento eu, também não ouviu ninguém do campo dos "anti-vacinas". E, acrescento eu, também devia.
Introdução de vacinas no PNV
Caros senhores,
Chamo-me Manuel Gomes, sou professor de epidemiologia na Faculdade de Ciências, trabalho com a epidemiologia nacional há 30 anos e posso-vos assegurar que cometeram um erro colossal.
Vou tentar resumir:
1º Os senhores confundem administração *individual* de uma vacina, prescrita por uma parte dos pediatras, com vacinação em massa de elevada cobertura. Esta última, tem consequências que a vossas intervenções indicam que não vos passam pela cabeça. É natural, não é vossa obrigação conhecê-las, NEM é obrigação do pediatra. Para isso existe uma ciência chamada Epidemiologia. Algumas das consequências são muito sérias. Não me vou alongar, mas resumirei que as consequências se prendem com alteração da biodiversidade do agente patogénico visado, alteração da idade média em que os novos doentes surgem, e interação entre patologias diferentes causada pelo mesmo agente em idades diferentes do hospedeiro (nós). A avaliação destes perigos é feita pelo Epidemiologista, NÃO é pelo pediatra. O pediatra avalia eficácia e segurança da vacina, não avalia efeitos populacionais.
O erro que os senhores cometem é semelhante a confundir o objecto de estudo do psicólogo com o objecto de estudo da sociologia ou da psicologia de massas. Se os senhores querem prever movimentos sociais, não é pela sociedade de psiquiatria que começam, ou é ?
2º Oiço-vos mencionar que "vários" países têm as vacinas que pretendem adicionar ao PNV. Se se derem ao trabalho de comparar os programas de vacinação dos países europeus, duvido que encontrem 2 iguais. Há 3 razões para isso. A principal é que a epidemiologia de cada doença é bastante diferente entre países, por vezes até entre regiões do mesmo país. Evidentemente há países que têm algumas dessas vacinas, mas garanto-vos que mesmo que o país seja rico, NÃO é apenas por ser rico que tem a vacina, existem razões epidemiológicas para isso. Todos os países são muito cautelosos a introduzir vacinas. Os senhores sabiam por explo que o UK tem surtos epidémicos de meningite nos adolescentes ? é natural então que tenham vacina para o meningo C, para o B e que em breve introduzam para o Y. Mas Portugal NÃO tem nem nunca teve surtos em adolescentes ! é um mero exemplo, espero que percebam o meu ponto. Não faz sentido andar a dizer que 5 ou 6 ou 10 países têm a vacina A ou B. Isso não serve de exemplo para coisa nenhuma!
3º Eu posso escalpelizar detalhadamente o meningo-B, o rotavirus e o HPV em homens, para vos mostrar que existem boas razões para a Comissão de Vacinação ter colocado sérias reservas à sua introdução no PNV. Têm toda a razão em fazê-lo!
Estive recentemente a ver os slides que a farmacêutica MSD fez na Comissão de Saúde da Assembleia da República em 28 Jun. Autêntica banha da cobra. O essencial, aquilo que faz com que não se justifique, está escondido. Mesmo assim, têm a honestidade de reconhecer que o custo dessa vacina em homens são 3,6 milhões, o que é extraordinário porque para mulheres são 3,4 milhões.. e quem tem útero são as mulheres. Mas eles terão de apresentar factura, portanto…
O erro colossal que os senhores estão a cometer é minar o programa nacional de vacinação. E isso é muito lamentável, é criminoso. Não há melhor forma de o minar que começar por elogiar e depois... introduzir vacinas ou práticas que não têm fundamento científico sustentado na *nossa* epidemiologia. Os senhores vão dar cabo da credibilidade do PNV.
os meus cumprimentos
Manuel Gomes
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