Passa este sábado, 2 de Setembro, o aniversário da morte do grande impulsionador do movimento sindical e das ideias socialistas em Portugal: José Fontana.
Era ainda o tempo da 1ª Internacional. E vibrava o impulso revolucionário da Comuna de Paris.
Em 1872, Fontana salientou-se como fundador e dirigente de um primeiro protótipo de central sindical portuguesa: a «Associação Fraternidade Operária».
E em 1875 ainda participou na fundação de um primeiro partido político operário, o antigo Partido Socialista Português.
Pelo meio, foi um dos responsáveis pela primeira edição portuguesa do Manifesto Comunista, em 1873. E foi um dos raros portugueses que se corresponderam directamente com Karl Marx e Friedrich Engels.
Livreiro
Nascido na Suíça, em 1840, José Fontana migrou para Portugal, seria ainda muito novo.
E quando faleceu, a 2 de Setembro de 1876, em Lisboa, era sócio-gerente da livraria Bertrand, no Chiado. Nesse meio conviveu com alguns dos mais notáveis intelectuais portugueses da época, como Alexandre Herculano e Teófilo Braga. Além, claro, do poeta socialista Antero de Quental, seu amigo e camarada na militância sindical e socialista.
Na mesma livraria trabalhava outro seu amigo e camarada, José Nobre França. Este apontaria para a história ter sido Fontana “o iniciador do movimento operário sob a sua primeira forma de associação de resistência”. E que “os estatutos da Fraternidade Operária são obra exclusiva dele”. Com o resultado de que, “no espaço de um ano, dez mil operários portugueses iniciaram nesta nação a luta de classes, organizada e consciente” [«O Protesto Operário», 13/04/1884, p.2].
Antes da ditadura de Salazar, as comemorações do 1º de Maio em Lisboa incluíam um momento de homenagem a José Fontana, junto à sua sepultura, no cemitério dos Prazeres. Mas a ditadura acabou por apagar essa memória histórica do movimento operário e sindical. À semelhança do que conseguiu fazer em relação a tantas outras…
Além da sepultura, existe um monumento a José Fontana no pequeno jardim em frente ao Liceu Camões, em Lisboa. Sito na praça que tem o seu nome.
A carta
No espólio de Karl Marx, sobreviveu a carta de José Fontana que aqui reproduzimos, segundo a transcrição de César de Oliveira, recolhida no Instituto Internacional de História Social, em Amesterdão. Transcrição essa que seguimos com a correção anotada por Fernando Piteira Santos, que consultou a cópia existente no antigo Instituto do Marxismo-Leninismo, em Moscovo (no tempo da URSS):
«Chiaro companh.º e Senhor Karl Marx
A nossa associação em Lisboa vai dar um sarau socialista para ajudar dois companheiros nossos perseguidos pelos industriais e governo por causa da greve do ano passado na classe dos manipuladores de tabacos. Este espectáculo ou sarau deve ser nos meados de Fevereiro de 1874.
Podemos contar com algum escrito seu para ser lido neste Sarau?
Aqui vai-se desenvolvendo muito a nossa associação e com muito espírito.
Peço me recomendeis a vosso genro e a sua senhora e sou com o maior respeito vosso
Companheiro e admirador
José Fontana
Lisboa, 20/12/1873
Rua do Chiado, 73»
Notas:
i) o genro de Marx a que Fontana se refere é Paul Lafargue, socialista cubano-francês que tinha estado em Portugal com sua mulher, Laura Marx;
ii) esta carta foi publicada em «13 cartas de Portugal para Engels e Marx», com “recolha, prefácio e notas” de César Oliveira (1978), Lisboa: Iniciativas Editoriais, pág. 51;
iii) a correção anotada por Piteira Santos consta do exemplar autografado desse livro existente no seu espólio [Biblioteca Municipal Fernando Piteira Santos - Amadora, Fundo Piteira Santos, Cota 32 TRE TRE].