O Partido Popular da Igualdade e Democracia (DEM), sucessor do HDP que o governo tentou ilegalizar e é maioritário nas regiões do leste da Turquia com maioria da população curda, já apresentou 53 mil queixas sobre inscrição irregular nos cadernos eleitorais para as eleições autárquicas do fim de março.
"Milhares de agentes de segurança foram inscritos como eleitores, dando a mesma morada em zonas onde o nosso partido tem uma influência significativa", afirmaram em comunicado os representantes do DEM na Europa, Eda Duzgun e Eyyup Doru. A comissão eleitoral do partido descobriu que muitos eleitores de diversas cidades turcas e até do estrangeiro foram inscritos nos cadernos eleitorais das cidades de maioria curda com informação falsa com o objetivo de influenciar o resultado final da eleição. O resultado desse levantamento está disponível aqui.
Por exemplo, na cidade de Igdir, onde o HDP venceu as autárquicas de 2019 por menos de dois mil votos de diferença para a coligação pró-governamental do AKP e do MHP - tendo o Ministério do Interior destituído os autarcas eleitos no ano seguinte, substituindo-os por um seu representante - a comissão eleitoral do DEM descobriu agora 1.450 novos eleitores inscritos com a mesma morada, dos quais apenas 5 estavam recenseados na cidade em 2019. Outros 743 eleitores, todos homens, deram a morada da esquadra de polícia de Igdir, quando a lei proíbe que seja dada a morada do local de trabalho no recenseamento eleitoral. Nos últimos seis meses foram inscritos 4.840 eleitores de fora da cidade, dos quais 932 foram transferidos do distrito de Aralik, onde o AKP venceu com 56,4% dos votos nas últimas autárquicas.
Na cidade de Siirt, onde a diferença entre o HDP e o AKP foi também inferior a dois mil votos em 2019, e os autarcas eleitos foram também destituídos pelo governo de Erdogan, o DEM encontrou quase 6.200 novos eleitores inscritos nos últimos seis meses. Numa morada onde já estavam recenseados dez eleitores nas últimas eleições gerais, foram acrescentados mais 2.099. Noutra morada, a sede das forças especiais de polícia de Siirt, mais 1.989 eleitores foram agora inscritos, juntando-se aos sete que já tinham dado o mesmo endereço. E há outra morada que não constava do recenseamento anterior e que agora é dada como residência por 1.989 eleitores recém-inscritos.
O DEM dá outros exemplos de cidades onde se inscreveram milhares de novos eleitores nas mesmas moradas, algumas delas associadas a esquadras da polícia ou instalações militares e que nunca antes votaram naqueles círculos eleitorais, o mesmo acontecendo com outros milhares de inscrições de eleitores anteriormente recenseados no estrangeiro.
Das quase 53 mil queixas apresentadas pelo DEM em 31 comissões eleitorais, apenas 222 foram aceites. As autoridades justificaram os restantes casos como sendo de agentes de forças de segurança destacados para trabalhar durante o ato eleitoral nas respetivas cidades ou para ali enviados a pretexto de treinos militares ou outras operações.
O partido pró-curso não tem dúvidas que se trata de uma fraude eleitoral com o objetivo de entregar o poder local aos partidos do Governo e subverter a vontade de uma população com mais de quatro milhões de pessoas. Alem disso, acusam o governo do AKP-MHP de "tentarem impor um modelo de poder local podre, em que os burocratas nomeados usurparam o poder e a corrupção em larga escala é escondida pelo governo", em oposição ao "modelo de poder local democrático e transparente" que é seguido pelo DEM.