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Universidade de Aveiro suspende professor por declarações homofóbicas

“Estamos a precisar duma inquisição que limpe este lixo humano” e “há muita coisa que só se resolve com violência” são algumas das afirmações do professor de Física agora suspenso que causaram revolta e um protesto de estudantes.
Protesto em frente à Reitoria da Universidade de Aveiro. Fotografia: Marcha LGBTI de Aveiro

Paulo Lopes é docente no departamento de Física da Universidade de Aveiro. No dia 16 de junho, fez uma publicação na sua página de Facebook na qual começa por se referir a uma campanha publicitária de um canal televisivo que considera ser “um atentado à inteligência e também à normalidade por parte de organizações ‘terroristas’ que nos tentam impor à força os seus desvarios”. 

Os comentários continuam. O professor refere que "esta bosta tem o nome de ‘ideologia de género’ e constitui um dos grandes perigos civilizacionais que teremos que começar a enfrentar". Afirma que estas “ideologias” estão associadas a uma “franja minúscula do espectro político” que adjetiva de “radical” e “intolerante” e que pretendem “impor as suas distorções sociológicas à força”. 

O docente prossegue, escrevendo que a ideologia de género é “cientificamente errada”, “disruptiva de uma sociedade sã, contribuindo para uma decadência civilizacional que já é largamente visível”, que só “floresce nas mentes doentias duma minoria” associada “a pessoas profunda e mentalmente perturbadas”. Afirma ainda que “estamos a precisar urgentemente duma ‘Inquisição’ que limpe este lixo humano todo!”

Estas são algumas das afirmações patentes na publicação de Paulo Lopes que causaram revolta junto dos alunos da Universidade de Aveiro e que entretanto alastraram às redes sociais e aos órgãos de comunicação social. 

As reações

A Universidade de Aveiro pronunciou-se sobre esta situação no dia 29 de junho, afirmando que “a Universidade de Aveiro defende a liberdade de expressão e de opinião, consagrada na Constituição da República Portuguesa, reconhecendo a separação das esferas pessoal e profissional” acrescentando que não tolera “discursos de ódio, de discriminação ou de incitação à violência, qualquer que seja a sua natureza, origem ou contexto”. Neste comunicado, a Universidade incita a a comunidade académica a “comunicar fundamentadamente” situações que mereça, “apreensão”, devendo recorrer aos “canais formais existentes (Email do Reitor; Canal Pergunta ao Reitor; Provedor do Estudante)”. 

No mesmo dia, a Associação Académica da Universidade de Aveiro reagiu. Considerando que “ a liberdade de expressão é uma das maiores conquistas que tivemos” a associação manifesta “o seu total repúdio à conduta pessoal do docente que, ainda que no exterior do ambiente académico, não deixa de afetar os estudantes da academia”. 

Entretanto, esta situação levou a organização da Marcha LGBTI de Aveiro a convocar um protesto que decorreu no dia 4 de julho, em frente a Reitoria da Universidade de Aveiro. Neste mesmo dia, a Universidade de Aveiro anunciou que o professor se encontrava suspenso, enquanto decorre um processo disciplinar. 

Professor já tinha sido alvo de inquérito, mas Universidade arquivou o caso

“Todos os elementos relevantes para o processo foram reunidos e o processo foi instaurado na sexta-feira passada” afirmou o reitor Paulo Jorge Ferreira, em declarações à agência Lusa, acrescentando que “o professor foi ainda suspenso, já no âmbito desse processo, para que agora se possam proceder às diligências necessárias com a tranquilidade indispensável”. 

O reitor afirmou que este processo se justifica pela “natureza das declarações e a forma como afetaram o imprescindível ambiente de confiança que deve existir entre um professor e os seus estudantes, o conflito óbvio entre os valores da Universidade e a falta de valores que essas declarações implicam e o impacto sobre a imagem e valores da própria Universidade”.

Refira-se que esta não é a primeira vez que Paulo Lopes é alvo de contestação. No ano passado, o professor foi alvo de um processo de inquérito: a propósito do assassinato do estudante caboverdiano Luis Geovani, em Bragança, o professor referiu que este acontecimento não estaria a ser tratado como um ataque racista porque “o bando assassino era de ciganos”.

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