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Um terço dos estudantes LGBTI sentem-se inseguros nas escolas

Um estudo divulgado pela associação ILGA aponta que pelo menos um terço dos alunos LGBTI não se sente seguro nas escolas e já teve comentários negativos de professores, auxiliares ou colegas. Associação apela a ambiente “mais inclusivo e atento às especificidades de jovens LGBTI+”.
Estudo destaca que “ambiente escolar mais inclusivo e atento às  especificidades de jovens LGBTI+ pode contribuir para  aumentar o seu bem-estar, reduzir o absentismo e potenciar  o seu desempenho académico”
Estudo destaca que “ambiente escolar mais inclusivo e atento às especificidades de jovens LGBTI+ pode contribuir para aumentar o seu bem-estar, reduzir o absentismo e potenciar o seu desempenho académico”

Foi divulgado, nesta quarta-feira, o Estudo Nacional sobre o Ambiente Escolar (Jovens LGBTI+ 2016/2017) da associação ILGA, que está disponível aqui.

O estudo teve como objetivo “recolher testemunhos de jovens LGBTI, e a partir das suas experiências avaliar e fundamentar a pertinência de políticas inclusivas mais ativas”.

“Quisemos saber se os/as jovens LGBTI+ se sentem aceites na escola, se ouvem comentários negativos, se são vítimas de bullying ou assédio, que tipo de recursos e apoio encontram, quais as suas aspirações e o seu desempenho académico”, refere o relatório na introdução.

Os questionários estiveram disponíveis online e foram respondidos em qualquer local: casa, escola, por telemóvel. “Podia responder ao questionário qualquer jovem que se identifique como LGBTI+ (o ‘+’ pretende abranger jovens em questionamento, mas também outras identidades não normativas, como ‘pansexual’ ou ‘queer’); teria de ter entre os 14 e os 20 anos de idade, e ter frequentado uma escola de nível básico ou secundário em território português durante o ano letivo de 2016-2017”. Na resposta ao inquérito, foram recolhidos 663 questionários, dois terços (67,2%) de jovens residentes em zonas urbanas, e cinco em cada seis (84,4%) a frequentar o ensino público, refere ainda a introdução.

36,8% sentem insegurança por causa da sua orientação sexual

O inquérito revela que as escolas “são, para muitos/as jovens LGBTI+, um ambiente de insegurança e desconforto, onde o insulto e outras atitudes negativas são frequentes”.

36,8% dos estudantes LGBTI+ sentem insegurança por causa da sua orientação sexual e 27,9% por causa da sua expressão de género . Cerca de um quarto evita frequentar balneários (33,6%), casas de banho (25,5%) ou aulas de educação física (22,2%). Em menor percentagem, outras áreas são evitadas.

“Um/a em cada seis (15,4%) faltou às aulas no último mês por sentir insegurança ou desconforto”, salienta o documento.

Comentários homofóbicos

A maioria (61,1%) dos e das estudantes ouviu escola comentários homofóbicos de forma regular ou frequente. Para 75,1% os comentários são feitos por colegas, para 62% os comentários foram feitos por professores e pessoal auxiliar.

Para quase metade, esses comentários causaram grande incómodo.

Na maior parte das situações (55,6%), docentes ou pessoal auxiliar que estavam presentes não intervieram e, quanto a colegas, apenas em 17,3% dos casos intervieram.

Assédio e Violência

O inquérito revela também que dois terços (66,7%) dos estudantes LGBTI+ que responderam sofreram agressões verbais, por causa da sua expressão de género (66,6%), da sua orientação sexual (55,0%) e um quarto (25,7%) por causa da sua identidade de género.

“Cerca de um/a em cada seis (17,9%) estudantes LGBTI+ sofreu assédio físico (ex: abanões ou empurrões) por causa de alguma característica pessoal: em 17,9% por das situações por causa da sua expressão de género, em 13,5% por causa da sua orientação sexual e em 7% por causa da sua identidade de género”, refere o documento.

Os estudantes referem também outras experiências negativas, como exclusão deliberada, ouviu rumores ou mentiras sobre si ou sofreram assédio sexual.

O inquérito revela também que “apenas um/a em cada três estudantes (31,9%) denunciou pelo menos uma vez estas situações ao pessoal docente e não docente da escola, e apenas um/a em cada dez (11,3%) o faz regularmente ”.

O estudo aponta que há uma probabilidade quatro vezes superior de ter faltado à escola, no último mês, por causa de discriminação em função da sua orientação sexual ou da sua expressão de género.

Apoio do pessoal docente e não docente

A esmagadora maioria (93,3%) aponta que é capaz de identificar pelo menos uma pessoa do pessoal docente ou não docente que apoia estudantes LGBTI e metade das pessoas inqiridas consegue apontar seis ou mais pessoas que apoiam.

Metade dos inquiridos (51,4%), “sente-se confortável para falar sobre questões LGBTI com um/a psicólogo/a ou assistente social da escola, ou então com algum/a docente (50,2%)”.

Conclusões

O estudo conclui pela “necessidade de uma estratégia mais ativa de intervenção no combate à homofobia e transfobia em contexto escolar, que abranja vários/as agentes das comunidades escolares: estudantes, pessoal docente e não docente (psicólogos/as, educadores/as sociais, bibliotecários/as, pessoal auxiliar), encarregados/as da educação”.

O estudo, que aponta diversas recomendações, destaca que “um ambiente escolar mais inclusivo e atento às especificidades de jovens LGBTI+ pode contribuir para aumentar o seu bem-estar, reduzir o absentismo e potenciar o seu desempenho académico”.

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