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Um livro contra o esquecimento
Uma memória fotográfica da Palestina antes da Nakba, 1889-1948” (1) com imagens que desmentem a ideia de um “território vazio”.
O projeto, coordenado por Teresa Aranguren, Sandra Barrilaro, Johnny Mansour e Bichara Khader, com prefácio do arabista Pedro Matínez Montávez, mostra uma realidade negada com demasiada frequência: a existência da Palestina não como abstração, mas como uma sociedade, cultura e território que foi ocupado e usurpado por colonos.
Nas palavras da jornalista Teresa Aranguren, conhecedora da região, “negar a existência do povo da Palestina foi premissa fundamental do movimento sionista, que pretendeu não apenas ocultar sua existência, mas até mesmo a lembrança de que havia existido”. Porém o que existe deixa rasto, e este livro recompila parte dessa memória que constata a existência, antes da ocupação, de centenas de milhares de palestinianos que foram expulsos de suas terras em 1948.
As fotografias mostram o povo palestiniano, sua vida quotidiana, assim como aldeias que foram destruídas pelos ocupantes e cujos nomes já não figuram no mapa. “Este livro recolhe fotografias que são pegadas daquela existência que se quis apagar. Não é um exercício de nostalgia, mas de afirmação”, observa Aranguren.
As fotos incluem desde as greves palestinanas contra o mandato britânico e o sionismo até cenas familiares de costumes da época, passando pelas participantes no Primeiro Congresso das Mulheres Árabes da Palestina, que se mobilizaram contra a Declaração de Balfour (1917), a qual contemplava a criação de um Lar Nacional Judaico na Palestina.
O acesso a uma parte das fotos foi facilitado pelo professor e historiador palestino Johnny Mansour, procedente da cidade de Haifa, o qual explica no livro que os habitantes palestinianos de Haifa “foram obrigados a expatriar-se em 1948 sem contemplação e com procedimentos muito selvagens, de tal forma que dos seus 75 mil habitantes palestinianos não ficaram mais do que 3 mil”.
Outras imagens foram recompiladas por Teresa Aranguren e Sandra Barrilaro, que viajaram para os territórios palestinaianos ocupados e recolheram fotos de familiares dos seus amigos e conhecidos em diversas cidades e povoados. Outras ainda pertencem ao arquivo fotográfico do hotel American Colony de Jerusalém, conhecido como Coleção Matson, com mais de 22 mil negativos e placas de vidro.
As fotos incluem retratos de celebridades, acontecimentos sociais e políticos, festas populares, fábricas, profissões. O livro recolhe também trechos da carta enviada ao primeiro ministro britânico, Winston Churchill pela delegação árabe que viajou até Londres para se opor à declaração de Balfour em 1921 e que afirmava: “O grave e crescente mal-estar entre a população palestiniana provém da sua convicção absoluta de que a atual política do governo britânico propõe-se expulsá-la do seu país com o objetivo de o converter num Estado nacional para os imigrantes judeus… A Declaração Balfour foi feita sem nos consultar e não podemos aceitar que decida o nosso destino…”.
A ocupação da Palestina e a expulsão da sua gente já era uma crónica anunciada nos anos vinte. Duas décadas depois, a Segunda Guerra Mundial e o Holocausto contribuíram para a tornar realidade. As suas consequências continuaram marcadas pelo sofrimento que se tem acentuado em pleno século XXI.
(1) Ediciones del Oriente y del Mediterráneo.
Artigo de Olga Rodriguez publicado no Outras Palavras em 11 de janeiro de 2016. Tradução de Inês Castilho.
Comentários
Compra do livro
Olá! Me interesso pela informação de onde este livro está disponível para compra. Faço parte da equipe de uma série documental sobre refugiadas no Brasil e creio que será de grande importância o conhecimento deste material. Aguardo o retorno, Att
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