281 mil milhões de dólares. Esta é a cifra dos lucros de BP, Shell, Chevron, ExxonMobil e TotalEnergies desde que há dois anos o governo de Putin se decidiu pela invasão da Ucrânia, o que levou a um aumento nos preços da energia e nas contas de eletricidade dos consumidores.
A Global Witness, responsável pelo cálculo, considera mesmo que estas empresas são as “principais vencedoras da guerra”.
Os lucros recorde devido à escalada dos preços da energia fizeram com que estas empresas tivessem, em 2023, pago em dividendos aos acionistas 111 mil milhões de dólares. Este é um valor “sem precedentes”, salienta esta Organização Não governamental, que compara a quantia com o que foi prometido na COP 28 em termos de investimento por causa das alterações climáticas aos países mais vulneráveis, concluindo ser “158 vezes superior”. Se estendermos a análise até aos dias de hoje, terão sido 200 mil milhões dados aos acionistas.
Do lado britânico, Shell e BP lucraram em conjunto 75 mil milhões, “o suficiente para cobrir todas as contas de eletricidades das famílias britânicas durante 17 meses consecutivos”. Ambas, sublinha-se, recuaram nos compromissos para com o ambiente.
Do lado norte-americano os lucros combinados da Chevron e ExxonMobil foram de 136 mil milhões. O saldo ecológico também aqui é altamente negativo. Com a compra da Hess pela Chevron e da Pioneer pela Exxon, a serem validadas pelo governo federal, a implicar um aumento de emissões de mais de 20%. Estas empresas emitiram mais poluição do que o Brasil, a Austrália e Espanha juntas.
Já no caso da francesa Total, os dividendos de 15 mil milhões que foram distribuídos aos acionistas seriam mais do que suficientes para pagar os estragos das tempestades e secas de 2022.
Critica-se assim o desvio dos lucros excessivos para os bolsos dos investidores milionários, o que faz “perder uma oportunidade única numa geração" de investir em energia verde e em empregos.
A Global Witness salienta que “o conflito está no âmago desta bonança de lucros e de dinheiro para os produtores de combustíveis fósseis”, lembrando-se a frase de António Guterres Secretário-Geral da ONU, que disse que estes “têm a humanidade presa pelo pescoço”.
Patrick Galey, investigador desta organização, sintetiza: “a invasão russa da Ucrânia tem sido devastadora para milhões de pessoas, desde civis ucranianos que vivem à sombra da guerra, aos lares de toda a Europa com dificuldades para aquecer as suas casas”. Mas “independentemente do que acontecer nas linhas da frente, as grandes empresas dos combustíveis fósseis são as grandes ganhadoras da guerra na Ucrânia”. Isto porque “acumularam uma riqueza incalculável à custa da morte, da destruição e da subida em flecha dos preços da energia” que agora gastam em dividendos e aumentos da produção de petróleo e gás “que a Europa não precisa e o clima não pode suportar”. Trata-se assim de “mais uma forma de a indústria dos combustíveis fósseis estar a falhar com os clientes e com o planeta”.